Há segredos próprios que não contamos para nós mesmos, aqueles em que nossas mentes teimam em nos contar, mas a racionalidade, a moral social vigente impede de que se possa verbalizar. A luta entre psiquê, os arquétipos, e a razão, freiam os impulsos, impõe comportamento diverso ao que a natureza animal/humana faria em outra época ou momento.
Assim, nos equilibramos entre desejo e razão, a tensão permeia o ser humano, o comportamento esperado é disciplinado pelas leis, as normas sociais, a religião e a política. A dificuldade em entender quando acontece qualquer coisa fora desse “padrão”, quando o homem/mulher saí do seu metron (medida), transgrida, desobedece ao que é previamente convencionado e estabelecido.
Escrever é fundamentalmente se podar, é não dizer aquilo que se diria, o peso das letras, frases, torturam o espírito, o finge-dor aparece nos parágrafos e páginas. Refreada a natureza selvagem, a liberdade mais elementar, passa pelo crivo da moral que nos cerca, dificilmente vamos deixar aqui, exatamente o que pensamos, fiquem certos disso, moderamos tudo, censuramos a nós mesmos.
Contar uma história, um fato vivido será mitigado pela realidade, ou pelos impedimentos que nos impomos, as reflexões sobre: Quem lerá? Qual o entendimento sobre o que lerá? Quem participou do acontecimento não se sentirá traído pela inconfidência de quem escreve?
As barreiras dificultam a exata visão, às vezes até banal, mas a rígida ética não nos permitiria um deslize, uma leviandade, ou mesmo uma frase fora do contexto, para não destruir uma memória rica, daí guardamos para nossos embates íntimos, eventualmente compartilhar com alguém em que confiamos acima de tudo, que tenha a mesma solidez de formação ética que a nossa.
De tudo isso, era apenas para dizer que ao ouvir determinada música, ou reler um livro, ele desperta à memória de coisas espetaculares, mas que não vamos poder contar.
Fiquemos na curiosidade ou especulação do que seja.