“a crise constitui sempre o ponto de partida de grandes investimentos novos e forma assim, do ponto de vista de toda a sociedade, com maior ou menos amplitude, nova base material para o novo ciclo de rotações” (Marx – O Capital – Vol III).
Nos últimos dias ficamos chocados ao sabermos que os OITO homens mais ricos do mundo detêm riqueza igual a 3,6 Bilhões de pessoas, cerca de 50% da população do planeta. Depois somos informados de que os SEIS homens mais ricos do Brasil concentram em suas mãos a mesma riqueza de 100 Milhões de brasileiros, 45% da sua população. Porém se acrescentado mais dois irmãos Marinhos à lista, os OITO, chegariam à mesma riqueza de 50% dos brasileiros.
Ora, cabe a nós discutirmos mais uma vez a questão do capitalismo e sua concentração, especialmente em período pós-crise, em que a riqueza é expropriada de forma violenta das mãos dos trabalhadores e do povo e entregue aos seus verdadeiros “donos”, o Kapital. A condição sine qua non da saída da crise é a queima de forças produtivas, pois só a recomposição da Taxa de Lucro é que dará dinâmica ao novo ciclo do Kapital.
A maior consequência desse movimento é mais concentração com as fusões, as aquisições e o assalto ao Estado para que os impostos sejam entregues às grandes empresas. Medidas essas que obrigatoriamente levam a necessidade de planos mirabolantes de Austeridade, que resumidamente são os cortes gastos públicos em Saúde, Educação e programas sociais para que Estado entregue ao Kapital aquilo que retirou da sociedade como um todo.
Um punhado de bilionários tornam-se mais bilionários, mas não se preocupem, pois eles farão caridade através de suas fundações, que generosamente recebem descontos de impostos por isso (protegem inclusive as heranças de impostos), um sistema perverso de retroalimentação da riqueza. O que vimos hoje é o fenômeno repetido a séculos, não é novo, talvez mais concentrado, com menos sistemas protetivos aos mais pobres, mas é essa a natureza do Capitalismo.
Também não caía nessa ilusão de capitalismo “selvagem” ou “humano”, isso não existe, o movimento do Kapital é objetivo e consciente, o que pode diferir é ação política de resistência à ele. Quanto menor a resistência, mais “selvagem”, por outro lado, se há força dos trabalhadores, ele será mais “humano”, distributivo. Apenas a luta de classes é que efetivamente muda a dosagem de como o Kapital vai nos explorar, não a “consciência” do capitalista.
Como exigir consciência de um sistema excludente em que, por exemplo, QUATRO bancos detêm 72,4% do crédito? Ou os 10 maiores bancos do mundo são mais ricos do que 70% dos países do planeta. A racionalidade deveria ser a aliada desse campo, transformada em política de classes e de ação, não mera constatação ou apelo de que “nos explore menos”.
O traço comum desses momentos pós-crises paradigmáticas é a mudança do Estado, a troca de controladores ou a consolidação de uma fração do Kapital que já o dominava anteriormente, notadamente Kapital Financeiro. Nesse sentindo, o que se impõe hoje é a restrição da Política e da Democracia, o que na prática vivemos é apenas um simulacro dela.
Particularmente denomino de Estado Gotham City, o superpoder da Burocracia controlada e à serviço do Kapital, que prescinde de presidentes ou de deputados, meras figuras decorativas ou escatológicas que povoam a cena. Em rápida olhada veremos tais ícones histriônicos como Berluscone, Trump, Temer ou o prefeito-fake de uma cidade como São Paulo.
Um mundo em ebulição, a história não acabou, muito pelo contrário.