“E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado”
Ora, se Milton Nascimento desafia a lógica com sua voz, que tantas vezes me faz pensar que se existissem anjos, eles teriam a voz de Milton. Com Chico Buarque a complexidade é ainda maior, a beleza estética seduz o mais contidos dos homens, nem posso imaginar o que provoca nas mulheres. Ah, aqueles olhos, aquele charme, o sorriso sempre largo e verdadeiro, que timidez, nada tem.
O Francisco Buarque, filho de dois grandes intelectuais do Brasil, Sérgio Buarque e Maria Amélia, deve ter nascido e crescido com esse “peso”, ao mesmo tempo, com a dádiva de um DNA impar, superar, especialmente a sombra do pai, ser filho de Sérgio, não parece ter sido fácil, olhando daqui de longe. Depois, Sérgio virou o pai do Chico.
Cada um de nós, de nossa idade e acima, como também para os mais jovens, tem o “seu” Chico Buarque, a sua forma de identificação com o maior compositor brasileiro, da segunda metade do século XX, do escritor genial, aquele que facilmente transitou da poesia para prosa, e fez o caminho de volta, e novos retornos com a mesma intensidade, que só apenas os gênios conseguem, tendo em nós fãs e admiradores a pedir um “bis”.
Chico entrou em minha vida, se bem me recordo ouvindo as músicas de minha irmã mais velha, em meado dos anos de 1970, entretanto, apenas no começo dos anos 80, definitivamente passei a ter nele a referência musical, intelectual, nesse sentido, Construção foi a música que mudou a minha forma de entender uma poesia, a minha relação com as letras e a compreensão da perfeição poética.
Uma poesia cartesiana, caprichosamente metrificada, sem uma única palavra fora do lugar, feita por um engenheiro, um arquiteto, um matemático, mas, antes de tudo, um filósofo.
Na época dava os primeiros passos no curso técnico de Telecomunicações, entretanto meu viver eram as ruas do movimento estudantil, vindo da periferia de Fortaleza, encantado com a poesia, as moças bonitas e pelo Chico. Ou poderia ser o contrário, inspirado por Chico, olhava as moças, cantava poesia, enquanto ia para as ruas para derrubar a ditadura.
Agradeço ao Chico, por ser parte fundamental de minha vida, de nossa geração heroica e trágica, que venceu uma ditadura, chegou ao governo, decaiu, sem jamais Chico envergar, deixar de ter LADO, o nosso lado, o lado do povo, da sensibilidade humana e da vida.
Viva, Chico, parabéns. Vida longa, lindo e poético como sempre.
Que história!! Me reportou aos tempos de adolescência, linda música!
Obrigada pelo post. Ele merece todas as homenagens possíveis. Vida longa para Chico! Um abraço, Arnóbio.
Meu amigo Arnóbio, que texto espetacular!
Todos os textos escritos por você que tive a oportunidade de ler são sensacionais, mas esse em particular, está magistral! Parabéns! Sou sua fã.
Chico é o homem do ano de todos os anos ,homão da porra !!!!