“Como é terrível a sapiência
quando quem sabe não consegue aproveitá-la!
Passou por meu espírito essa reflexão
mas descuidei-me, pois não deveria vir” (Édipo Rei, Sófocles)
E Tirésias, via, apesar de cego, e sentia pelos dois sexos, pois os dois sexos, ele já tinha experimentado. A luz da alma, a “visão” e intérprete maior dos mistérios divinos. Aquele que destruía qualquer ilusão, não importava se Édipo poderia sustentar a dor, sobre se sua mãe/esposa, o adivinho é convocado e mesmo tentando dissuadir de que a verdade poderia matar.
Quanto de nós aguentaria a verdade, seja ela qual fosse? Algo de mistério, ou de dor, envolve a psiquê humana para que se resista a saber sobre quem é seu interlocutor. Hamlet luta em confrontar sua mãe e ao seu padrasto, o fantasma lhe revelara o veneno, o ódio, o opróbrio da existência de tão dura traição. As vacilações, em regra, partem do medo da verdade, qualquer uma.
Muitas vezes é melhor julgar o outro do que enfrentar o espelho. Mais simples dizer: Infelizmente você não é confiável. Assim nos livramos de nós mesmos, do que somos, passando ao outro, os nossos demônios, nossa capacidade vender facilidades, de não entendermos a complexidade de cada fenômeno. A vida é assim, inspirados por mitologias ou personagens, somos o que somos.
Algumas sutilezas até nos tornam, um pouco, diferentes, mas no geral a consciência de si, não nos basta, pois assusta, como fez a Édipo ou a Hamlet, ou faz a um ser comum qualquer, um de nós, sem nada especial, mais um viajante desses tempos sórdidos, atuais ou passados. A leitura do hoje, a tensão destruidora do ponto de ebulição social é sempre o mesmo, a alma humana é a mesma.
Épocas apenas mascaram o que efetivamente cada um nós é, de cima ou de baixo, os arquétipos se manifestam, conscientes ou não, reproduzimos nossa loucura/lucidez. Ter consciência pode ser dolorido, ou engraçado, mas não escapamos jamais, da prova de Narciso, mergulhamos no rio, com medo ou apaixonados com o que vemos, mas não enxergamos, queremos tocar para sentir, se é real.
Quanto mais sabemos de nós mesmos, mas nos assustamos, melhor a ignorância, a alienação de não pensar, apenas ir, quem sabe julgar, usar nosso metrom, assim afastamos os olhares perversos, sejamos abutres do outro, fácil e certeiro.
As reflexões servem para ir além de nós, buscar algo melhor, não uma fuga da realidade. Quem escreve se expõe e amedronta aos que preferem a escuridão.
Quero a luz, que se faça a luz, que tragam a luz.
“Sou livre; trago em mim a impávida verdade!” (Édipo Rei, Sófocles)
Para mim, as reflexões que tenho feito tem realmente uma serventia terapeutica.
Melhor ainda quando desenvolvemos a capacidade de descrever os sentimentos envolvidos nessa reflexão.
Muito bom, gostei.
“As reflexões servem para ir além de nós, buscar algo melhor, não uma fuga da realidade. Quem escreve se expõe e amedronta aos que preferem a escuridão.”