131: Crise 2.0: A decadência sem Elegância (Post 130 – 84/2011)

 

 

 

“Ah! se entre o céu e a terra existem entes

dotados de poder, eia! aos meus rogos,

do doirado nevoeiro onde se ocultam

descendam presto!” ( Fausto – Goethe)

 


 

“Doce” Ironia

 

Que ironia lembrarmos que menos de 12 anos atrás o governo brasileiro de FHC estava de pires na mão pedindo ajuda ao FMI e ao Clube de Paris… Hoje, FMI e Clube de Paris se ajoelham pedindo nossa ajuda. Com tudo isto, há gente que não percebe o quanto mudamos nestes 9 anos, e isso não é fruto da “coincidência” ou do “acaso”, muito menos resultado do que FHC fez, como arrogantemente insistem os tucanos e “independentes”. Como é fácil esquecer as três quebras e a equivocada política internacional de FHC…

Esta visão dos graves erros da gestão de FHC, que tanto a direita brasileira como sua imprensa insistem em encobrir, tragicamente está em linha com o que pensa e se escreve nos EUA e na Europa sobre a crise. Paul Krugman em recente artigo arremata brilhantemente assim:

 

“A direita americana contemporânea não acredita em fatores externos, nem em corrigir falhas do mercado; sua fé determina que não há falhas do mercado, que o capitalismo sem regulação está invariavelmente correto. Confrontados com as provas de que os preços de mercado estão de fato errados, eles simplesmente atacam a ciência.

O que isto nos diz é que não estamos participando de um debate envolvendo a economia. Nossos defensores do livre mercado não estão de fato trabalhando com um modelo do funcionamento da economia; aquilo que orienta a sua conduta é uma mistura de defesa covarde dos abastados contra os demais e fé mística na ideia de que interesses egoístas levam necessariamente ao bem comum.

Eles estão errados, e o preço deste erro é pago a cada inspiração.”

Bastava trocar a frase inicial e pôr “a direita brasileira” que se encaixa perfeitamente.

A “zona” do Euro

 

Decadência sem Elegância

Meses atrás o principal editor e analista econômico do Financial Times, Martin Wolf, escreveu que a “Zona do Euro, como foi concebida, fracassou”( ver meu post Um fantasma ronda a Europa ). Não era mera figura de linguagem. E estas observações foram feitas antes da explosão total das contas gregas. Pouco depois, Alemanha e França lideraram um “socorro” de 159 bilhões de euros para a Grécia, porém em menos de dois meses este dinheiro foi sugado e insuficiente.

Numa visão otimista, o valor para segurar a ruptura total da Zona do Euro é de 1,9 trilhão de euros; o atual Fundo de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) foi elevado de 250 bilhões para 440 bilhões de euros, mas este valor representa apenas ¼ do valor necessário para evitar o colapso.

Desesperadamente, os líderes europeus apelam aos BRICs, para que estes usem parte de suas reservas na compra de títulos europeus, visando criar um amplo colchão (aquele 1,9 tri) que ponha de pé a expectativa de que a Zona do Euro não venha a ruir de vez. A situação é dramática. A presidenta Dilma está em Bruxelas nesta semana e os governos de lá buscarão seu apoio decisivo para esta ação.

A reação dos EUA

Este movimento levou diretamente o governo Obama a intensificar as críticas aos europeus, pois estas reservas dos BRICs estão quase que integralmente em títulos do Tesouro americano:

a) 78% dos US$ 350 bilhões das reservas do Brasil;

b) 82% dos US$ 3 trilhões das reservas chinesas;

c) 90% dos US$ 600 bilhões das reservas russas;

d) 85% dos US$ 300 bilhões das reservas da Índia;

Tim Geithner, secretário do Tesouro americano, fez duras críticas à EU, condenando a política de austeridade e a adoção de políticas recessivas, pedindo que Europa “gaste o dinheiro incentivando consumo”. O presidente Obama fechou com uma frase: “A crise europeia está assustando o mundo”.

Pelo lado europeu, as respostas também foram duras. O primeiro-ministro de Luxemburgo disse: “Nem os desempregados gregos nem os trabalhadores irlandeses quebraram o Lehman Brothers”. O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, completou: “É sempre melhor dar conselhos do que tomar decisões”.

É o roto falando do rasgado, pois ambos os blocos, até hoje, não conseguiram gerir nenhuma política efetiva de combate à Crise 2.0. O que têm feito é sempre salvar os bancos e os bilionários de cada lado do Atlântico, as hipotecas americanas que levam milhões de pessoas à miséria já até esquecida nos EUA. Ou do outro lado a situação de desespero do povo grego. As saídas apontadas pelos dois lados é fruto do “pensamento único” gestado com Reagan e Thatcher, aprofundado pós-queda do Muro de Berlim.

Enquanto a Europa ruma para o abismo, os chefes do caos ficam trocando acusações e se unem, sempre, apenas para impor mais sacrifícios aos trabalhadores dos seus países. Depois da desgraça, o tão amaldiçoado ESTADO é chamado para salvar a economia, retirando assistência e serviços ao povo – na Grécia, por exemplo, querem cortar 35% dos trabalhadores do Estado, além de uma ampla privatização. É a mesma recomendação a Portugal e Espanha. As imensas dívidas públicas e privadas seriam “socialmente” divididas com aqueles que nada fizeram.

A pergunta que fica é: até quando??

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

0 thoughts on “131: Crise 2.0: A decadência sem Elegância (Post 130 – 84/2011)

  1. A pergunta que fica é: Até quando??

    Trocaria a pergunta para ” A quem interessa que a crise internacional invada como um rolo compressor o Brasil?”

    Grande parte da imprensa brasileira não perde a oportunidade. Se ventar a favor na europa ou na américa do norte, apenas fazem uma citação. Se vem ventanias pesadas, com problemas econômicos, não faltam matérias alertando que o Brasil será o próximo.

    Estou espantada como a crise internacional não está mais forte no Brasil. No passado, por muito menos, o risco Brasil estourou. O brasileiro em outras crises sofreu muito com desemprego e falta de políticas sociais de combate. Hoje o Brasil vem se recuperando a passos largos.

    Se a imprensa continua torcendo para o Brasil NÃO DAR CERTO, lamento informa-los. O Brasil vai bem e crescendo. Só não vai melhor porque a direita não entrega o osso. A cada dia um “golpe” novo será tentado para colher frutos dos incautos que a cada dia que passa, estão de olhos mais abertos.

    As eleições municipais sempre foram um grande momento para que a imprensa consiga gerar a desunião entre a base aliada. O bom senso e a visão de um projeto político muito maior ao Brasil deve prevalecer.

    Vida longa ao Brasil com mais igualdade e justiça social. Muito a ser feito, mas as engrenagens estão rodando cada dia mais rápidas.

    Envelhecer com dignidade é uma das minhas utopias. Ver minha filha tendo orgulho de ser brasileira não tem preço. Fiquei emocionada nas eleições quando em sua sala de aula em um dado momento resolveu denunciar a sua professora quando da realização de um simulado.

    Minha mãe vai votar em Dilma. Não aceito a senhora ficar falando do Serra e não falar dos feitos do governo Lula.

    Tal mãe rsrs, tal filha. Radical desde criança, mas uma cidadã de primeira linhagem. Aprendeu aos 11 anos que precisa se posicionar ou o Brasil vai parar.

    Que os números não nos deixe esquecer o que foram os governos anteriores e como está sendo o governo atual.

    Que a verdade prevaleça acima do monopólio midiático instalado no Brasil.

    @Marly_Rosa

  2. A @Marly_Rosa esta coberta de razoes e digo mais esta piazada que ai esta ñ sabe o que era FHC se ajoelhar com um pires pedindo esmolinha pelo amor de Deus!!!
    Forte abraço
    @patimpudim

  3. Se tal crise fosse na época do FHC, a gente estaria em grandes apuros…Ele faria coro com os governos europeus e com o império e tomaria medidas para privatizar os lucros e socializar prejuízo, até o prejuízo alheio, lacaio dos EUA que sempre foi.
    Quanto à insistência da direita em não admitir falhas do mercado é uma redonda burrice que, por outro lado, pode ser a luz no fim do túnel para uma futura mudança sistêmica, ainda que remota: a não regulamentação do mercado é tão errada como a insistência soviética em planificar sem usar ao menos alguns poucos elementos do mercado: fracassou. O contrário também pode ocorrer. Estas crises estão aí, mostrando o erro que os adoradores do deus mercado não querem ver….
    Hoje não vou te dar os parabéns, senão você vai ficar cheio das minhas mesmices, mas que este post merece um parabéns de todo tamanho, isto merece.

  4. (…) Enquanto a Europa ruma para o abismo, os chefes do caos ficam trocando acusações e se unem, sempre, apenas para impor mais sacrifícios aos trabalhadores dos seus países.(…)

    e, para acalmar meu coração já cansado de tanto ver injustiças

    (..) Vida longa ao Brasil com mais igualdade e justiça social. Muito a ser feito, mas as engrenagens estão rodando cada dia mais rápidas.(…)

    grata, moço!

    beijo

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