Hoje é quase impossível um debate com a mínima racionalidade necessária sobre a situação econômica e política do Brasil, ou melhor, da América do Sul, pois se repete o fenômeno na Argentina, Venezuela e Equador, por mera coincidência o “eixo do mal” na visão moderna da doutrina dos EUA. Mas a questão central é a Crise 2.0 (Melhor entendida na nossa longa análise sobre a Crise Cíclica do Kapital) e sua dinâmica que leva à Crise Política, desdobramento perverso me democracia mais frágeis.
Desde Agosto de 2010, ainda no governo Lula, venho repetindo que o Brasil começou a sentir com mais força os efeitos da Crise Mundial, conforme escrevemos aqui tantas vezes nos últimos anos, como no artigo de novembro de 2012, Crise 2.0: Brasil Está Em Crise?, em que deixamos claro quais os limites do Brasil:
“Olhando detidamente estes números (da evolução do PIB brasileiro) percebemos que houve um ciclo vicioso que vai de 2004 a 2008, cinco anos de intenso crescimento, que se interrompeu apenas em 2009 com o momento mais crítico da economia dos EUA e UE, que fecharam suas torneiras, o que ameaçou o mundo inteiro.
Diante da possibilidade de queda geral, Lula, teve papel fundamental em segurar firme as rédeas do Brasil, com um acordo, ainda precário, com os BRICS, impulsionou o G20, que acabou substituindo o G7, ampliando assim a capacidade política e de intervenção no debate. Para isto, a equipe econômica do governo Lula ousou muito, soltou alguns freios, apostou firme em investir em plena crise. A resposta foi imediata, em 2010 e 2011 a economia cresceu alto e se manteve em bom patamar, no ano seguinte.
A aposta de Lula, seguida por Dilma era de que ou EUA ou UE superariam a crise em três ou quatro anos, o que parecia plausível, naquele distante novembro de 2008, então o Brasil, soltou às amarras da economia para crescer e aguardar que um novo ciclo se iniciasse. O que percebemos é que o auge deste processo se deu até julho de 2010, o ciclo vicioso começava a ter problemas, nomeadamente a paralisia do mercado mundial e a inflação que ameaçava os crescimento interno.
Em agosto de 2010 começa um lento processo de ajuste, uma tentativa de acomodação “suave” do Brasil diante da Crise, se percebe que a duração da crise econômica mundial seria mais longa, nem os EUA e muitos menos a Europa deu sinal de que retomaria um ciclo virtuoso. Ao contrário, os constantes QE (expansão da base monetária) exportava a inflação do centro para o mundo, o que dificulta em muito os ajustes locais.
Dilma recebeu o governo bem melhor do que Lula recebeu de FHC, mas numa turbulência mundial muito maior, a crise, na Europa, por exemplo, ameaça se tornar um cenário de recessão longa. O EUA têm uma tímida retomada, que passa a ser ameaçada pela Zona do Euro, conforme falamos no artigo Crise 2.0: Cenários Graves da OCDE . São dois anos de voo baixo, lutando a duras penas para não pousa de vez, com resultados ainda significativos, como o mercado de trabalho em expansão”.
A citação é longa, mas é preciso localizar no tempo e espaço, a Crise, seus sinais e a luta travada, com resultados bem inferiores aos anos de Lula, o que leva a um descontentamento generalizado contra o governo, cujo ápice aconteceu nas “jornadas de junho de 2013”. Aquele episódio é o “girar da chave” do humor contra o governo, até então ainda se alimentava expectativas e perspectivas de que a retomada seria possível. A paciência se esgotou todos os erros e falhas éticas do PT, no lugar comum que se transformou o partido, que em nome da governabilidade fez todos os acordos improváveis e alguns francamente inaceitáveis.
Enquanto havia prosperidade, mesmo olhando torto e com má vontade, o PT, era tolerado, mas com a Crise todas as mágoas e cobranças desaguaram, tendo na Internet o maior veículo desta revolta. A extrema inabilidade de comunicação, em especial apostar que através da mídia tradicional, o contraponto seria feito, que se efetivaria através de aparições em jornais ou TV, o que efetivamente não aconteceu, pois o controle deles pela oposição, parece óbvio que não daria espaço ao governo.
Ainda assim, numa disputa violenta, o PT conseguiu vencer mais uma vez as eleições presidenciais, com uma margem mínima e com a perda completa da maioria no Congresso Nacional. A produção em série de escândalos, devidamente editados e selecionados os trechos que mais pesam contra o partido, seus torpes aliados e governo, levam a mais repúdio, claro que puxado pelos setores das classes mais abastadas e médias, mas que atingem aos trabalhadores, pois não contraponto, não há comunicação contraria ao que se é dito e publicado, depois massificado, no que se convencionou a culpar Dilma, desde o simples ônibus lotado ou metrô, insegurança pública, até as coisas que efetivamente ela tem sua dose de responsabilidade, os rumos da Economia.
Em dezembro último escrevi o artigo Brasil corre risco de novas Trevas? , em que aponto os rumos preocupantes do Brasil diante dessa consolidação extremamente negativa da imagem do governo, sua paralisação e incapacidade de responder rapidamente aos escândalos, reais (Petrobrás) e imaginários (tudo culpa da Presidente). A ação do governo ainda foi piorada pelo parlamento, dirigido por “aliados” mais interessados em causar mais problemas (Não votar o orçamento ou qualquer medida de ajuste proposto por Dilma), ganhando simpatia dos descontente e da mídia e assim se livra das graves acusações que sofrem como as contra os presidentes do Senado ( Renan Calheiros) e Câmara (Eduardo Cunha, inacreditavelmente eleito pelo PSDB, DEM e PMDB).
Ali, escrevi que “Estamos num limiar de um grande desastre e todos os indícios de que ele vai acontecer estão dados, tudo caminha à passos largos para o abismo, nenhum voz de bom senso parece se levantar. Os radicais de extrema-direita, um Tea Party mambembe, e seus neo-aliados de Direita (PSDB/DEM) querem provocar uma grave crise institucional, a tentativa é clara de inviabilizar a posse de Dilma, que foi eleita democraticamente num duro segundo turno. Em caso de posse, a estratégia será criar todas as dificuldades possíveis para que ela não governe.
As provocações são feitas dia após dia, enquanto reina silêncio do lado de Dilma e seus aliados. A tática é ampla, uso da CPI, confronto no parlamento, inclusive usando assessores e partidários para agredir, a fim de serem agredidos de volta, para causar mais mal estar e comoção social. As manifestações semanais convocadas estão esvaziadas, mas ganham amplo destaque midiático, fortalecendo os vínculos golpistas entre a mídia e oposição. Figuras histriônicas, como Lobão, dão a tônica da desmoralização destes atos que, em regra, levanta cartazes pedindo Golpe Militar”.
Lembrei ainda que “Parece claro que a tática do Caos e Desordem, utilizada amplamente na Ucrânia, um ano atrás, está sendo repetida aqui, por enquanto não temos, ainda, uma Praça Maidan (Ucrânia), nem uma Praça Tahir (Egito), para virar o símbolo do golpismo, mas o método é o mesmo. Meses atrás escrevi sobre a inconfidência de Soros, de como ajudou no golpe que derrubou o governo eleito da Ucrânia (Soros – O “Exportador” de “Revoluções”, digo, Golpes.), quem está por trás desta marcha de insensatez no Brasil?
Mesmo com todos os erros cometidos pelo governo do PT, ao contrário do que previam, não houve quebra da ordem ou da democracia, quem, mais uma vez, se propõe ao golpe é a Direita, usando de velhos artifícios, antes testados contra Getúlio, depois com Jango. Criar a sensação do “mar de lamas”, de caos, de que o país vai “virar Cuba, Venezuela” ou qualquer fantasma, trazidos ao debate pelos delirantes. Criando uma horda de celerados que agridem qualquer discordante nas redes sociais e até em eventos sociais, naquilo que venho chamando de “Assédio Social””.
E deixo ainda mais claro que a questão em jogo é o fim da DEMOCRACIA: “O alvorecer do novo neoliberalismo, o Estado Gotham City, que emerge dos escombros da Crise 2.0, não quer saber de Democracia e Política, esta coisa do “passado”, para destruir estes valores tão caros, acendem o fogo da “corrupção” do Estado, de sua falência. No meio de tudo isto, joga-se na lata do lixo da história, anos e anos de construção de sociedade, o que importa ao Kapital é sua reprodução (A Democracia é um Estorvo para o Kapital?).
Nada pode impedi-los, o governo do Brasil, muito menos os BRICS, quem não estiver “em linha” com a nova ordem, vira eixo do mal, ou é destruído de forma externa, guerra e enfrentamento, ou interna, com golpes e esfacelamento do Estado Nacional, promovidos pelos aliados locais do Grande Kapital. A Democracia não lhes agrada, aliás é um empecilho aos seus planos (Democracia para Quê?).
Há pouco espaço de manobra, mas quem quer o Brasil com Democracia, esqueçamos os embates momentâneos, precisamos nos unir para defender a Democracia e isolar os fascistas de plantão”.
Sinceramente não sei o que virá em breve, mas a cristalização do Caos é bem certa, não há reação Democrática, os golpistas se armam, veja que Serra pede o impeachment amplo com eleições, Aloysio Nunes, quer que “Dilma SANGRE em praça pública”. As convocações do PT, PC do B, CUT, não parecem ter consistência e que estabeleça diálogo mais amplo. Do outro lado se uniu politicamente todos os críticos contra o governo, desde os mais honestos aos mais golpistas, capitaneados pela mídia e “poder invisível” que coordena via internet ações planejadas, espalhando o caos, em forma de informações duvidosas.
Obviamente que o PT, Dilma, são responsáveis por muitos dos erros apontados, mas também são responsáveis por muitos e grandes acertos, o que se precisa é de um pouco mais de boa vontade e de diálogo, de debate, argumentação. Ao mesmo, não se deve cercear qualquer liberdade de crítica e manifestações (de rua, de panelaços, gritos, vaias, xingamentos, cada coisa dentro da educação e limite de cada um).
Entretanto, não sejamos tolos, o que se pede não Democracia, é golpe, contra governo eleito democraticamente, o modus operandi “Ucrânia”, está bem na nossa frente, será que o MASP será a nossa triste Praça Maidan?
Ou vivemos a Democracia e a Política, ou teremos as trevas fascistas de volta.