944: EUA Namoram Caos

EUA: Fechado para Balanço
EUA: Fechado para Balanço

Durante a última crise entre o Governo Obama e os Republicanos, em particular os setores Tea Party dele, em agosto de 2012, estava escrevendo a séria sobre a  Crise 2.0, depois transformada em livro (Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded) num dos artigos escrevi que “a política fiscal de grandes isenções, simultaneamente aos QEs, levou ao que se chamou de “Abismo Fiscal”, que é uma bomba relógio, que explodirá nas mãos do novo Presidente, logo em 1º de Janeiro de 2013. Durante o impasse de votação do orçamento de 2012, em agosto de 2011, os Republicamos, em ampla maioria, impuseram um duro golpe ao governo Obama, votaram uma proposta de remendo fiscal que imporá um corte compulsório nos gastos de 2013 na ordem de 600 bilhões de Dólares. O que obrigará o governo a corta totalmente todos os incentivos fiscais que deu às empresas para que estas retomassem a produção”.

Um acordo temporário em Dezembro de 2012 e outro em janeiro de 2013 deu mais nove meses de fôlego ao Governo Obama, entretanto a relação tensa com a maioria Republicana na Câmara entornou o caldo no último dia 29 de Setembro, que é o último dia fiscal dos EUA, ali também se deve, em tese, fechar o novo orçamento e dotações para o novo exercício fiscal de Outubro de 2013 à Setembro de 2014. Sem acordo nenhum, o governo Obama está sem orçamento e dotações ordinárias, o que levará a ampla paralisação de serviços e da economia, incidindo diretamente no PIB, se permanecer assim, como parece, até o dia de 17 de outubro uma queda de 0,15% do PIB, um prejuízo grave que corresponde a quase 10% do crescimento do ano.

Uma análise de Paul Krugman de ontem ele é enfático em alguns pontos, sobre a irracionalidade dos Republicanos: “Pode ser que o mundo termine assim – não num big bang, mas num ataque de cólera”.  Depois ele desce às questões cruciais e importante para ser entendido como um alerta de um caos geral na economia mundial, não apenas nos EUA:

“Os mercados financeiros tratam os títulos da dívida norte-americana como o ativo mais seguro. A presunção de que os EUA sempre honrarão sua dívida é a viga-mestra que sustenta o sistema financeiro internacional. Em particular, os títulos do Tesouro – obrigações de curto prazo dos EUA – são o que os investidores procuram, quando querem contrapartidas absolutamente sólidas contra perdas em empréstimos. Estes papéis são tão essenciais que, em momentos de estresse severo dos mercados, eles às vezes pagam taxas de juros ligeiramente negativas. Ou seja, são tratados com se fossem melhores que dinheiro vivo”.

“Suponha que se torne claro que os títulos dos EUA não são seguros; que não se pode ter certeza de que o país honrará sua dívida. Subitamente, todo o sistema estaria rompido. Talvez, com sorte, as instituições financeiras engendrassem juntas arranjos alternativos. Mas parece muito provável que o calote norte-americano criaria uma imensa crise financeira, muito superior ao abalo gerado pela quebra do Lehman Brothers, há cinco anos”.

A visão parece catastrófica, mas não está longe da realidade, basta lembrar que a China tem 3 trilhões de dólares em títulos do tesouro dos EUA, ou o Brasil que tem 75% de suas reservas externas nestes títulos. É preciso relembrar que desde o fim do acordo de Bretton Woods, que rompeu o padrão Ouro, o Dólar virou o substituto, mais recente os Títulos da Dívida Pública dos EUA passaram a ser o “ativo”  mais importante da conversibilidade internacional, sua queda pode significar um desarranjo mais complexo da Economia Mundial, num momento extremamente desfavorável, a Crise 2.0 sopra forte em todos os cantos.

O próprio Krugman bem lembra que a paralisação do orçamento nos EUA em 1995 e 1996, durante o governo Clinton, realmente não foi o caos,  pois “vale notar que as paralisações da era Clinton ocorreram num cenário de economia efervescente. Hoje, ela está fraca e uma das razões principais é a queda dos gastos governamentais. Uma paralisação equivale a mais um golpe, que pode tornar-se forte se o fenômeno se prolongar”. Sendo hoje, exatamente o oposto, um momento de crise que perdura por 8 anos, com possibilidade de pelo menos mais 5 anos. O economista Fernando Dantas, escreveu no Estadão na mesma linha de Krugman, ressaltando que “Nos últimos 40 anos, houve 17 episódios desse tipo, que, em média, duraram 6,5 dias. A maior paralisação foi a última, que durou 21 dias entre dezembro e janeiro de 1996, no governo Clinton”. Ele complementa mostrando que há uma enorme diferença de momentos “Em termos econômicos, a situação é bastante incomparável. Nos anos Clinton, a economia americana crescia a todo vapor, com expansão do PIB de 3,7% em 1996, e numa média de 4,5% nos três anos subsequentes. Naquela época, a preocupação de que a paralisação do governo descarrilasse a economia era naturalmente muito menor do que hoje, quando os Estados Unidos esforçam-se para, penosamente, superar os efeitos da pior crise desde a década de 30″. ( O Estado de S. Paulo, 02 de outubro de 2013)

Voltando ao artigo de Krugman, pois os últimos três parágrafos me lembram do Estado Gotham City, pois ele pergunta: Como tudo isso terminará? Os votos para financiar o governo e elevar o teto da dívida existem e sempre existirão. Todos os democratas na Câmara votariam pelas medidas necessárias para tanto, assim como um número suficiente de republicanos. O problema é que os líderes deste partido, temendo a cólera dos fundamentalistas, não demonstram vontade de mobilizar tais votos. O que poderia levá-los a mudar de ideia?

Por ironia, se levarmos em conta quem nos meteu neste labirinto econômico, a resposta mais plausível é que Wall Street fará o resgate – que o big money dirá aos líderes republicanos que eles precisam acabar com sua postura absurda. Mas, e se nem mesmo os plutocratas conseguirem controlar a direita radical? Neste caso, ou Obama deixará que o calote ocorra, ou encontrará alguma forma de desafiar os chantagistas, trocando uma crise financeira por uma crise constitucional.

Tudo isso parece louco, porque é. Mas a loucura de hoje, em última instância não reside na situação – mas nas mentes dos políticos e de quem os elege. O calote não está em nossas estrelas. Está em nós mesmos”. ( O Grifo é meu).

Duas questões não podem nos escapar, uma é a quantidade imensa de funcionários públicos nos EUA, que nossos neoliberais de plantão passam longe de criticar, quando vivem pedindo as cabeças de nossos barnabés, mas silenciam quando falam do seu país modelo. A Outra é a ação do FED, ano passada, um mês antes da crise do orçamento fez um QE(o terceiro), neste ano, na reunião do FOMA( o COPOM deles), decidiram injetar 85 bilhões de dólares mês nas empresas para incentivar o crescimento, tudo isto fugindo do orçamento e demonstrando que na prática há dois governos, o de Obama e o do FED, este último é o que realmente interessa. Este divórcio, que alerto no meu livro, entre Democracia e Burocracia é a gênese do Estado Gotham City, é a verdadeira face do Capital, que prescinde de povo, nação e poder político.

Acompanhemos o circo, com menos catastrofismo que Krugman ou demais economistas burgueses.

PS: Por alguns dias, Obama, não lerá nossos emails, faltando funcionários para coletar as informações, estamos livres para “pecar” sem sermos lidos.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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