“Não é possível conhecer perfeitamente um homem
e o que vai no fundo de sua alma,
seus sentimentos e seus pensamentos mesmos,
antes de o vermos no exercício do poder,
senhor das leis”. (Antigona- Sófocles)
Nestes tempos de Olimpíadas, uma piadinha olímpica ajuda entender a realidade, diz que a Dilma será eliminada por um shidô, a punição que pode derrotar um lutar quando não marca pontos, que seja por falta de combate ou “falso ataque”. Parece bem certo que não haverá uma derrota por ippon ou wazari, nem mesmo yokô, a queda é “técnica”, o que torna algo ainda mais escandaloso o Golpe de Estado.
Do meu ponto de vista, o ippon na esquerda aconteceu em junho de 2013, exatamente ali, os ventos mudaram completamente, a direção foi nocauteada. Toda a direção do PT ao PSTU, passando por PC do B e PSOL, apenas para ficar nos partidos de esquerda. Também evidenciou o fim militante da burocracia sindical, que é incapaz de mobilizar nem mesmo seus dirigentes profissionais.
Esse vendaval da Direita atinge, com menor força, até mesmo o movimento de sem terras e demais movimentos sociais. A lufada de ar da vitória eleitoral de 2014, nem teve força para sustentar um novo governo, que tentou buscar um acordo com o Kapital através da nomeação de Levy, um tiro no pé, ineficaz e que ajudou a desmoralizar o próprio governo.
O avassalador processo de impeachment foi construído nesses últimos três anos, como uma carta na manga, em caso de derrota eleitoral, outra seria a cassação da candidatura via TSE. O caldo de cultura foi sacramentado com a demagógica e trágica versão mãos limpas, a tal lava jato, feita exclusivamente para criminalizar o PT e qualquer atividade Política no Brasil. O que também vai inviabilizando a própria Democracia.
Um novo tipo de Estado de Exceção está se gestando no país, dominado pela burocracia do judiciário, aliada a velhos políticos, legitimada pela manifestações contra a “corrupção”. Imagino quantos de boa-fé foram usados pelo poder da propaganda da Globo (em especial) e foram às ruas, sem perceber a seletividade dessa indignação.
O resultado é mais do trágico, um governo com marca do golpe na testa e da desmoralização iminente, pois foi completamente montado por velhas raposas corruptas, mas falando em nome do combate…à corrupção.
Seria cômico, se não fosse trágico.
Obviamente que desse lado, à esquerda, centro-esquerda, democratas em geral, há um sentimento tremendo de derrota e impotência. A agenda dos golpistas é de arrasar quarteirão, mesmo analisando que não haja consenso possível, mas se parte do que anunciam, for efetivado, o retrocesso social e institucional será de mais de 30 anos, voltaremos aos marcos dos anos de 1980, pré-constituinte. A única esperança imediata é que a base parlamentar dele é podre, unida apenas pela mesquinharia e corrupção via Eduardo Cunha, o retrato acabado desse “novo Brasil”.
Sinto que vamos começar quase do Zero. Depois das eleições municipais, um novo desenho se tornará mais claro. Antes, nada.
Da minha parte não vou alimentar nenhuma ilusão de que essa direção possa fazer qualquer coisa, ela faliu. Bobagem foi nossa, de esperar uma reação. Nada virá em curto prazo. A reconstrução será um longo processo. O massacre inevitável? Vamos recomeçar uma nova Direção? Nem na queda do muro de Berlim, ficamos tão órfãos. É preciso coragem, paciência histórica e muito estudo pra reconstrução da utopia perdida.
Fiz alguns textos, nas últimas semanas, pra ajudar no debate:
A Queda da Direção de Esquerda.
É Preciso Romper com o Marasmo.
Brasil – Cronicamente Inviável?
Mesmo que poucos queiram debater, continuarei tentando e contribuindo nesse esforço. Vou apostar nos coletivos difusos que estão surgindo e resistindo, se não caírem numa aventura, quem sabe não surja uma alternativa forte.
Vamos à luta, ou não.
Apenas através do centro podemos expressar as nossas qualidades. A razão e a intuição devem estar em equilíbrio para que possamos construir um mundo melhor. Não basta somente o desejo (esquerda) é necessário a também a ação(direita)