Arnobio Rocha Reflexões O Lado Tragicômico da Cura

676: O Lado Tragicômico da Cura

 

 

Letícia, já podemos sorrir felizes!!!

 

Ontem ao escrever o post The Final Cut, pensando em fechar, pelo menos por um tempo o tema sobre a doença/cura da Letícia, sentir um certo alívio e esquecer, apenas curtir os novos momentos, pensar em novos desafios, não é fugir, pois ainda vamos cumprir um longo período de acompanhamento para cura total e definitiva, são coisa para lá de 5 anos à frente, mas depois de atravessar este desfiladeiro, o nosso “vale de lágrimas”, estamos preparados para qualquer coisa, mais forte e unidos.

 

Entretanto, comecei a relembrar algumas histórias sobre estes 30 meses algumas engraçadíssimas, outras nem tanto, que só poderia contar agora, aliviado e leve como estou. Vamos começar com um telefonema que recebi uma semana depois que a Lelê estava internada. Meu amigo, camarada, quase irmão, Carlos Marcos Augusto, da época do movimento estudantil na metade dos anos 80. Vivia mais na casa dele do que na minha, tia Leda, sua doce mãe, Hélade, a Pipoca, foi minha namorada e a Eveline, a Veka, éramos irmãos e companheiros de lutas estudantis.

 

Carlão já era uma figura maravilhosa e dedicada, mas também folclórica, seu caderno de controle de tarefas dos militantes era famoso, sua mochila pesada nas costas virou história, e palavra de ordem: tarefa, tarefa. Eis que Carlão me liga, eu estava totalmente aéreo meio sem saber o que fazer, atendi, ele já dispara:

Carlos: Camarada, preste atenção: Foco. Seja Leninista, Foco.

Eu: Oi camarada, como vai?

Carlos: Camarada, preste atenção: Foco. Seja Leninista, Foco.

Eu(assustado): Entendi, Carlão, é missão do “partido”?

Aquilo me deu uma vontade de rir, foi uma viagem aos 80’s, que só aquele irmão poderia proporcionar. Claro que conversamos emocionadamente, toda a amizade voltara como se nunca tivéssemos nos afastado. Para variar, antes desligar, ele repete: Carlos: Camarada: Foco. Somos Leninista, Foco. Depois vi que ele estava certíssimo, não podia jamais perder o foco.

Algumas situações eram mais trágicas, mas tinha seu lado cômico. Quando a Lelê deixou a UTI, teve um fungo violento que bloqueava o tratamento, um deus nos acuda. Até que ela foi pra UTI, logo na primeira semana o resultado de uns exames apontou o tipo de anti-fúngico que deveria tomar. Saiu da UTI, com a promessa que iria para casa, bastava ter pelo menos 30 mil plaquetas, mais de 100o leucócitos, mas não podia ter febre acima de 37,5º, por 48 horas.

Parecia uma coisa, as plaquetas rapidamente foram para próximo de 100 mil, leucócito mais de 1500, mas a febre não ajudava, quando dava 42,44 horas, que a Doutora estava para passar no quarto e dar alta, a febre subia. O lado engraçado era, a Letícia e Eu medindo a temperatura e rezando para tudo que era santo, mas, pimba, o termômetro nos traía. Foram quatro semanas, tudo caminhava bem, as revisões aconteciam dia de quarta e sábado, chegou um momento que pensávamos em esconder o termômetro da Doutora, mas ela sempre aparecia na hora que a febre chegava ao 38.

Até que um dia esquecemos de medir, relaxamos geral, não deu outra, a febre sumiu, depois de 75 dia internados, todos nós,  abandonamos o hospital, foi preciso dois carros, um deles com banco baixo, para levar tantas coisas de lá. Até um aparelho de dvd tinha comprado, pois não aguentávamos de ver a TV.

Aos poucos vou me reconciliando com a memória e transformando, humanamente, em edificantes histórias, pequenas tragédias.

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0 thoughts on “676: O Lado Tragicômico da Cura”

  1. Camarada Arnóbio:

    Primeiro: presente! Sempre, entre nós, estamos presentes! Os daqui e aqueles d’além.

    Muito obrigado por me permitir saber que, naquele momento de dor, fui capaz de, diferentemente do que pretendia, fazê-lo rir. Se não tive como ser general do rei em sua guerra por resgatar sua princesa, ao menos consegui, palhaço sem sabê-lo, distrair-lhe momentaneamente de sua angústia.

    A intenção era dar-lhe forças e direcionamento. E, se possível, algum conforto. O tal foco tem a ver, sim, com a disciplina. Disciplina que, nas palavras do Renato Russo, é liberdade. Liberdade que agora desfrutas. Disciplinadamente.

    Agora que as principais batalhas foram ganhas e a vitória final, antes apenas foco estratégico, se vislumbra, podemos relaxar um pouco e congratularmo-nos. Parabéns, irmão! Você conduziu, perseverou, centrou-se, apoiou! Quanta felicidade!!!

    Olhando para frente (afinal “o passado é uma roupa que já não serve mais”) com quantas outras conquistas esta bela menina moça mulher irá lhe brindar? Parabêns, Lelê! Viva linda e leve esta vida maravilhosa que se lhe descortina!

    Irmão, de fato não parece que já se passaram quase trinta anos, conte conosco. Ainda sou capaz de fazer uma deliciosa bananada para fortalecer-nos para as tarefas do dia que apenas começa!

    Da banda Augusto da sua família no Ceará

    Carlos

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