O momento do mundo se revestiu de complexidade por uma partícula, microscópica, um pequeno vírus, que passou a atormentar impérios e crenças de poder, ao mesmo tempo que alimenta ganância e corrida por mais controle sobre a vida ou morte das pessoas..O medo nos levará não à segurança, solidariedade, mas a mais medo e restrição de liberdades fundamentais, em nome da “segurança”.
O processo de isolamento nos leva a uma tristeza maior, dentro de nossas bolhas, do medo do contato e do contágio, à higienização de mentes e ideias, como se isso nos salvasse de males maiores, ou uma sobrevivência mesquinha, pois a morte nos ronda, nos reduz ao dilema maior da vida, a nossa doce, ou amarga, finitude.
Talvez nem individualmente, menos ainda, coletivamente, escaparemos do destino que nos aguarda.
Publiquei nesses dias as listas de filmes, livros, músicas (Canções Para que o Mundo não Acabe), para suportar a “quarentena”, que nos é imposta pelo nosso medo e pelos nosso limites, e A Crônica do Fim do Mundo que Não Acaba. entretanto sempre tentamos algo novo, novos filmes.
Ontem vi um filme, que parecia apenas uma estória de adolescente, aliás, Romeu e Julieta, antes de ser um clássico, é apenas uma historieta juvenil, dois jovens, se apaixonam e deu no que deu.
Por Lugares Incríveis (Netflix), dirigido por Brett Haley, é uma delicada estória de tragédias que alcançam a vida dos jovens, nos seus piores momentos de afirmações, pessoais e de grupo, não importa se isso se dará no interior do Piauí, na Macedônia, em Nova York, ou em Indiana. Os elementos comuns são os mesmos, perdas, medos, aspirações, amores e passagem.
Violet (Elle Fanning) e Finch (Justice Smith) não são personagens shakespearianos, mas poderiam ser, suas vidas se encontram numa ponte, numa passagem, em estágios que separam o superior do inferior, nada dirão, apenas que uma mão seja estendida no desespero, no limiar da enormes incertezas do que é a vida, não se é mais criança, menos ainda, adultos, apenas o limbo, ou seria o purgatório?
Fugir e conhecer a vida, o campo, o lúdico, para que a vida ganhe cores, entre elas, o amor, a paixão, o sexo, para que a mão estendida volte o braço, o abraço e beijo. Mesmo assim, as dores da alma, podem não ser completamente superadas, porém como a estrela que brilha por pouco tempo, intensamente nos encanta e nos ensina o prazer e as dores do viver.
É quase um conto de outono, a estação em que transcorre a ação, esqueçamos os clichês, concentremos na brevidade da vida, dos encontros e desencontros, daquilo que nos salva e nos mata a cada dia.
PS: Pessoalmente me atingiu forte, chorei horrores, de soluçar, por tudo que tenho vivido nesses últimos anos, a identificação com minhas pequenas vidas, minhas filhas, a que partiu, as dores da que ficou.