O que vem predominando, em regra, as manchetes e matérias centrais dos grandes jornais e revistas no Brasil é o pessimismo generalizado, como se o país estive no fundo do poço, várias vezes tratamos desta questão, aqui na série sobre a Crise 2.0, pois o que predomina é a ideologia, não a razão. A oposição serrada aos governos petistas, acabam por esconder os problemas reais da economia do Brasil, o que é pior transforma os acertos em erros. Assim, pouco ou nada, se aproveita da mídia local, quando se quer fazer um acompanhamento da Economia nacional.
É mais fácil se ter uma visão mais próxima da realidade lendo a mídia estrangeira, quando se quer verificar os dados da economia brasileira, as suas perspectivas, nos raros momentos que se abandona, pelo menos em parte o cabedal da ideologia, se consegue alguma coisa consistente. Nesta última sexta, na versão online do jornal O Estado de São Paulo, uma matéria bem interessante comparando os números do crescimento do PIB do Brasil e dos EUA, para o segundo trimestre. Mais além, o jornalista consegue ampliar o debate, de forma simples, usando corretamente os vetores gerais da Economia.
Uma matéria que realmente consegue sair do lugar comum, que, inclusive, desmente a própria linha alarmista, da tentativa de causar pânico na população na tese do famigerado “endividamento das famílias”, ou de que tudo vai mal. Sobre isto, escrevi o post Crise 2.0: Brasil e o alerta do BIS, em que rebato o viés maldoso e pouco sério do próprio Estadão, neste artigo, defini assim: “O viés é claro, alarmistas se armaram e comemoram quase como a queda do modelo Lula/Dilma, mas antes de entrar em pânico devemos reconhecer, que é melhor ficar preocupados de que ignorar o que se passa no mundo, mesmo que não seja exatamente o caso local. O nível de endividamento ainda é baixo, os padrões mundiais falam em 80% de comprometimento da renda, enquanto aqui mal chegou aos 20%. O que afirma o relatório é que “O crescimento médio de 13% foi três vezes superior ao aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Para o BIS, qualquer taxa que seja seis pontos porcentuais acima da expansão do PIB é considerada insustentável. A diferença entre a expansão de crédito e do PIB nos países emergentes está acima da tendência histórica e, segundo o BIS, é um “presságio” de crise.
O problema é que eles não percebem que o crédito sempre foi muito baixo no Brasil, fruto de juros altíssimos e restrições impostas pelo BC. Quando estourou a crise de forma ampla, o Brasil abriu linha de créditos, como nunca antes, uma forma de se manter o consumo e a expansão, com sucesso. Este modelo assusta, porque lá fora eles sempre tiveram um nível de crédito altíssimo, mas aqui é bem mais modesto, claro que não se vai “dormir com o sucesso”, principalmente pelos problemas mundiais que tendem a piorar” .
Lendo a matéria abaixo, apenas confirma o que venho batendo de forma sistemática, mas como voz isolada, tanto à esquerda, como em geral, o Brasil tem problemas, mas não os atuais mais apontados por eles. Vale ler a matéria a seguir, é um alento ao que estamos fazendo de forma séria e crítica.
É possível comparar o PIB do Brasil com o dos EUA?
A taxas anualizadas, o Brasil cresceu 1,6% no segundo trimestre, enquanto os EUA, em crise, 1,7%, mas economias passam por fases diferentes
Estado de São Paulo, 31 de Agosto de 2012
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos e do Brasil cresce a taxas parecidas. Em crise, os Estados Unidos cresceram 1,7% no segundo trimestre a uma taxa anualizada. Já o Brasil, conforme cálculo a partir do dado divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira, teve crescimento de 1,6% no segundo trimestre, a uma taxa anualizada.
Apesar dos números de crescimento de PIB parecidos, as duas economias passam por fases diferentes e uma comparação simplista não é válida, segundo analistas.
“A diferença mais importante está relacionada à taxa de desemprego, que nos Estados Unidos está acima do nível normal. No Brasil, apesar do baixo crescimento, está próxima do que se poderia considerar pleno emprego”, afirma o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Afonso Ferreira.
Efeitos da crise
O mercado de trabalho norte-americano ainda sente os efeitos da crise financeira de 2008. “Os Estados Unidos ainda não conseguiram recuperar o patamar pré-2008. O desemprego subiu e não voltou. Já o Brasil não só se recuperou como já ultrapassou os níveis anteriores a 2008 há muito tempo”, afirma o economista da Medley Global Advisors e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Bernardo Wjuniski.
Na avaliação do professor do Departamento de Economia da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, seria preciso os Estados Unidos crescerem a taxas maiores que as atuais para que o estoque de trabalhadores ociosos fosse reabsorvido pelo mercado de trabalho. “Além do histórico da crise, os Estados Unidos passaram por um processo de perda de postos de trabalho, com transferência de lugares de trabalho para o exterior, principalmente para a China”, diz.
Crescimento da renda
Outro dado relevante para se comparar o atual desempenho das duas economias é o crescimento do PIB per capita. A disparidade em números absolutos é grande: o rendimento médio anual por habitante nos Estados Unidos foi de US$ 48.441 em 2011 e no Brasil de US$ 12.593, segundo dados do Banco Mundial.
“Mas é válido comparar a variação da renda média brasileira e norte-americana nos últimos anos. Nessa comparação, a renda per capita brasileira teve um crescimento maior”, diz Wjuniski.
Na comparação entre 2010 e 2011, por exemplo, a renda per capita brasileira cresceu 15%, enquanto a dos Estados Unidos, 4%. No biênio 2009/2010, logo depois da crise financeira de 2008, o crescimento do rendimento médio do brasileiro foi de 31% e o do norte-americano, 3%.
Oferta x demanda
Segundo Ferreira, da UFMG, a explicação para o baixo crescimento do PIB é diferente nos dois países: nos Estados Unidos tem relação com a fraqueza da demanda. “As famílias estão endividadas e com medo de perder renda ou mesmo o emprego e por isso limitam seu gasto em consumo. O governo tem um déficit alto, está muito endividado e enfrenta forte oposição no Congresso ao aumento do seu gasto. As exportações, inclusive pela baixa demanda de parceiros comerciais, não crescem tant
o”, exemplifica.
Já no Brasil, de acordo com professor, o setor produtivo tem problemas para ampliar a capacidade de produção da economia. “A taxa de poupança no Brasil é baixa e por isso o investimento também. Problemas de gestão e corrupção paralisaram o investimento público. A qualificação da força de trabalho melhora lentamente”, avalia Ferreira.
Que interessante! Como isso é incrível, os urubólogos nem sequer leem as próprias matérias…