“Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda A vida é sonho,
e os sonhos, sonhos são”.
(A Vida É Sonho, Pedro Calderón de La Barca)
Esse ano não pode ter nenhuma retrospectiva pelo simples fato de ser ele parte de uma época que foi aberta em junho de 2013. Daquele desvario, desembocamos numa sucessão de horrores que nos assombra continuamente. Óbvio que não é inédito, aliás, é algo muito parecido experimentado pelos egípcios, os precursores das tais “primaveras digitais”, que voltaram a experimentar nova ditadura.
Portanto, seguiremos por muitos anos, uma sequência de quedas, enquanto 2013 estiver aberto. Esses doze meses apenas pioramos (muito), pois nos empurramos do precipício, enterramos a democracia e inauguramos o cinismo como categoria fundamental, afinal que coisa mais cafajeste do que os corruptos contra a corrupção?
Estes senhores do poder viraram nosso pesadelo, embarcamos numa jornada terrível de destruição do pouco de direitos sociais que o Estado de bem-estar social (ainda que mambembe) proporcionava ao brasileiro, mesmo que mal e porcamente, agora será ZERO. Em nome da Austeridade, esse governo retirará dos 99% seus direitos elementares para alimentar a elite preguiçosa do Capitalismo sem riscos, típica meritocracia nacional.
Por mais que tentasse um último texto mais ameno, a situação é tão devastadora que me é impossível falar de coisas boas, elas são oásis nesse deserto. Não há luz nessa escuridão de desvalidos. Conseguimos nos jogar abaixo sem paraquedas, tudo isso sob o sorriso da mídia e dos seus acólitos, que já sentindo na carne a burrice que cometeram, preferem sorrir amarelo. Todos pagarão, exceto os ricos locais, sócios menores do grande Kapital internacional.
Por mais que o egoísmo bata em nós e balbuciemos: “bem feito” ou “bem que avisei”, isso não adianta, somos punidos juntos, sem perdão.
Obviamente que muitos, desse lado, a esquerda, têm uma enorme responsabilidade sobre tudo que vivemos, pela arrogância quando governavam, pelo desprezo com os que alertavam para os erros e pelo abandono da luta, embriagados por um “poder” ilusório. Seguiam cegamente a linha, enquanto o outro lado pacientemente teceu sua rede de arrasta para nos destruir rapidamente.
Claro que não nos resta outro caminho do que lutar, buscar novas formas de nos organizar, resistir a avalanche, cuidar um dos outros, estabelecer redes de solidariedade e enfrentar o momento terrível. Essa é nossa tarefa e missão de vida, não nos é permitido não ter esperança, pois já perdemos praticamente tudo.
Que encerremos o 2013, para que voltemos a sonhar. Tomar nosso Brasil de volta.
“Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade”
(Prelúdio – Raul Seixas)