Por volta de 1985 com o fim da ditadura, montamos na Escola Técnica Federal do Ceará(ETFCE) uma comissão Pró-Grêmio Livre, fazia parte de uma campanha nacional pela reconstrução dos grêmios, que tinham sido banidos na época da Ditadura. Esta campanha liderada pela UBES e localmente pela UMES, ambas dirigidas pelo PC do B, com sua Juventude Viração, depois denominada UJS.
Tinha concluído o 1º grau num colégio particular, Oliveira Paiva, que era um polo de luta contra a Ditadura, o dono da escola era um deputado do PMDB, Barros Pinho, ligado ao MR8, empregava no seu colégio vários professores perseguidos pelo regime, então era comum ter aulas com ex-torturados, ou ex-exilados, gente que enfrentara e sofrera nas mãos dos ditadores. Desde 1982 o grêmio funcionava e na sua quadra foi feito congresso de refundação da UMES. Em 1983 fora os meus primeiros contatos com movimento estudantil.
Ao entrar na ETFCE, dei de cara com o pessoal do movimento estudantil, logo me entrosei com Elias e Leal, dois militantes do PC do B, que frequentavam as Escola Técnica. No primeiro ano de ETFCE estava no antigo Centro Cívico, e na comissão pelo Grêmio. Quase um ano e meio depois, 5 de novembro de 1986 fizemos uma assembléia de fundação do Grêmio, que passa a ser chamada de José Montenegro Lima, seu último presidente, que foi morto pela ditadura. Foi uma longa jornada.
Logo no início de 1987 fizemos uma chapa, que encabecei, para primeira gestão, uma composição de força entre CGB( Coletivo Gregório Bezerra) e PRO( Partido da Revolução Operária) dois agrupamentos de esquerda não petistas. Além de uma série de militantes que surgiu naquela rica conjuntura. Com o tempo boa parte destes militantes vieram a participar em sua maioria no CGB ou do PRO.
A indicação de Vice-Presidente da chapa, coube ao PRO, sendo nomeado Carlos Henrique, a quem denominávamos por “Mosquito”, por ser muito franzino e sempre sorridente. Seu irmão Da Costa, um baita artista plástico, pintor, cartunista, foi nosso Diretor Cultural. Da Costa era brincalhão, ultrapassava os limites das tendências e das disputas políticas, na maioria das vezes sectárias e estéreis. Além dos dois, Gilberto Américo, primo deles, também fazia parte da gestão, era mais velho, militava no movimento de bairros e político.
Por outro lado, Carlos, era mais cerebral, estudioso, sustentava o debate político, fazia o contraponto às nossas posições. Naquela época como as nossas tendência estavam fora do PT, havia uma série de acordos comuns, eles participavam da gestão da Maria Luíza Fontenelle, nós chegamos a integrar o governo, depois rompemos(quanto sectarismo). Mas nosso eixo comum era o combate a Constituinte e as caravanas.
O auge de nossa aliança, além do grêmio da ETFCE, foi na UMES, que depois de vários anos do PC do B, fizemos uma composição PT(corrente socialista), CGB e PRO, vencemos um congresso e fomos para primeira gestão de uma entidade estudantil forte não dirigida pelo PC do B. Ronivaldo Maia, hoje Vereador do PT, era o Presidente, coube amim a Vice e ao Gilberto Américo a Secretária-geral. Carlos ficou fora pois disputaria a Presidência do Grêmio da ETFCE com Edvaldo Filho(CGB).
A disputa da presidência do Grêmio foi dura, mas tínhamos feito uma grande gestão, montamos uma rede de apoiadores e uma chapa de 11 membros efetivos e 75 participantes. Carlos montou uma chapa forte, com 11 membros efetivos e 22 participantes. Aquela primeira gestão deixou como saldo um movimento vigoroso, com grandes lideranças emergentes, sem dúvida, olhando hoje, não seria diferente se Carlos tivesse vencido, ele também fora importante naquele rico momento que vivemos.
Ano seguinte terminei o curso e vim embora para São Paulo, mantive poucos contatos com o movimento no Ceará, até que ontem, meu amigo Edvaldo Filho me informa que Carlos tinha sido assassinado, sem saber ao certo, se foi assalto, ou o que aconteceu. Aquilo me deixou em choque, não conseguia pensar em nada direito, a noite vi algumas notícias de pode ter sido crime encomendado, pois Carlos, era militante ambientalista e enfrentava a especulação imobiliária em Fortaleza.
Nas palavras da companheira Ana Valéria, repetindo Legião Urbana: “É tão estranho, os bons morrem jovens” ou na homenagem de um poeta, Pablo Robles, feita para ele:
“Carlos Henrique Costa Guilherme foi a vítima da vez.
A maldade assusta e a solução vai muito além do xadrez.
Uma grande liderança socioambiental mudou de plano,
Deixando entre amigos e admiradores sua fé no humano“.
(Grito Pacífico – Exemplos Imorredouros – Pablo Robles)
Saudações, Arnobio,
Lamentável. Uma perda irreparável…
O mais provável é que houve motivação para o crime.
As pessoas inteligentes, íntegras e atuantes são alvos constantes.
Força companheiro!
Somos tão jovens, mas temos tão pouco tempo.
ah, que triste ler uma história assim… ainda não consigo trabalhar direito perdas inexplicáveis…
Obrigada pela homenagem ao nosso querido companheiro…Estamos nos rearticxulando para saber o que de fato aconteceu…Assalto sem roubo e com um tiro na nuca…Isso é execução… Ele estava trabalhando com licença ambiental em Aquiraz – CE, aqui pertinho de Fortaleza, mas um lugar mt procurado, importante para o turismo.
Carlos sempre foi um grande companheiro e camarada. Sua postura digna, mesmo nos embates políticos, sou me deixa orgulhoso de participar de uma geração de militantes que agia porque compreendia o papel histórico. Hoje, a esquerda ficou um pouco mais pobre, mas a história continua rica com o exemplo de Carlos, sempre presente
Muito bonita sua homenagem ao Carlinhos, camarada. Essa memoria dos ’80, a geracao em que ele experimentou, aprendeu, apostou… tudo isso mobiliza em nos, ainda com mais forca, o sentimento de amor e tristeza. Um abraco!
´Muito bom o histórico do Carlinhos(nosso mosquito). A tristeza tomou conta de todos nós, principalmente daqueles que fizeram parte deste período que você fala.Sou desta época e lembro bastante de você, que está bastante diferente. Fui do PRO e o continuo no grupo, hoje chama Crítica Radical e estamos atualmente organizando um movimento SAIR DO CAPITALISMO. Compartilhamos suas homenagens aos nossos face(o meu, da Rosa e do Crítica). Um abraço. Que o carlinhos continue Presente, Hoje e Sempre.
Muito bom saber mais sobre a vida do meu Tio Carlinhos, ele sempre foi uma pessoa muito especial, gostava muito de aproximar as pessoas! Sempre me inspirou e me apoiou em várias situações. Ele não merecia ir dessa maneira, mas que a morte dele não seja em vão. A sua ideologia continuará!
É,é triste, é muito triste, até agora só penso e penso… Que tanta estupidez! Não entendo por que existe alguèm assim tão mal,ando ainda com o meu coração muchinho.Meu Deus o que podemos fazer para melhorar ao menos este nosso mundo?
SÓ DEUS PRA CONFORTAR TAMANHA DOR,TAMANHA FALTA..LAMENTÁVEL TRAGÉDIA.TINHA MUITO ORGULHO DE SER IRMÃ DESSE PEQUENO GRANDE HOMEM.TENHO CERTEZA DE UMA COISA:LÁ EM CIMA VAI FAZER MUITA COISA.MEU MUITO OBRIGADA PELA HOMENAGEM E CONSIDERAÇÃO AO NOSSO AMADO CARLOS HENRIQUE.
Grande camarada,Arnóbio,vcs fizeram parte de momentos históricos no movimento estudantil em Fortaleza,infelizmente vivemos numa selva de pedra,Carlos foi uma grande perda,não apenas para o movimento mas para a Sociedade.
muito obrigado pela homenagem a meu querido mano.é uma dor que nunca vai passar,é uma dor,saudades,revolta pela a estupidez do ser humanao.a cada dia que passa isso nos revolta por que o ser humano esta ficando menor que uma virgula, sem valor algum para aqueles diante do poder. no fundo são uns pobre coitados.sem alma,sem coração filho de um nada…sem dinheiro não passa de um rato no esgoto.MEU DEUS A JUSTIÇA ESTA EM SUAS MÃO.