Afinal, quem somos nós? Esta é a incômoda pergunta que me faço quase todos os dias, mais ainda quando ela vem de fora, de outra pessoa que não nos conhece. Muito comum então aqui, num blog, em que se escreve, se desnuda, sem se mostrar, se somos real ou fantasia, farsa ou gente. O que sabemos de nós ou o que sabem de nós, são complexas questões que nos fragiliza, principalmente se não temos resposta a pergunta inicial, a capital questão de reconhecer-se, saber de si mesmo, ou dos mistérios de vários que nos habita.
Aos quarenta e três anos, minha atual idade, alguns dos grandes homens ou mulheres já tinham moldado de si uma longa imagem, de vencedores, guerreiros, ou apenas de homens comuns, que aceitaram a sua vida como tal, sem inquietudes, que tanto afligem minha alma e existência. Imagino, que não apenas, mas de vários aqui, há uma eterna luta para se fazer conhecer, reconhecer e superar as barreiras naturais de cada grau de existência. Mas, a pergunta ainda domina o pensamento e as ideais: Quem somos nós?
De certa forma, temos alguma ideia de quem somos, mas o nosso interior, os mais secretos caminhos, não se mostram ou se revelam, por medo, ou orgulho, covardia ou desespero. A face oculta é mais dolorosa, difícil de aceitar, terrivelmente complexa para que mude, sem uma busca verdadeira, um caça cruel a si mesmo. Os arquétipos carregados em nós, nossas fugas, a psiquê atormentada, não é privilégio dos grandes personagens, é dos pequenos também, aliás é o traço comum que une e nos faz humanos, ou, de outra forma, é a condição humana.
Raramente falaremos de nós mesmo, a separação que se faz em inglês (Me e Myself) talvez ajude a diferenciar ou separar os múltiplos que temos dentro de nós, repartidos em vários: Pai, Marido, filho, amigo, colega de trabalho, cidadão, homem, macho, intelectual. Cada pedaço, carregado de qualidades e defeitos, jamais perfeitos, sempre pronto a mudar ou a teimosia refrear a mudança. Muitas vezes somos tolos, cruéis, palmatórias do mundo, porém, em quase todos instantes condescendentes consigo, irreflexivos com nossos próprios terríveis defeitos.
Passamos a vida construindo nossas vaidades, mas jamais fugiremos dos nossos espelhos, olhando para si, nem que seja na pálida imagem, não mentimos mais sobre quem somos, pena que não escrevemos diante do espelho. A realidade do espelho destruiria a doce capa de fantasia e mistério que há em nós, quantos de nós sobreviveria com o espelho tornado “público”? Escrevendo, nos traímos, somos mais nós mesmos, ou não, cabe a cada um saber separar, o que é , do que não é. Difícil? aí estar a graça.
Quem somos nós? decifra-me ou Devoro-te.
“Quem somos nós? decifra-me ou devoro-te” és a questão, mistério que, provavelmente, nunca saberemos.