“Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você” (Friedrich Nietzsche)
Estes últimos anos em que escrevi a série sobre a Crise 2.0, em muito me ajudou a compreender que alguns fenômenos tidos como do “passado”, voltam sempre para nos assombrar. Assim é a questão do neofascismo, que surge e ressurge em todas as épocas de graves crises, ganhando força e se tornando “alternativa” viável de poder na Velha Europa, com índices altíssimos de votos e em alguns países exercendo as funções vitais nos governos.
Os números de votos e de representação da extrema-direita é assustador para o próximo parlamento europeu, o que a frase de Nietzsche tão bem define, pois a UE se fixou tanto no abismo nos últimos anos, que o abismo passou a olhar para ela, exercendo uma atração irresistível. Durante todo o período mais grave da explosão da crise, a Alemanha impôs duros ajustes e condições aos países mais pobres, jogando-os no gueto.
Via Troica( FMI, BCE e Comissariado UE), Merkel, a máxima representante dos banqueiros alemães, pouco se importou com as condições sociais e/ou impactos das políticas restritivas, a Espanha, por exemplo, chegou aos incríveis 26% de desempregados e entre os jovens aos 53%, além da falência de empresas e das famílias, com graves casos de suicídios, por perda de moradia com as retomadas forçadas das hipotecas. Uma realidade semelhante na desintegrada Grécia, com os mesmos índices de desemprego, com o agravante da dissolução do estado, hordas neofascistas patrulham as ruas de Atenas atacando estrangeiros e sem tetos.
A Comissão Europeia leva à frente esta “união” econômica a ferro e a fogo, a resposta política é que quase 20% dos parlamentares eleitos simplesmente NEGAM a validade da UE, é um conjunto heterogêneo, mas com um elo condutor, o neofascismo. Na França, a Extrema-Direita, se tornou a primeira força com 25% dos votos (em 2009 tiveram 7%), agora com o dobro dos votos do Partido Socialista. Na Inglaterra, tradicional reduto dos Eurocéticos, a votação destes grupos radicais chegou aos 27%. Dinamarca, o Partido do Povo também teve 27% dos votos. Na Holanda, o Partido da Liberdade (???) quer expulsão dos muçulmanos. Na Hungria um partido neonazista que defende que os judeus tenham “registro especial” nos seus documentos, obteve 15% dos votos.
A grave crise abalou a UE, como escrevi ontem no artigoO “Aborto” Político da UE, aliada a “Toda a sorte de ajustes e dependência completa da Alemanha, em particular, criou um ambiente terrível politicamente, o que se reflete na atuação renovação do Parlamento Europeu, um verdadeiro desperdício de energia e dinheiro, diria mais, uma farsa política, a autonomia é próxima a zero, ali apenas se cumpre os caprichos e desejos dos bancos Alemães e Franceses, que falam pela voz de Ângela Merkel, que tantas vezes impôs o que quis ao parlamento e ao comissariado europeu em Bruxelas. Nada se vota que não seja sob o controle destes senhores, nada, o que o desmoraliza como “poder”.
O que se percebe não é a UE que se aproximou do Abismo, mas o Abismo que a olha apaixonado. Quem derrotará quem?