O poder e a glória da IA estão se esvaindo?

“Você está investindo em algo que é perecível. As mudanças tecnológicas sugerem que, se você comprar uma GPU hoje, o chip estará obsoleto no ano que vem. (As empresas de IA estão) investindo enormes quantias de dinheiro em alface, que vai estragar agora” (David McWilliams, Economista irlandês, para CNN Money – É bolha? Empresas da IA criam “teia” de investimentos na área da tecnologia)
“O que chamamos de “bolha” é caracterizado por uma disparada dos preços das ações com fundamentos fracos ou inexistentes” (Forbes)
Um fantasma ronda as big techs, e não é do comunismo, mas a da saturação da IA. Depois de investimentos de 110 bilhões de de dólares em 2024, há um ponto de inflexão, iniciado no último trimestre de 2023 de queda de 18% em novas startups, e desde de agosto de 2025 as ações das empresas de tecnologia pararam de subir e muitas estão em queda, por um medo generalizado de que se trata de uma bolha, a dúvida é se seria como a de Internet/Telecomunicações em 2000 ou a grande queda de 2008.
Nas últimas semanas essa sensação e os burburinhos no “mercado” dão conta do temor de uma virada, ainda que os investimentos continuem alto, a supervalorização de empresas como NVIDIA, que produz as GPUs (os megaprocessadores de datacenters, a fonte principal da capacidade de resposta da IA), que segundo a Forbes , 25/11/2025:
“As ações da Nvidia, maior produtora de semicondutores usados em IA, valorizaram mais de 1200% nos últimos cinco anos. Em outubro, a empresa se tornou a primeira da história a atingir US$ 5 trilhões (R$ 27 trilhões) em valor de mercado, um mês após atingir a marca de US$ 4 trilhões. Além disso, nesse dia, chegou a responder por 8% do S&P 500, principal índice de Wall Street.”
No entanto, segundo a Forbes “Uma pesquisa mensal do BofA Global Research com gestores de fundo mostrou que 54% deles já afirmam estar em uma bolha de IA, ante 38% que não acreditam que exista uma.” Ainda que o movimento pareça vistoso, identificar uma bolha e depois seu estouro passou a assustar, a queda das ações das Big techs, representam esse temor, especialmente porque elas sustentaram a onda de crescimento da economia dos EUA e parte da política de “porrete” do governo Trump se dá pela dependência mundial dos chips da NVIDIA e o poder das Big techs, inclusive a China.
A lembrança imediata é com a bolha da “ponto com”, que varreu mercados no começo dos anos 2008, fez atrasar a telefonia celular em 8 anos, a migração da segunda para terceira geração de celular, causando perdas e quebra de tradicionais empresas, algumas centenárias, como Nokia, que dominou a segunda geração e sumiu, além da Lucent (Bell Labs), o que fez emergir empresas como a Huawei, que não foi afetada com a crise, e que deslocou o eixo da tecnologia para China (Huawei/XTE/Xiami) e Coreia do Sul (consolidado a Samsung), empresas que são dominantes na 5G e nas próximas gerações.
A IA seria um retorno dos EUA ao “jogo”, uma crise agora pode ter efeito ainda mais destruidor, ainda segundo a forbes?
“Os setores mais expostos a uma correção brusca nas ações de IA seriam aqueles que compõem a estrutura principal dessa tecnologia. Atingiriam primeiro a cadeia de semicondutores, seguida pelas empresas de infraestrutura digital e, na sequência, pelas companhias que dependem da IA para otimizar operações. No entanto, em 2025, o fenômeno é mais abrangente do que um setor isolado. De acordo com Maria Irene Jordão, estrategista global da XP Investimentos, como as empresas muito expostas à IA já representam quase metade do S&P 500 — espalhando-se por tecnologia, consumo discricionário, imobiliário e utilities — o impacto se amplia ainda mais, especialmente diante da alta demanda energética gerada pelos modelos de inteligência artificial.”
Os reflexos serão generalizados para o mercado de ações (especulativos, ou não”:
“No total, investidores estrangeiros detêm US$ 18 trilhões (R$ 97,01 trilhões) em ações americanas. Segundo a estrategista global da XP, para o aplicador pessoa física, o impacto é direto, com perda de valor patrimonial. “Quem entrou mais tarde, embalado pela narrativa de que a AI ‘não tem como dar errado’, seria o mais vulnerável a quedas rápidas.” Já para os aportadores institucionais e perfis passivos, a perda pode ser inevitável, pois a própria composição dos índices faz com que mesmo quem não se posicionou em IA esteja, na prática, exposto ao tema. “Se esses papéis caem 40% ou 60%, essa correção aparece na cota de fundos amplos, e não apenas em fundos temáticos”, afirma Jordão. Outro fator é a velocidade dos valuations. A startup Anthropic foi avaliada em US$ 183 bilhões (R$ 986,28 bilhões) em setembro, mesmo ainda operando com prejuízo. Em novembro, estimativas de mercado passaram a posicionar seu valuation na faixa dos US$ 350 bilhões (R$ 1,8 trilhões) após o novo acordo com Microsoft e Nvidia”
A reportagem da CNN Money, além do aspecto do “mercado” joga luz nos limites tecnológicos, uma primeira racionalidade diante da euforia desenfreada nos últimos anos, de que a IA é (era) a fronteira final da tecnologia, que radicalizará o conceito de “trabalho” e das atividades humanas. Uma venda de uma utopia final, um fim da história renovado, que tantas vezes tratamos aqui, tanto do ponto de vista filosófico, como de economia e política, uma espécie de resistência (humanista), sem negar a tecnologia, muito menos a história, sem, no entanto, aderir irracionalmente as modernidades, vendidas como fim em si mesmas.
Alguns dos fundamentos (produtivos, produção de valor e mais valor) se revelam na matéria da CNN:
“Os investimentos realizados no setor têm sido principal foco dos questionamentos. Os apontamentos começaram em torno dos valores bilionários aportados pelas empresas de tecnologia dos EUA após a China desenvolver uma IA própria de baixo custo: o DeepSeek. Agora, a questão que se levanta é de que o boom da inteligência artificial está criando uma “teia” de acordos entre as marcas do setor, com um fornecedor investindo no próprio cliente, assim em teoria fabricando a própria demanda. “Existe um grande risco, principalmente quando observa que são [investimentos] cruzados, porque qualquer dificuldade que alguma empresa possa passar o sistema todo corre risco”, explica Alcides Peron, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (Universidade de Campinas) e estudioso do assunto.”
Nada mais claro do que o “consumo produtivo” entre empresas, num ciclo de produção, não apenas otimização de lucros, mas de economia em escala, até mesmo se preservar de uma onda especulativa cujo fundamento é “a falta de fundamentos torna o ativo hipervalorizado sensível a qualquer distúrbio. A bolha eventualmente estoura e o preço desaba. Nesse cenário, não são apenas as empresas envolvidas que perdem, mas cada investidor que apostou nesse ecossistema”. (CNN Money).
Há uma bolha? A resposta para pergunta inicial parece clara, sim, mas a questão é outra, é qual o impacto humano desse estouro, do que se prometeu com a IA, a nova fronteira humana, se cumprirá sem a garantia de lucro e poder maior das Big techs / Trump/EUA?
Noutro artigo, quem sabe os desdobramentos políticos!