“Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero”
(A Casa – Sergio Bardotti / Vinícius de Moraes)
Não deveria haver qualquer dose de moralismo no combate político e nas lutas políticas, para que não se transforme, ou se dilua, as reais necessidades gerais em mera indignação, que na maioria das vezes, é seletiva. A escandalização faz parte de uma prática política que sempre leva a um sentimento de impotência, pois nem sempre são tudo aquilo que se propaga, e muitas vezes é mera manipulação de informações, sem provas.
São estarrecedoras as relações entre o Senador Flávio Bolsonaro e pessoas envolvidas com o crime no Rio de Janeiro, que, segundo o Ministério Público, indicam lavagem de dinheiro e outros ilícitos, tais como, a prática de “rachadinha”, contabilidade fantástica de uma franquia de loja chocolate, compra e venda de imóveis, além de um patrimônio incompatível com sua renda.
O tratamento deve ser em dois níveis bem claros, que se apure e se prove, o quanto denunciado, não apenas mais um escândalo, que ganha maior relevo por se tratar do filho 01 do Presidente e porque vários desses personagens têm/tinham vínculos, com o próprio Presidente, que, partiu para a desqualificação dos que denunciam o filho e, ao mesmo tempo, se dissocia do próprio filho.
A forma jocosa e depreciativa com que o Presidente tratou os jornalistas hoje revela, mais uma vez, alguém absolutamente inadequado ao cargo que ocupa, eleito da forma como foi, com toda a sorte de fakenews, como também pela imensa conveniência da mídia, dos empresários e de uma classe média cínica, alimentando um ódio político como poucas vezes visto no país.
O país está à deriva, há pelo menos 5 anos, quando se criou um imenso impasse político, depois da reeleição acirrada de Dilma. A economia que floresceu nos anos do governo Lula e na primeira parte do mandato de Dilma, sofreu enorme abalo, com os efeitos da crise de 2008, que havia sido postergada, com as medidas anti-cíclicas de Mantega, os incentivos fiscais, baixa de juros, só se sustentaria com os empresários investindo o que receberam, ao contrário, entesouraram os ganhos e deixou a conta unicamente para o Estado.
A explosão de revolta em 2013, foi o sinal maior de que a condução econômica tinha se esgotado, o pacto político de FHC, depois de Lula, já não respondia aos anseios de uma classe média que perdia privilégios, que não aceitava novos atores, ao mesmo tempo, a chamada classe C, criada nos anos de ouro, se iludia com a falácia de meritocracia.
Esse desarranjo político, elegeu um congresso dominado por Eduardo Cunha e a pauta moralista da Lava Jato, ganhou corações e mente. O último “engano” foi a reeleição de Dilma, que fez uma campanha à esquerda, porém, no desespero, chama a Direita neoliberal para o controle, o tiro de misericórdia. Sem chance de defesa, a queda foi rápida e inevitável.
O caminho para baixo, apenas começou com o Golpista Temer, suas reformas que aprofundaram a crise econômica, levando a conta para os trabalhadores.
A terra arrasada tem em Bolsonaro sua maior expressão, a figura bizarra, folclórica, vira “mito”, uma onda ainda mais selvagem tomou conta do Brasil, o que se reflete nesse 2019 desastroso, inacreditável como se chegou tão longe, como se conseguiu destruir 25 anos de uma relativa estabilidade política e institucional, tudo ficou à deriva, sem expectativa de uma mudança de rumos, necessária e urgente.
É nesse contexto que explodiu a maior crise no colo do Presidente, sua família e as relações dela com o que há de pior no Rio de Janeiro, a milícia, se torna pública, entretanto o grau de cinismo que tomou conta do Brasil, impede uma análise lógica do que está por vir, o Presidente vai rifar o filho? Vai continuar a bater nos que lhe fazem perguntas, vai emparedar as instituições?
São incertezas razoáveis de um ano, 2019, de retrocesso completo, quase se revogou a lei áurea, sem exagero, pois, no mais, todo e qualquer avanço civilizatório pós constituição Federal foi atacado e/ou desmontado, desde os conselhos, passando políticas públicas, sociais e humanas até as conquistas de educação e de saúde.
O que virá em 2020, desconfio que 2019, não vai acabar em 31 de dezembro.