Agora que se consolidou o entendimento de que a Alemanha é a grande vitoriosa da atual crise na Europa, resolvi reler alguns artigos da série Crise 2. 0, e, se ela tem algum mérito, foi ter apontando há pelo menos 6 meses que, a apesar da imensa crise, a economia alemã era a beneficiária principal do desastre dos outros países.
Uma atitude similar a uma transfusão de sangue, cujos doadores são os países em crise, a Alemanha fortalece sua musculatura, sobrevivendo ao caos e crescendo onde só há queda. Escrevi dois artigos esta semana que apontam exatamente esta tendência:
Hoje, Celso Ming escreveu uma coluna ( O Grande Beneficiário) que segue o mesmo caminho que percorri, a fonte é a mesma a Der Spigiel, chegando no final a mesma mesma conclusão, leiam e comparem:
“A Alemanha vai aparecendo como a grande beneficiária da crise do euro.
Há alguns anos, a competitividade do sistema produtivo alemão já era, de longe, a melhor do bloco. Mas as diferenças estão aumentando. A Alemanha cresce mais, tem um dos mais baixos níveis de desemprego, exporta mais e paga juros cada vez menores”.
Categoricamente, quem melhor produz, tem mais vantagem competitiva, consegue maximizar seu lucro e atrair mais Capital, suas empresas exportam Capital e tornam-se cada vez mais determinante no mercado, em particular na Europa, que usa moeda e mercado comum.
A tabela anexa resume exatamente as principais conclusões que cheguei sobre a questão de como anda a Europa e a tendência econômica que se estabeleceu, mais ainda, o movimento de capitais, como bem escreve Ming:
” Os juros muito baixos e até mesmo negativos refletem a enorme abundância de recursos existente no bloco do euro e, ao mesmo tempo, o baixo nível de opções de aplicação. Emprestar dinheiro para a Alemanha ficou mais seguro do que deixá-lo depositado em conta corrente num grande banco.
E isso não é tudo. A cada vez maior disparidade entre o que paga o Tesouro alemão por sua dívida e a remuneração recebida dos países vizinhos eleva ainda mais a diferença de custos de produção dentro da Eurolândia. Os institutos de pesquisa e análise já apontam, para 2012, retração do crescimento econômico da França, Espanha, Itália, Bélgica, Grécia e Portugal. Mas a Alemanha deve avançar pelo menos 0,4%”.
Esta enorme abundância de recursos (Capital) tem que ser realizado, sendo a Alemanha, na Europa, o local apropriado para este movimento. A lógica é perversa, quanto mais outros afundam, mais a Alemanha se fortalece, dai a resistência dela em não ceder um milimetro ao desespero dos outros. Como mais uma vez confirma Ming:
“A desvalorização do euro, por sua vez, está beneficiando as exportações da Alemanha. Embora suas vendas para dentro da área do euro estejam caindo, para o resto do mundo estão crescendo. Também no período de 12 meses até novembro, as exportações aumentaram 8,3%, ultrapassando o patamar de 1 trilhão de euros”.
E diz um pouco mais:
“Se as enormes assimetrias estão na origem da crise atual e se elas estão se aprofundando, a perspectiva é de que, sem ajustes decisivos, o colapso tenda a se agravar. Ainda nesta quarta-feira, o comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia, Olli Rehn, advertiu na Rede BBC de Londres que o momento “pode ser apenas o fim do começo da crise do euro”.
As coisas parecem agora muito mais claras, sem embustes, a Alemanha imporá seu ritmo, resta saber se os outros pagarão seu preço.
É …o ritmo da Alemanha agora é o que conta, assim como sua competência, organização e seriedade. Parece um bom momento para que os outros países da Europa reflitam sobre sua performance porque afinal de contas, a Alemanha não é obrigada a carregar a dívida do euro nas costas.
Não é bem isso, Cris. Dá uma olhada no Crise 2.0 desde o início e vc vai ver que a Alemanha é como um colonizador do século 18 chupando o que pode dos candidatos a europartners e mesmo dos parceiros. Só falta invadir…
Que sorte a nossa que vc acompanhe tudo e nos transmita, amigo e companheiro! Sabemos deste papel da Alemanha desde o ano passado! E essa charge, hein? Caramba, que achado-resumo!
Ah, esqueci de dizer: estou lendo O cemitério de Praga, do Eco, um tratado do preconceito, e entre as qualidades dos alemães é citada a incrível capacidade de produzir enormes quantidades de matéria fecal! É o humor-horros do Umberto Eco! :-)))