Arnobio Rocha Crise 2.0 As Jornadas, Primaveras, Indignados Pariram Trump, Bolsonaro…

As Jornadas, Primaveras, Indignados Pariram Trump, Bolsonaro…


Um mundo pior e desconhecido, sombrio e violento.

“Ó tempo! antecipaste-te a meus atos assustadores! Nunca alcançaremos a intenção fugitiva, se com ela não fizemos seguir o ato expedito.” (Macbeth – O Trono de Sangue – W. Shakespeare)

A eleição de Bolsonaro seria vista como piada, pelo menos até um ano atrás, porém a piada, virou prosa, assim como a vitória de Trump. Todos nós erramos muito em nossas análises, este blog se dedicou longamente em estudar os fenômenos das primaveras árabes, dos indignados espanhóis, das movimentações turcas e da ruptura fascista na Ucrânia, até o advento das jornadas de junho de 2013 no Brasil.

Desde sempre, nos posicionamos frontalmente contra todos esses movimentos, por entendermos, ainda que intuitivamente que seus desfechos seriam e, foram, contra os trabalhadores e contra o povo.

Tem mais de uma centena de artigos em que repito a mesma ideia, de que não há nada de novo, de que não é um novo sujeito social que se gesta, mas sim uma contrarrevolução urdida pelo Kapital.

Crise 2.0 que sacudiu o centro do Kapital, EUA e Europa, acabou por apontar uma saída ultraliberal, com contornos claramente fascistas. Aproveitando-se de um fato real, a crise de representação, o esgotamento da Democracia como tal, criou-se como alternativa, a ruptura radical, de governos sem nenhum compromisso com a democracia, com os valores humanos e sociais.

Os exemplos não param de brotar, no Brasil, a eleição de um medíocre capitão do exército, sem nenhuma expressão, ideia, projeto, nada que torne digno de traço de inteligência, ou algo que possa ser creditado como positivo. É de ficar estupefato, mas não é para gerar uma indignação tola, conformada, sim para repensar, como conseguiram eleger o pior dos piores?

Essa indagação deve ser a mesma nos EUA, quando elegeram Donald Trump, um fanfarrão midiático, sem que se compreenda, como foi possível, até pelo sistema rígido de partidos seculares, pouco afeitos à rupturas, ou aventuras, como essa.

As ruas de Paris estão tomadas pelos mesmos movimentos de ruptura, com a mesma “inocência” que empolgou as jornadas, ou os patos e paneleiros, brasileiros. É mais um teste de como se comportará um Estado em plena crise de representação, pouco mais de um ano de eleger Macron, um candidato de centro-direita.

Tem-se que aprofundar as análises, achar alguma lógica mais clara, para entender como um todo esse fenômeno, pois não é possível responder que foram eleitos do nada, ou apenas pelos movimentos das redes sociais. Há algo muito mais profundo, de convencimento (ilusão) de que o Estado, Política e Democracia, como conhecemos, já não respondem mais nada.

É óbvio que há um centro pensante, cientificamente trabalhando, estudando e aplicando políticas claras de convencimento completamente diverso do racional. Os aspectos mobilizadores lembram os do nazi-fascismo, o homem comum, o Zé Ninguém, que Reich descreve, voltou a ser valorizado, no sentido de tornar maioria o censo comum elementar, que facilita governos eleitos com concepções autoritárias, aparentemente contra o establishment , quando na verdade é o próprio que o gera e o mantém.

A ruptura se deu nesses últimos 10 anos, com intensa contribuição da esquerda e do centro-esquerda. A primeira por achar que as políticas do estado de bem-estar social se esgotaram e que a centro-esquerda se tornou conservador e não ousou ir além, com acordos “democráticos” que não ajudaram a combater a crise e ampliar a própria democracia.

A Segunda, Centro-Esquerda, se adaptou de tal forma ao estado burguês, que se afundou com a crise, com a necessidade de governabilidade e acordos com o Kapital que essencialmente oneram o Estado, corrompendo a máquina e seus agentes, tornando a prática algum comum e, que de fato é, na democracia burguesa.

As críticas, justas, da esquerda, embasaram parte desses enormes protestos, em todo o mundo, mas foram incapazes de dirigir qualquer um deles, todos, sem exceção, redundaram em governos ultraliberais, neofascistas, contra a democracia e a política.

Chegamos ao fim de 2018, passados dez anos da maior crise do Kapital, em 2005-2008, com o Kapital sua fração mais violenta e excludente, o kapital financeiro, em pleno comando. Trump em espécie, ou Paulo Guedes, no Brasil, demonstram que essa fração, resolveu assumir o controle, sem intermediários, usando generais e seus quartéis para massacrar e impor pela força o novo modelo.

O Novo Estado, a que denomino de Estado Gotham City, alguns falam em pós-verdade ou pós-democracia, se caracteriza fundamentalmente por ser contra o povo, contra a Política e contra a civilização. A ruptura se deu dentro do Estado, com uma burocracia fixa e sem controle da sociedade, que agiu e continuará assim, servindo aos interesses de um punhado de Bancos, que controlam o Mundo.

A realidade é local e mundial, não é algo isolado, o elemento comum é a “Ordem”, ou seja, o judiciário como gendarme do Kapital. O Estado de Direito, os direitos humanos e sociais, são transacionados e diminuídos ao mínimo.

É essa a sombria jornada que resultou daquela outra.

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