
13:31, 18.11.18.
O coração dela parou, o meu se recusou a parar.
Os números fizeram/fazem parte da minha vida profissional por 28 anos quando trabalhava com software aplicado, então as explicações de funcionamento de sistemas usando as lógicas decimais, hexadecimais e binárias, a posição dos bits (números) nos bytes para determinar uma rotina de software correta, ou quando falhavam, qual instante que eles não correspondiam, eram os desafios para encontrar a combinação perfeita, a satisfação em ler milhões de informações e decodificar aquele instante impreciso em que fazia parar um sistema inteiro, valia por qualquer coisa, a vida estudando abstrações, filosofia, literatura, música, os insight em sonhos e banhos, a adrenalina da EUREKA!
Brincar com os números, deles tirar conhecimentos, ou ter conhecimentos aleatórios que levam a entender os números, seu uso e combinações que nos levam à soluções fantásticas da vida, como forma de que a vida seja melhor, mas simples para as pessoas, facilitar seu dia a dia, no ônibus, na padaria, no bar, na diversão, no escritório, por trás dos computadores, dos celulares, das tvs inteligentes, tudo tem nossas digitais, nossos dígitos, nossos números, uma possibilidade de que numa pergunta, uma máquina lhe responda e você encontre uma luz, é pura poesia e iluminação, mesmo que vivamos nas sombras.
Ora, com tudo isso, a vida é determinada por pulso e batidas do coração na ordem de 90 vezes, em média, por segundo. Nossa pressão 120 x 80, nossa temperatura 35.6º, saturação acima de 95, leucócitos de 6000, plaquetas de 250 mil, glicemia abaixo 5,7, glicose até 99. Somos escrutinados e mapeados, mas um dia a “máquina” muda, e um parâmetro como leucócitos e plaquetas, lhe trazem uma doença sistêmica (leucemia, ou outra), então nada mais será a mesma coisa, por melhores remédios, protocolos, cuidados, um erro ou vários simultâneos levam ao fatídico palíndromo do fim: 18.11.18.
Por outra mão, não há números, lógica, racionalidade, filosofia, religião, que possa quantificar nosso amor por Letícia, muito menos a dimensão da nossa dor, o tamanho de nossa perda. É claro que nos abstraímos e vamos nos enganando, mudando de pensamento, alienando com qualquer coisa, para por instantes (breves) esquecermos o que aconteceu, admitindo o pressuposto de que o tempo “cura”, ou modifica os sentimentos, aplaca o sofrer, um conforto para os demais, pois cuidarão de seguir, o que não acontecerá com os mais próximos, cada um lidará com a ausência e saudade, não se sabe em que fração.
81 meses, 81 vezes que o dia 18 bate em nós, 323 domingos.
Quanta saudade e quanto amor!