O professor Andrew J. Bacevich é professor na Universidade de Boston escreveu um artigo para o jornal Los Angeles Times, que foi republicado no jornal O Estado de S. Paulo, em que fala sobre o fechamento da famosa prisão Abu Ghraib, no Iraque, que era o símbolo do medo. Era lá que Saddam Hussein prendia e torturava seus inimigos, virou sinônimo de crueldade e prova última do regime, mas também entrou no ideário americano como o novo símbolo da Liberdade que iria se instalar no Iraque e no Oriente Médio.
Como nos lembra o professor Andrew no seu artigo que “Dez anos atrás, o presidente George W. Bush prometeu que os Estados Unidos fechariam e depois “demoliriam a prisão que era um símbolo adequado ao novo começo do Iraque”. Substituir a penitenciária seria algo melhor e mais humano, algo que justificaria a empreitada em que os EUA estavam então engajados. Bush deixou a vida pública e as forças americanas saíram do Iraque sem cumprir essa promessa, ao lado de tantas outras”. Se a prisão era o marco do terror civil e militar de Saddam, seria um novo momento do país, uma dádiva de Liberdade para os iraquianos, dada pelos americanos.
Entretanto, prossegue o artigo, que “Mais do que qualquer outro evento isolado da guerra do Iraque, foi o escândalo de Abu Ghraib, em 2004, que tornou essa distinção insustentável. Os soldados americanos que tão grotescamente abusaram de detentos iraquianos nessa prisão expeliram o que restava de ar no balão da libertação”. O que era para ser o norte de liberdade tornou-se a maior nódoa de desrespeito elementar dos direitos e passou a significar o verdadeiro desejo dos EUA no país, um centro de medo e tortura, de intimidação contra seus “inimigos”.
Abu Ghraib, Guatánamo ou prisões no Afeganistão, em bases americanas no Paquistão ou em qualquer país ocupado apenas revela o caráter destas invasões. Ali não se “exportou” a democracia, mas exatamente a visão de democracia que os EUA têm, seu rosto mais selvagem, de exclusão, do medo e do controle das pessoas e das vidas. Qualquer coisa fora disto é cadeia, supressão de direitos, afinal para que direitos em guerra? O Estado de Exceção ou o Direito do Inimigo praticado explicitamente em qualquer lugar do mundo. As imagens chocantes apenas demonstraram a perversidade continuada e prolongada destas guerras por petróleo, riquezas e hegemonia mundial.
Como bem nos diz o professor Andrew, “Agora, o fechamento da prisão desnuda a plena magnitude do fracasso americano no Iraque. O que levou as autoridades de Bagdá a agir foi seu medo de que militantes sunitas tomassem Abu Ghraib. A “libertação” dos que estavam presos ali engrossaria as fileiras da insurgência que está mergulhando novamente o Iraque numa guerra civil. A estabilização parcial atribuída ao chamado reforço de tropas orquestrado em 2007-2008 – posteriormente chamada de “vitória” – está hoje quase totalmente desfeita”. Por fim nos alerta, ele, que “São os iraquianos e não os americanos que terão de lidar com as consequências, é claro. Mesmo assim, essas consequências deveriam fazer pensar os que defendem uma intervenção americana em lugares como Síria e Ucrânia. Para quem quiser ouvir, as lições de Abu Ghraib são inconfundíveis” ( Grifos meus – Estadão, 23/04/2014).
O maior engano é achar que houve qualquer aprendizado, por parte do EUA, ao contrário, aprofundaram o método de terror no mundo, prova maior é o que preparam na Ucrânia, ajudando grupos neonazistas a darem um golpe de Estado, na luz do dia, com uma aparente “face legal”, na atmosfera Praça Maidan, da “revolta digital”, seja lá o que isto possa significar. Passado os eventos “românticos”, os verdadeiros golpistas saíram da sombra, a visita do chefão da CIA na semana passada, agora Joe Biden oferecendo esmolas, algo como US$ 50 milhões, para manter os golpistas no poder e barrar a Rússia.
É esta a liberdade do Estado Gotham City, em que a Política e a Democracia são substituídas pela farsa, pior, estão sendo destruídas pelo apelo da “Política de Segurança” e sendo entregue o leme da condução aos burocratas civis e militares, públicos ou privados, numa fusão nunca vista, sem que precisem prestar contas de nada a ninguém. Neste contexto, a Liberdade é a palavra de ordem mais ouvida, mas de qual Liberdade estamos a falar? A de Abu Ghraib, Guatánamo? Da farsa da Praça Maidan, Tahir? Do Facebook, Twitter?
A antiga ideologia da “Pax Americana”, triunfante, antes da Crise 2.0, deu lugar a “Liberdade by EUA”, que trará à luz o Estado Gotham City, para alegria dos banqueiros, dos burocratas e dos “Indignados”.