Este espetáculo de horrores dos médicos e futuros médicos cearenses calou fundo na minha alma. Senti vergonha de mim mesmo, de ter lutado pouco, de ter feito pouco. A sensação é de derrota, profunda tristeza. Para coroar a “jornalista” de Natal escreve aquelas barbaridades como se contasse uma piada banal, algo tão comum, entre racistas que educadamente escondem seus malditos preconceitos, mas num “vacilo” acabam revelando a face do ódio, da feiura da alma.
Já passei por poucas e boas em São Paulo por ser nordestino, cearense, mas mantive minha altivez, olhando as ações com indiferença e pena, tendo a certeza de que eles eram apenas pobres de espírito, portanto não me abalava. Mas quando a fossa se abriu na minha casa, meu lugar, me mortifiquei. Inacreditável e inaceitável, por alguns instantes, cheguei a pensar em desistir da humanidade, apenas chorei no meu canto, me restabeleci e volto mais forte.
Os fascistas não passarão, o mundo é melhor que eles, minha terra é melhor do que estas ações cretinas. Vamos em frente.
Estas bestas que foram hostilizar médicos cubanos na minha sofrida terra, jamais saberão a razão de sermos conhecidos como “terra da luz”. Estes ignorantes pensarão ser alusão ao constante sol que nos ilumina e nos queima o ano todo. Deveriam saber que tal alcunha honrosa se deu por ter sido o nosso Ceará a primeira província a libertar seus escravos. A rica história de nossa terra foi manchada por estúpidos, que não tem ideia do heroísmo de Francisco José do nascimento, o Dragão do Mar, que, em 1881, liderou os jangadeiros e proibiu a embarcação de qualquer escravo. Dois anos depois Acarape, hoje Redenção, libertou 300 escravos. Um ano depois a província decretou a liberdade de 30 mil homens e mulheres.
Mas somos surpreendidos pelos filhos da elite local, que bradando contra os médicos que vêm cumprir a missão humana que estes mesmos calhordas se negaram a fazer. Envergonhando o glorioso passado cearense, em primeiro lugar, o Brasil como um todo. Que nossa história não seja sujada pelos interesses mesquinhos de uma elite burra e egoísta.
Que a memória heroica do Dragão do Mar seja respeitada e honrada.