A imensa exposição da Espanha está chegando ao limite, sem mais ponto de retorno, dedicamos longo espaço sobre a questão aqui na série Crise 2.0, pois agora não se trata de uma economia secundária, sim, a quarta maior da Zona do Euro, a 12ª economia mundial, um PIB significativo de 1,5 trilhões, um país com 45 milhões de habitantes, originário de grandes empresas, como Telefonica, Iberdola e Santander. Crucial para Zona do Euro.
Os últimos posts sobre Espanha indicam quase que diariamente o ritmo da queda:
- Crise 2.0: Espanha submissa
- Crise 2.0: Espanha – A Nau da Insensatez
- Crise 2.0: Espanha em Luta
- Crise 2.0: Estresse na Espanha
- Crise 2.0: Espanha – Resgate ou Queda
- Crise 2.0: A “Sangria” da Espanha
- Crise 2.0: Espanha, como salvar os banqueiros
- Crise 2.0: O Resgate Light da Espanha
- Crise 2.0: Operação Resgate da Espanha
- Crise 2.0: Espanha – Fim da Crise(?), Começo da Miséria!
- Crise 2.0: O Day after Espanhol
- Crise 2.0: O “Vendaval Espanhol”
Nos parecia muito claro que o “resgate” parcial, apenas aprofundaria a crise, pois a sensação de que o país não era confiável seria a mensagem que ficava. Aconteceu exatamente isto, o sinal vermelho acendeu quando o prêmio de risco espanhol piorou ao invés de decair. As agências de riscos rebaixaram as notas e indicado que o país será insolvente em breve. Os planos de austeridades aplicados pelo governo da Direita espanhola não foram suficientes para dar credibilidade, ao contrário, só aumentou a desconfiança, de que o desemprego e estagnação tornaria o país paralisado e em queda.
O alerta dando virou centro dos debates da UE e logo a seguir do G-20, como dissemos ontem ( Crise 2.0: Uma Nova Partilha?) o FMI se racapitalizou, para uma tentativa desesperada de salvar Espanha e Itália, que entrou na mira de tiro. A fatura está à mesa, mas não há dinheiro, ou melhor, vontade política sólida em intervir até então. Mas as coisas mudaram no meio da reunião. Saindo de cena o fantasma das eleições gregas, o mundo concreto espanhol atormenta de vez o mundo, em particular a Zona do Euro.
Hoje a questão é bem clara:”A Espanha paga a maior multa para se financiar dos últimos 15 anos e é pressionada pela chanceler Angela Merkel e pelo G-20 para que formalize imediatamente um pedido de resgate, na esperança de acalmar os mercados. Mas cresce a desconfiança de que os 100 bilhões já prometidos pela UE aos bancos espanhóis não sejam suficientes para resgatar a economia do país. Investidores já apostam que Madri terá de recorrer a um pacote ainda maior, que também socorra as contas públicas”. (Estadão,20/06/2012).
A reportagem de Jamil Chade, se vale das informações do The Financial Times que diz que o valor do resgate espanhol será de 500 bilhões, bem em linha com os 456 bilhões arrecadado pelo FMI no primeiro dia da reunião do G-20, apenas os BRICS faram aporte de 75 bilhões. Ontem os títulos espanhóis foram a patamares até piores que os da Grécia, Irlanda ou Portugal, quando quebraram, a tabela abaixo demonstra a real situação da Zona do Euro:
País | Rendimento | Variação | Spread vs. Bund* |
---|---|---|---|
Grécia | 26,13% | -0,65% | +24,63 p.p. |
Portugal | 10,48% | -0,30% | +8,98 p.p. |
Itália | 5,93% | -2,42% | +4,43 p.p. |
Espanha | 7,05% | -1,52% | +5,55 p.p. |
França | 2,66% | +1,95% | +1,16 p.p. |
Alemanha | 1,50% | +6,45% | – |
* Diferença calculada em pontos percentuais. Fonte: Bloomberg
As pressões aumentaram, segundo a reportagem do Estadão com “a decisão de Rajoy de adiar para setembro uma avaliação mais aprofundada do tamanho do buraco, sem dar explicações. Não por acaso, Merkel usou a reunião do G-20 no México ontem para apelar para que a Espanha “esclareça rapidamente” quanto vai precisar em resgate e que não tarde mais a fazer o pedido. Merkel quer a injeção de capital o quanto antes, na tentativa de anestesiar os mercados.
A divergência se dá num ponto crucial, a UE quer emprestar dinheiro aos bancos espanhóis, mas via garantia estatal, o que aumentaria em 15% a dívida pública, já Rajoy quer que os bancos recebam diretamente, livrando assim de mais obrigações, principalmente as famosas contrapartidas da Troika: “Tanto a Europa como diversos governos no bloco rejeitaram a proposta, insistindo que é Madri quem deve ficar responsável pelo dinheiro. Ou seja, se um banco receber o dinheiro europeu e acabar quebrando mesmo assim, será o governo espanhol quem terá de assumir a dívida”.
Este jogo de ida e vinda piorou o ambiente, agora não se fala mais em salvar os bancos, sim, intervenção “branca” no país. O governo Rajoy simplesmente se acabará caso receba os 500 bilhões, a troika assumiria o controle, como fez com Irlanda, Portugal e Grécia. Mas aqui é bem mais complexo e gigantesco o problema, não é coisa de um país pequeno, há um medo que a revolta se alastre, o combustível dos 25% de desempregado se acenderia rápido, se sofresse uma intervenção.
Ironicamente, Krugman, definiu a situação: “O mercado não confia em Rajoy, pois ele não tem um Plano”(El País,20/06/2012). Ora, se Ra
joy, um homem do mercado, não inspira confiança, é porque o caos se estabeleceu.
E a Itália, Arnobio? Está se segurando?