1184: #Redes e #Ruas pariu a "Nova Direita"?

As revoltas de junho levaram ao surgimento da Nova Direita
As revoltas de junho levaram ao surgimento da Nova Direita

 

Venho trabalhando intensamente desde junho de 2013 para compreender os vários significados, quais os signos e os fenômenos trazidos à políticas pelas manifestações no Brasil daquelas jornadas. Neste blog há pelo menos uns 50 artigos que tratam do tema, fruto das reflexões e debates com pessoas que estiveram nas manifestações e de interações nas redes sociais (em especial Facebook e Twitter). Algumas conclusões foram bem claras:

1) Há um centro controlador e propulsor de todas as manifestações e revoltas no mundo, da “Primavera Árabe” à Ucrânia, passando pelo Brasil e Turquia;

2) As revoltas foram capturadas ou melhor geraram uma “Nova Direita”, a expressão visível nos EUA é o Tea Party, anti-Estado ( ou Estado Gotham City), contra a Democracia e contra a Política;

3) A Ultra Esquerda assimilou um discurso similar ao Tea Party, com os mesmo valores contra a Democracia e a Política;

4) Exceto no Brasil, por enquanto e por muito pouco, todas as revoltas significaram o triunfo da “Nova Direita”, houve um retrocesso institucional tremendo em todos os países que passaram pela “revolta da redes sociais”;

Hoje vi uma matéria na Folha de São Paulo sobre as conclusões do filósofo Paulo Arantes, que vão no mesmo sentido das minhas observações, claro que com mais talento e precisão. Ele se refere especificamente às jornadas de junho de 2013, concluiu que dela surgiu a “Nova Direita” no Brasil. Numa matéria da jornalista Eleonora de Lucena que acompanhou uma palestra do filósofo ao 16º Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação de Filosofia, em Campos do Jordão. Vou reproduzir os textos da reportagem, pois são essenciais ao debate.

Segundo Paulo Arante “O “surto de impaciência” revelado pelas manifestações de junho de 2013 “provocou um surto simétrico e antagônico que é o surgimento de uma nova direita, um dos fenômenos mais importantes do Brasil contemporâneo. Uma direita não convencional, que não está contemplada pelos esquemas tradicionais da política”.  Que a exemplo do Tea Party, a “Nova Direita brasileira segue o padrão comum, pois  “A direita norte-americana não está mais interessada em constituir maiorias de governo. Está interessada em impedir que aconteçam governos. Não quer constituir políticas no Legislativo e ignora o voto do eleitor médio. Ela não precisa de voto porque está sendo financiada diretamente pelas grandes corporações”

Ora, recentemente, fiz exatamente este mesmo raciocínio “O que depreendo destas observações é que há um centro organizador que deu dinâmica e mantém os grupos e contatos em todos estes países, com apoio material e logístico. Segundo, o resultado prático é um programa conservador, de Direita, que se impõe pela força. O Ultraliberalismo acaba servindo de ponte entre aparentes extremistas de Esquerda e Direita, a pauta comum tem como base central o questionamento da Democracia e da Política. O aparente desejo de mais participação popular não se provou prática, basta ver, por exemplo, a agora candidata Marina, defende: BC independente, revisão da CLT, questionamento de políticas públicas, mudança do Pré-sal (que inclusive dará mais dinheiro para Saúde e Educação). Onde esta pauta foi decidida? Era o que se pedia nas ruas em junho de 2013? ( As Revoltas Capturadas pela Direita e a Alternativa Marina.)

Paulo Arantes diz que este núcleo de pensamente e ação “se dar ao luxo de ter posições nítidas e inegociáveis. E partem para cima, tornando impossível qualquer mudança de status quo. Há uma direita no Brasil que está indo nessa direção”. Ademais, “Fora o período da eleição – que é um teatro em se engalfinham para ganhar– um lado só quer paz, amor, beijos, diálogo, tudo. Uma vez que se ganha, as cortinas se fecham e todo mundo troca beijos, ministérios – e governa-se. Mas há um lado que não está mais interessado em governar”. (Grifo meu). Por fim ele diz que todos foram apanhados de surpresa: “Ninguém esperava que isso acontecesse, nem os próprios protagonistas, nessas proporções. Foi absolutamente inesperado. Não temos mais ouvido para decifrar qualquer sinal de alarme”.

No mesmo sentido, também escrevi que “Os signos destas manifestações foram e são conservadoras, os grupos de esquerda são extremamente minoritários, o que se reflete inclusive nos seus números eleitorais. O PT ficou no meio do caminho, agora parece acordar para realidade, terá tempo de virar esta onda?”.

No segundo turno das eleições presidenciais do Brasil houve um certo deslocamento de parte importante do cyberativismo rumo ao PT, uma reflexão madura que aproxima este setor do mundo real, da luta concreta. Este esforço pode ajudar inclusive uma melhor compreensão das redes sociais, de como podemos lutar com melhor qualidade neste novo embate, nesta nova arena, amplamente dominada pelas manipulações mais rasteiras e de atraso políticos, os verdadeiros “Zumbis sociais”, fenômenos que tratamos em dois momentos: Os Zumbis das Redes Sociais. e O Paciente Trabalho para Plantar o Ódio nas Redes Sociais .

A vitória do PT no Brasil ganha especial significado, pois  conseguiu barrar o avassalador avanço de uma “Nova Direita” no mundo e seu “Novo Estado” (O Estado Gotham City), pelo menos momentaneamente nos livramos da barbárie do neoliberalismo redivivo, mas quanto tempo ainda resistiremos sem nos organizar efetivamente? A “Nova Direita” se articulou, quando faremos o mesmo?

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

6 thoughts on “1184: #Redes e #Ruas pariu a "Nova Direita"?

  1. Muito bom a reflexão que você faze e que o Paulo Arantes também. É uma leitura mais apurada do que muitos dizem. Quando da vitória da Dilma, muitos questionaram ( eleitores do Aécio, os que votam contra o PT somente pela pasta da corrupção ou que tem uma ideologia afinada ou influenciada pela grande mídia local) sobre as manifestações e que não era somente pelos vinte centavos, questionando esse. Pois bem, parece que para muitos jovens, tanto que ascenderam no governo lula e ganharam independência financeira, foi graças a seu trabalho e a pouco do estado. Releva que o primordial é crescer a economia. Claro, há embate ideológico nessa questão. Gostei dessa parte do Paulo quando fala que ” “Nova Direita brasileira segue o padrão comum, pois “A direita norte-americana não está mais interessada em constituir maiorias de governo. Está interessada em impedir que aconteçam governos. Não quer constituir políticas no Legislativo e ignora o voto do eleitor médio. Ela não precisa de voto porque está sendo financiada diretamente pelas grandes corporações”. Agora é interessante essa fala depois da eleição e ver como o Estado pode garantir também melhorias que chegam a essas pessoas. Talvez a simples melhoria na qualidade na saúde, educação e serviços de transporte e lazer pode mudar um pouco isso. Talvez também, é sintético a questão do estado gothan city e a percepção de que o Estado nada serve.

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