Mais de um ano atrás, escrevi sobre Elomar Figueira ( Elomar – A poesia do sertão ), o poeta do Rio Gavião, com suas músicas, que nos traz de volta aos tempos do português provençal. As místicas história do sertão, uma mistura de mundo fantástico, que une, ao mesmo tempo, erudição com poesia matuta. As referências da idade média, dos mosteiros, da mitologia greco-romana, prendem a atenção de quem o ouve.
Uma das músicas mais criativas da lavra de Elomar, pelo menos para mim, que tem os elementos acima descritos, é Gabriela, uma canção cheia de magia e misticismo, o português antigo e os destinos traçados pelos fados e pecados da vida do campo
Gabriela
Elomar Figueira
São treis sorte são treis sina
na istrada dêsse cristão
são treis irirmã granfina
e de punhal na mão
d’ua madrasta avarenta
o home nun iscapa não
cuma o cego na trumenta
lá vai o cristão
são treis sorte são treis sina
ai pobre cantadô
são treis irirmã firina
a Morte a Saudade a Dô
O Gabriela
na Lagoa Bela
lua minguante
as eguas vão sonhá
são eguas baias
brancas amarelas
são poldas pampas
lindas gabrielas
monjas cavalgadas
vindas de estrelas
muito recuadas
Lagoa da Porta
nas horas mortas
o viado branco
vem suzin bebê
As três irmãs são as Parcas (Nona, Décima e Morta), Moiras(Cloto, Láquesis e Átropos) para os gregos, que determinavam a sorte do homem: Nona tecia o fio da vida, Décima cuidava de sua extensão e caminho, Morta cortava o fio. As sortes(ou azares), se vê descrito, como ter uma madrasta avarenta, os ditos populares tão bem versados. As três sinas se transmutam para : Morte, Saudade e Dor.
Aí surge Gabriela, que tanto pode ser uma bela mulher, como também um bela égua baia, que tanto encantam o homem do sertão, assim como o homem na lua cheia se transforma no lobisomem, a mulher se transforma em linda polda, Gabriela, monjas cavalgadas( sentido sexual), tão comuns no campo. Mas este desejo, atração é punido com o castigo, o pecado que também atormenta aquele homem.
As alegorias de Elomar, seu conhecimento, tanto o formal(se formou em Arquitetura pela UFBA) como seu misticismo religioso, formado numa família protestante, combinado ainda com sua experiência de vida nas fazenda, na casa dos carneiros, dão uma riqueza única, que não nos cansamos de admirar. Esta música é de uma beleza sem par.
Infelizmente não achei uma gravação de Elomar, sua interpretação dá mais vida a peça. Mas, ouçam com Alba Graça, também uma bela interpretação.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=CLbo7DDuc5U[/youtube]
Bárbaro! Amo Elomar Figueira de Melo, sou fã inveterada, de carteirinha, para todo o sempre, amém. Tudo tudo tudo que tem
o olhar, a voz, a poesia de Elomar, me cativa.
Cantiga de amigo, entre todas as das séries Cantoria sáo eloquentes
demais.
Sem palavras, só ouvidos para Elomar.
Muito grata por Gabriela, viu, grata por esta página linda.