O movimento #GenteDiferenciada foi uma reação extremamente politizada e bem humorada a uma frase, um ato falho, de uma psicóloga(??), moradora do aristocrático bairro de Higienópolis: “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada…”
A frase simbólica representava o repúdio à implantação de uma estação de metrô no bairro, um abaixo-assinado com 3500 assinatura foi entregue ao Governo de São Paulo e aceito como desejo da comunidade de Higienópolis demonstrando todo seu compromisso com a parcela mais rica e privilegiada da cidade. Uma cidade carente de transporte público sonega o direito aos trabalhadores que ali labutam a facilidade de se locomover e chegar no horário e ter uma melhor qualidade de vida. Tudo isto em nome de um grupo que, em regra, não precisam de horários rígidos ou se incomodam de andar com seus ricos carros de luxos ou seus helicópteros.
Através do Facebook e Twitter começou um Hashtag viral: #GenteDiferenciada e a convocação de Churrascão desta gente diferenciada em frente ao templo de consumo do bairro, o que parecia apenas uma brincadeira dos que apenas se revoltam desde seus sofás virou um movimento de fato, uma inusitada manifestação seguiu pelo bairro, mostrando uma nova cara, uma nova forma de exercício de cidadania. As caras espantadas nas janelas no começo deram lugar a sorrisos, houve um entendimento que as pessoas ali embaixo não eram contra o bairro, a comunidade.
Alguns se excederam via Twitter e Facebook descambando para frases anti-semitas, mas a imensa maioria passou ao largo destas manifestações, inclusive foi de grande utilidade a frase anti-semita do CQC, pois dali se diferenciou os que querem o novo dos escatológicos oportunistas. No ato houve um repúdio generalizado ao CQC com corinho impublicável, mas bem humorado como todos os outros. Até nisto a manifestação foi célebre.
O clima nas ruas de Higienópolis era de festa, nos olhávamos e sabíamos que de alguma forma estávamos fazendo história, mexendo com temas caros a uma grande metrópole:
1) Para quem se deve governar;
2) Transporte Público e ocupação urbana;
3) Cidadania e urbanidade;
A Velha Mídia é Velha mesmo
Mais ainda este movimento foi fora de qualquer estrutura: Partidos, Sindicatos, entidades estudantis, mesmo os grupos que se acham “donos” do “cyberativismo” foram pegos de surpresa, entraram com o bonde andando, mas sem poder de definir nada, provando que na rede “ninguém é de ninguém”. foi espontâneo, viral, algo que já ocorreu nas revoluções no Egito, por exemplo. Os números são secundários, a mídia quer dar peso em algo que não pesa, querem desqualificar o novo, o inusitado, agem como o establishment, lembrou-me exatamente o comportamento da TV estatal egípcia que mostrava ruas vazias enquanto a Al jazeera mostrava a revolução em Tahir, exceto o portal Terra Maganize ninguém cobriu ao vivo e captou o sentido do ato.
Dezenas de articulistas da mídia tradicional queimam papel e pestana para desqualificar o inqualificável, não tem como enquadrar na lógica formal de movimento o que é o #GenteDiferenciada, que pode ser apenas uma chuva outonal ou um novo movimento político, que nasce de uma geração que não aceita caciques nem políticos, nem midiáticos, tocados por coisas concretas, que explodem sempre numa sociedade de classes e polarizada.
São sintomáticas que este novo momento decai velhas estrelas, basta ver a reacionária entrevista do Caetano Veloso, é emblemático, o velho, não de idade, mas de espírito não captar o que se passa na rede, como bem definiu a Vange Leonel ( @vleonel ): “A rede é passagem, é fluída”. Esta luta encarniçada da velha mídia, velhas formas de artes baseadas no “mando” dará lugar uma visão mais anárquica, mas muito mais crítica e radical à sociedade de consumo.
As bases de algo novo estão surgindo no mundo, na periferia, nas lan houses, na nova forma cifrada de se comunicar, de pensar a vida de forma mais simples e descomplicada. O #GenteDiferenciada é a representação deste novo, quem foi e viu sabe do que falo. Grande passo é ir aos bairros da periferia e misturar tudo num novo movimento
E o mais gostoso de tudo foi ver a velha mídia ser pautada pela blogosfera!!! Só no Estadão de domingo, meio dia após o evento, tivemos uma matéria mais dois artigos falando sobre ele! Parabéns para toda a Gente Diferenciada brasileira!!!
Abraços, Passarinho Pentelhão (Alexandre Rocha)
Perfeito!!! Nossa, muito bem descrito, saiu da alma e da experiência!
Amigo Arnobio, a última foto mostra realmente que tipo de gente invadiu Higienópolis, cruzes! rs
Um dia que podemos usar como referencial, como vc bem disse uma bem humorada e auspiciosa forma de protesto.
O ponto altamante positivo do ato, foi o de ficar acima dos ditos “movimentos organizados”, sem nenhuma bandeira partidária. A unica coisa em comum é que a maioria era formada por progressistas.
Belo post !. .
Arnobio é o nosso colunista do novo. Ótimo texto!
Bacana! Apoiado! Vou colocar um link no meu blog pro seu post. abs, Graca
Que festa boa e por um bom motivo,gostaria de ter estado lá…
As redes sociais estão mesmo fazendo a vez da mídia e também articulando movimentos de protestos. É bom q a velha mídia e estes q governam para os ricos, fiquem atentos !!
Bela manifestação.
Essa “gente diferenciada” é muito animada :)
Cada texto lindo sobre aquele dia! Agora, 06:58, nem dá para falar nada, finalmente estou pegando no sono… mas eu volto e vou reler, reler… o texto tá lindo, intensamente delicado. Parabéns, Arnóbio.
ps: Limarco, o que tem de errado com as pessoas da última foto? rs
@urbeslz