1586: Plúmbeo

Todas as energias, nenhuma luz.

É como se encontra meu coração, minha mente, minha visão, é a cor da minha vida, nada mais, nada a menos. A dureza do chumbo e sua cor estranha tomou conta do meu ser. Anos e anos de uma queda em espiral, de provações terríveis, que abalariam um cristão, um crente qualquer. As dores de Jó ou de Sísifo, que se multiplicaram por mil, há quase um ano.

Tudo e mais um pouco do que podia escrever, já o fiz, todas minhas veias estão abertas, já não há mais o que sangrar, a pele perdeu a cor e o viço, os olhos não brilham mais. Algumas vezes me pergunto a razão de tudo isso, ou por continuar, seguir em frente, para onde mesmo? Vale a pena ir, a certeza é de que apenas novas dores se somarão as pretéritas, nem as sinto mais, receio de que vire mais cínico, se já não sou.

O Plúmbeo encobre os raios de sol ou brilho da lua, uma estranha sensação de que a vida é um efeito da inércia, não por impulso próprio, o corpo e a mente, paralisados, tudo segue em volta, veloz, corrido, uma consciência de que as ideias, as melhores, se dissolvem como os anelos ao vento. Nada é possível de ser tocado, alcançado, aquele objetivo “corporativo” parece uma piada tosca, mais uma.

As situações posteriores, à partida da Letícia, despertaram uma coragem inabalável de que nada me atingiria, uma bomba de gás lacrimogêneo ou uma bala de borracha, um policial que ameaçasse, entrar e sair de uma viela de uma favela, de um bairro desconhecido, das ruas da cracolândia. A noite ou de dia, nada disso não dá mais medo, a vida não é mais um eterno temor de sua finitude.

Protejam seus castelos, suas casas, seus ouros, seus carros, seus celulares, sinto muito, a vida não é isso, não pode ser isso. Aliás, essa ilusão, faz dela pior, mesquinha e nenhum pouco solidária, com fome, miséria e violência; apenas o vil metal.

Que a vida seja doce para todas e todos, que o chumbo das minhas palavras não os contamine, apenas vivam.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

2 thoughts on “1586: Plúmbeo

  1. Cara, de 2016 pra cá entrei numa fase daquelas tb. Perdi um amigo de 30 anos, perdemos duas bebês eu e minha esposa que dói muito e desistimos de ter filhos, perdi meu sogro que era um segundo pai e ano passado perdi minha mãe e meu pai caiu de cama e tá difícil se reerguer, acho que nem vai mais, com 79 anos. Vida adulta deve ser isso ai. Administrar perdas e crises. Pense que vc ainda tem sua outra filha e ela vai precisar muito de vc. Não se entrega não. Viver requer coragem mesmo. Força partisano! Vai Corinthians!

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