Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0:Um fantasma ronda a Europa: Dissolução do Euro? (Post 103 – 57/2011)

Crise 2.0:Um fantasma ronda a Europa: Dissolução do Euro? (Post 103 – 57/2011)

“Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha.” Marx-Engels

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(puerta del Sol -Madrid- Espanha)

Relembrando o que escrevi em início de maio de 2011 sobre os problemas da economia mundial, particularmente pós-queda do “Muro de Wall Street” (15 de Setembro de 2008), a analise era centrada no imenso endividamento público das economias centrais e os vários planos engendrados tanto pelos EUA como pela Europa (Zona do Euro), segue in verbis:

“Segundo matéria do caderno de Economia do Estadão deste domingo, 24/04/2011, “A dívida de um punhado de países ricos aumentou em US$ 16 trilhões (mais que o PIB americano) desde 2007, e atinge hoje US$ 42 trilhões, ou 61% do PIB global, representando uma das principais ameaças à recuperação da economia mundial”.

E depois:

“A dívida pública que havia fechado 2007 em 26 trilhões, algo próximo a 47% do PIB mundial explodiu em menos de 3 anos para 42 Trilhões, apenas neste trio: EUA/ EU e Japão. Chegando assim a 61% da produção de riqueza anual de todos os países do planeta.”

Fechando com:

Segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta do governo americano saltou de 62% do PIB em 2007 para projetados 99,5% em 2011 (e deve chegar a 112% em 2016). “Hoje, a dívida está entre US$ 14 trilhões e US$ 15 trilhões.”

País Divida Pública 2007 Divida Pública 2011 %PIB %PIB
EUA 8,7 15,2 62 99,5
Zona do Euro 8,2 11,3 66 87
Japão 8,2 13,3 188 229

Fonte FMI

Agravamento da crise: Grécia e Portugal, Revolta na Espanha

Neste último mês e meio houve um recrudescimento das condições gerais das economias do PIGS ( Portugal, Irlanda, Grécia e eSpanha). No começo de junho Martin Wolf, principal editor e principal editor do Financial Time escreveu o provocante artigo : “Opções inaceitáveis na zona do Euro” em que, logo na primeira frase diz:  “A zona do euro, como foi concebida, fracassou” e mais relevante sintetizar num parágrafo a concepção central do Euro :

Supostamente, a zona do euro deveria ser uma versão atualizada do padrão-ouro clássico. Países com déficit externo recebem financiamento privado do exterior. Se esses financiamentos secam, a atividade econômica diminui. O desemprego, então, provoca queda dos salários e preços, provocando uma “desvalorização interna”. No longo prazo, isso deveria proporcionar saldos financiáveis nos pagamentos ao exterior e nas contas fiscais, embora somente depois de muitos anos de sofrimento. Na zona do euro, porém, grande parte desse financiamento flui por meio de bancos. Quando a crise vem, os setores bancários famintos por liquidez começam a entrar em colapso. Governos sujeitos a restrições de crédito pouco, quase nada, podem fazer para impedir que isso aconteça. Esse, então, é um padrão-ouro mantido por esteróides injetados no setor financeiro.

Olhando mais profundamente percebemos claramente os indicadores que levaram as economias periféricas da zona do Euro à bancarrota:

1)      Para entrar na zona do Euro: Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia foram “agraciadas” com generosos empréstimos. Enricaram artificialmente;

2)     Cada um ao seu modo “gastou” o dinheiro recebido sem parcimônia, Portugal e Espanha comprando empresas na América Latina, posto que não podiam comprar na Europa;

3)     Estes países tinham um desenvolvimento tecnológico muito abaixo em relação aos países centrais com baixa produtividade, e padrão salarial inferior;

4)     Padrão de vida destes países sempre foi muito inferior aos de França/Alemanha/Inglaterra, como poderiam ter moeda comum?

5)      Engenharia de Maastricht foi inflá-los artificialmente, ajuste fiscal pesado, combinado com endividamento, tudo ia “bem” até 2008;

6)     Com a explosão da crise em 2008 os bancos exigiram liquidez imediata e q a conta vem sendo cobrada agora PIGS(Portugal,Irlanda,Grécia e Espanha) Têm que pagar

7)      As explosões sociais na Espanha, Grécia, com certeza chegaram a Portugal, a conta é alta, os sacrifícios serão enormes;

Economias falidas

O reflexo deste imenso endividamento é a degola das economias mais periféricas, como Grécia, Portugal, Irlanda e mais presente Espanha. Estes países que receberam grande inversão de capitais para se adequarem à zona do Euro, hoje estão totalmente insolventes, tecnicamente falidos, vivendo da esperança de aporte da Alemanha e do FMI.

As imensas subvenções européias ao sistema financeiro fez saltar o déficit publico de 3,3% em 2007 para 6% em 2009 e 2010, com cortes orçamentários para 2011 reduzir para 4,4%, sobrando assim pouco alento em salvar estes países que irremediavelmente sofrem todas as conseqüências do desastre econômico, apenas Espanha tem hoje 20,1% da população economicamente ativa desempregada. Portugal numa crise de governabilidade.

Números da Crise dos PIIGS
País Deficit Público Divida Pública x PIB Desemprego
Portugal 4.0 82.9 12.4
Italia 2.8 100.1 8.1
Irlanda 6.7 63 14
Grécia 5.3 117.2 15
eSpanha 5.3 60.9 20.9

Fonte FMI

Esta realidade catastrófica é exposta neste momento de aparente calmaria, depois do colapso profundo de 2008 e 2009, 2010 ficou numa zona de baixa turbulência, pois o EUA provocou uma guerra cambial terrível despejando apenas ano passado 600 bilhões de dólares no mercado mundial sobrevalorizando moedas e tornando suas mercadorias competitivas.

Porém estas imensas dívidas pública, que provoca um déficit fiscal de 10% ano nos EUA, ameaça qualquer perspectiva, em curto prazo, de uma leve recuperação, o custo social é altíssimo, programas sociais, incentivos aos trabalhadores e desempregados são cortados e, paradoxalmente, produziu uma ampliação dos bilionários nos EUA nos últimos 3 anos. O resgate estatal se deu justamente para socorrer os mais ricos.

Por fim Martin Wolf arremata:

A zona do euro precisa optar entre duas alternativas intoleráveis: inadimplência e dissolução parcial ou socorro oficial sem prazo definido. A existência dessas opções prova que uma união duradoura necessitará, pelo menos, uma integração financeira mais profunda e maior apoio fiscal do que inicialmente previsto. Como se dará o encaminhamento político dessas alternativas? Realmente, não tenho idéia. Pergunto-me se alguém tem.

A “solução” do Capital


FOTOS RICARDO NUNO/GRÉCIA

A Grécia aprovou um duro ajuste fiscal, que atinge profundamente os trabalhadores, tantos os aposentados atuais como os futuros. O que sobrou de serviço público passará por uma “limpa” de redução de funcionários ou de rendimentos. A imposição destas medidas, aprovados no parlamento, foi a condição para que FMI e BCE dessem as migalhas para a Economia grega pague seus compromissos externos vencidos. Uma onda de violentos protestos se segue.

Ontem Portugal teve sua dívida pública avaliada como “crédito podre” pela Moody’s, não custa lembrar que esta e outras agências qualificavam o Lehman Brothers como AAA duas semanas antes da sua completa falência. Ontem jogaram a economia portuguesa no limbo. (como seria bom se todos vissem o filme Inside Job).

A Espanha foi sacudida por imensos protestos desde fim de maio com ocupação das principais praças de Madrid e Barcelona. 22,5% da população economicamente ativa está desempregada, mas entre os jovens de 18 a 25 anos chega a 40%. A desastrosa politicamente econômica tanto de PSOE e PP, ameaça todo o país.

Ontem também um estudo da ONU aponta para 15 milhões de pessoas que passam fome na Rica Europa, algo improvável a 3 anos. Poucas são as saídas apresentadas, todas elas apenas aprofundam a velha cantilena do FMI, sem lançar qualquer perspectiva de melhoria das condições atuais destes países. Hoje alguns países voltaram a controlar fronteiras na Europa e impõe duras leis aos imigrantes.

 

 

 

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0 thoughts on “Crise 2.0:Um fantasma ronda a Europa: Dissolução do Euro? (Post 103 – 57/2011)”

  1. Arnobio, o PIGS caiu direitinho no conto do empreste hoje, pague amanhã. O quadro mais triste é provavelmente o da Grécia (imagine, gastar 4 bi numa ponte, não há turismo que segure…). E a saída? Teremos um segundo post?

  2. O seus textos são verdadeiras aulas, camarada. Por isso, vc fica intimado a escrever sempre, pois, assim, ajuda a gente a esquecer um pouco a mediocridade que campeia pelos blogs e pelo twitter.
    Abs.
    Jorge

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