O comercial de 70 anos de Brasil da VW é absolutamente lindo, uma obra de arte e de tecnologia. Fez uma genial fusão de kombis, a icônica e a futurista, com mãe e filha, Elis Regina e Maria Rita, o que traz enorme comoção e ao fundo a música do cearense Belchior, “Como nossos pais”.

Dito isso, vamos aproximar o zoom. A VW é uma das empresas que financiou, reprimiu e torturou brasileiros na ditadura civil-militar, tendo departamento de repressão e de dedo-duro de militantes, essa prática foi condenada recentemente numa ação de reparação movida pelas vítimas, a VW fez um acordo sobre seus crimes na ditadura.

Elis Regina foi uma das vítimas da Ditadura, não menos Belchior, como também grande parte dos artistas brasileiros, alguns expulsos, presos, torturados, ameaçados e expostos, além de suas obras censuradas ou mutiladas pelos milicos.

Elis e Belchior eram engajados politicamente, aliás, a canção do comercial é libelo de protesto, jamais se coadunaria com uma propaganda de uma empresa que colaborou com a ditadura. Não custa lembrar que VW teve promíscuas relações com o nazismo.

Tudo isso foi esquecido e embalado, e deu-se o milagre do apagamento na construção de uma narrativa fake, nem a ironia de “sermos como nossos pais”, foi entendida como tal.

A bela peça, uma obra de arte, não se dissociará da história, é preciso uma análise crítica, especialmente quando essa mesma VW há duas semana, impôs férias coletivas aos funcionários, como clássica forma de pressão ao Brasil, por mais incentivos fiscais e outras vantagens.

A história é vida e em constante movimento, mas nunca para esquecer ou apagar, sim para não se repetir os erros e crimes contra a humanidade.

Ao fim e ao cabo, o belo comercial nos convida à reflexão.

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