“Deus me deu perna comprida e muita malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia”
(Partido Alto – Chico Buarque)
Hoje partiu o pequeno/grande Gabriel Rodrigues, militante estudantil e político de São Paulo, uma criança, 19 anos, provável que fosse candidato pelo PSOL a vereador, era o que se comentava no movimento, um sonho roubado de todos nós.
Por tantas vezes encontrei aquele moleque destemido nas ruas, em todos os lugares e em qualquer tipo de manifestação, não importasse qual fosse o tema, Gabriel estaria lá.
Franzino, frágil, bem humorado, inquieto, corajoso e um olhar que tinha uma tristeza mal disfarçada, a luta era dupla, a luta em si e a de ser aceito, admirado.
De toda sorte havia uma identificação com minha própria trajetória, de um jovem da periferia que passa a participar de um cenário tipicamente de classe média, branca, bem-nascida, que olha atravessada aquilo que não lhe é espelho. Então apenas com pernadas e caneladas, Gabriel (e eu mesmo), abriu o caminho, uma afirmação iniciática da juventude que se encanta pela utopia de uma sociedade igualitária.
Em muitas manifestações do ano passado para cá, com a responsabilidade de acompanhar como “Observador Institucional”, pela Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, chegava ao lado de Gabriel e lhe pedia calma, menos exposição, para não ser preso à toa, não se por em risco.
Era uma forma de mostrar meu carinho, de que ele era querido, mesmo quando lhe era duro, sentia uma dor estranha quase como uma relação de pai para filho, de proteção, cuidado, pois me via nele, por ter feito movimento estudantil, por ter lutado nas ruas pela democracia, no final da outra Ditadura.
Um duro golpe se abateu sobre todos nós que o conhecemos, pois aquele jovem militante era a vida, lutava pela vida, por sonhos de vida, hoje ele se foi, uma parte de nós, morreu.
Gabriel, Presente! Hoje e sempre!