Nenhum amor ou uma dor é maior do que a outra.
Costumo ouvir, ler de que nenhum pai/mãe deveria enterrar um filho, concordo, sem dúvida, entretanto isso não me torna premiado ou que haja maior pesar, em relação a mim, todas as dores, são importantes, pois atingem cada um de acordo com sua própria resistência, ou sua vulnerabilidade.
A morte é uma certeza, cruel, que virá um dia, ninguém pode mudar essa sorte ou escapar desse destino. Poucos conseguem efetivamente ter a tranquilidade de enfrentar tal desígnio. O que não era diferente comigo, pois,por muitos anos este era meu maior pavor, o de morrer. Hoje, nada me diz, aprendi da pior forma, com a morte da minha filha, Letícia, sobre a brevidade da vida.
Escrevo mês a mês sobre minha filha, os sentimentos pelos quais passo, como vão se modificando e o que produzem a cada dia 18. Este é o décimo quinto mês de sua partida, para aquele lugar abstrato, que apenas quem tem fé acredita ser melhor. Escrevo como se essa marca mensal fosse um passo, de um lado o meu, dou outro, o dela, mas a sensação é que meus passos são circulares, volto ao mesmo lugar.
Aliás, a terrível sensação recorrente de que estou na maldita UTI do hospital Samaritano e seu atendimento, conosco, horrível e indigno, provoca um cansaço enorme, uma dor de derrota, de que não fiz nada, por tudo vivido ali, não consegui lutar, gritar alto. Isso me aprisiona e funciona como uma âncora, que não sairei desse porto, que fiquei afundiado para sempre, as águas batem no casco para que não esqueça, ela me pedia água…e não dei.
Minhas dores não são para despertar compaixão ou para que alguém possa relevar as minhas falhas e erros, cada um carrega seus fardos, não há razão para dividir os meus, não por arrogância, falta de humildade, apenas pela certeza dos nossos próprios peso que todos temos que suportar em nossas vidas.
Viver com consciência é um enorme prazer, conhecer, saber, ao mesmo tempo uma punição, principalmente para quem, tenta manter uma certa lógica e coerência no que defende. A pior consciência é da luta e incerteza da sobrevivência, de ter uma forma de conseguir realizar sem pisar, trapacear, enganar, sem puxar o saco, apenas pelo mérito paciente e justo.
Ainda que não saiba para onde esses passos me levarão, há uma série de responsabilidades pessoais, sociais e politicas, que tentarei cumprir, algumas por absolutamente necessidade, outras por teimosia, e outras para que valha a pena viver, sem esperar nada de mim, nem de ninguém.
Nesse circunlóquio, algum método sobreviverá. A certeza é que minha existência se tornou bem menor, é inegável, por outro lado, a minha exigência também é proporcional a ela, às vezes é apenas desespero para encontrar um caminho.
Eu só conheço
Esse caminho
Do Paraíso
Gostaria de falar algo bom,mas tua dor é maior….