As famosas manifestações da Primavera Árabe, com auge no Egito, rapidamente se estenderam à Europa e chegaram ao Brasil. Para mim ficou claro que todos estes movimentos que questionam o sistema estabelecido, mas não propõem alternativa de poder ou de governo acabam em imensa frustração e despolitização, alimentado a direita, que galvaniza a revolta para seus interesses. Assim se deu na Espanha, depois na Ucrânia com os neofascistas no poder.
Pouco ou nada adianta ficar dizendo quem intuiu primeiro de que as “Xornada dos xofens”, de junho de 2013, iria nos levar ao abismo agora em 2014. O momento é de Ação e Política, pois vivemos uma guinada conservadora e reacionária, os ventos de 1989, da queda do muro de Berlim, que nos desarmaram politicamente, não cessaram. Pouco trabalho político de combate ao conservadorismo foi feito nos 12 anos de governo do PT.
Além dos erros históricos de nos tornar iguais aos que lutamos contra, aceitando o sistema corrupto e suas regras, sem contestação. O vaivém eleitoral, as manobras, os caixas dois eleitorais, o baixo jogo do parlamento, o rebaixamento programático e os acordos em nome da governabilidade. Por melhores que tenham sido as intenções, alguns grandes avanços sociais conquistados, mas politicamente retrocedemos, nos tornamos comuns e mal vistos.
Parece óbvio que não seríamos trocados pelo PSDB, mas uma alternativa “limpa”, saída de nosso convívio, mesmo que mais conservadora, pode nos derrotar, é fato. A questão é se teremos tempo e capacidade para desmontar a bomba, de demonstrar o quanto é até mais retrógrado o voto em Marina. E também se o PT quer efetivamente romper com a inércia, voltar ao combate político e ideológico. Em política não há vácuo, é a lição clara.
A direção política do PT envelheceu de forma assustadora, o diálogo com esta nova geração que surge é truncado, poucos compreendem as razões políticas e ideológicas ou as opções de luta e vida que os velhos quadros tiveram, alguns preferem reduzir as questões a um moralismo tolo, muito próximo do que sai nos jornais e revistas vinculados ao grande Kapital. O embate é bem mais complexo
Há aqueles que foram construir pequenos partidos, radicalizados na forma, mas conservadores no conteúdo. Pouco ou nada de novo, diferente, se conseguiu de alternativo fora da experiência do PT, esta é a realidade. Por fim, surgem os liquidacionistas internos, que enxergam, em toda crise, a necessidade de “refundações”, velha e única tática das lições da esquerda europeia, que levou ao fim os grandes partidos de esquerda na Europa, hoje não passando de aglomerados ou “movimentos”.
O crescimento de Marina, uma tendência forte de vencer as eleições não é mero acaso ou fruto de uma comoção com a morte de Eduardo Campos. Na verdade é um movimento que vem se acumulando, uma insatisfação, justa ou não, que foi sendo trabalhado diuturnamente em todas as mídias, nas tradicionais, que jamais aceitaram um governo do PT, mas em especial nas redes sociais, o paciente trabalho de alimentar ódios, versões enviesadas, e óbvio que explorar erros e contradições cometidas pelo PT.
A plataforma desta opção Marina, em particular, é bem escondida, apenas a imagem de pessoa que não é do sistema, quase um ícone, guru de um novo tempo é explorada. Por trás dela existe um projeto obscuro, extremamente conservador, preparada por velhas raposas, pouco conhecidas do grande público, menos ainda pelos mais jovens, que não viveram os anos de Collor ou FHC. A grande mídia não fará nenhum esforço para desmitificar Marina, de como governaria sem partido, sem base parlamentar. Nem a mídia alternativa parece ter força ou vontade para fazê-lo.
As coisas não aconteceram por acaso ou ao acaso, elas foram sendo construídas, com nossa ação ou falta dela. Teremos como reverter o quadro atual, a tendência que se apresenta?
Perfeito mais uma vez
É reverter o quadro ou embarcar numa aventura sombria que pode despedaçar o Brasil.