“A fraternidade durou exatamente o mesmo tempo que o interesse da burguesia esteve irmanado com o interesse do proletariado” ( Marx, artigo na Neue Rheinische Zeitung, 29 de junho de 1848)
O Centro da Luta de Classes no Brasil é a prisão de Lula. Qualquer coisa fora dessa visão, está fora da Luta de Classes, é apenas desejo, não realidade. Dito isso, as enormes contradições se abrem para os dois lados da renhida luta, e muitas contradições se abrem no seio da classe trabalhadora e do povo, nenhum lado é homogêneo, o que torna mais complexa a análise.
O cenário da economia brasileira de que parou de cair, doce ilusão, com uma recuperação minúscula, não faz com que os músculos do Kapital se tornem mais fortes e consistentes. Porém a ofensiva sobre a classe trabalhadora foi uma das mais selvagens da história recente, os ataques em várias frentes, com uma brutalidade poucas vezes vistas no Brasil.
Os cortes nos direitos sociais e trabalhistas, serão sentidos por vários anos. O enorme desemprego e o subemprego, baixos salários, em substituição às vagas existentes demonstram a força do Kapital em impor sua agenda, nesse momento, a queima de força produtivas é vital para que a Taxa de Lucro se retome aos patamares anteriores e garanta o ciclo do Kapital.
Entretanto o fôlego dessa recuperação pode ser uma simples ilusão, pois a economia mundial se encontra no ponto de uma nova grande crise, a de superprodução de Kapital nos EUA, não acompanhada na Europa e na China, ameaça uma nova ruptura, com previsões piores do que a de Crise de 2008. O Brasil voltou a queimar suas empresas estatais a preço de banana, mesmo assim com pouca atração, além da desconfiança generalizada nos Golpistas, as próprias incertezas do Kapital impedem um novo aporte para esses lados.
O Brasil do Golpe vive suas próprias contradições e descompassos, a situação complexa desse buraco político-jurídico-ideológico que o país se meteu, que de alguma forma guarda semelhança à Ditadura, sem milicos, mas com civis protagonistas, usando o judiciário como cabeça-de-ponte, não cria ambiente de solidez para atrair novos investimentos, nem mesmo do Kapital abutre.
Do lado da classe trabalhadora, o refluxo do movimento sindical e social são evidentes, por razões óbvias, externa: GOLPE, desemprego, ataque brutal aos direitos trabalhistas e sociais, a miséria que voltou à ordem do dia. E razões internas: Os anos de distanciamento do movimento social, burocratismo e sugados pela institucionalidade burguesa, hoje, cobra um preço alto demais, o que explica a facilidade do golpe e da rapidez do processo contra Lula.
Obviamente esse é um curso, um processo, que não se deu em 2013 ou 2016, mas um longo caminho que a esquerda, o PT em particular, trilhou. A decisão consciente de um novo eixo levou às alianças cada vez mais amplas, mas que permitiu chegar ao governo central. Contraditoriamente, os Governos Lula I e II e Dilma I, tiveram vários avanços econômicos e sociais, mas esse sucesso teve alto preço, vacilo e adaptação integral ao Estado e sua máquina, abandono das ruas e pouco apreço aos movimentos sociais.
O reflexo dessa adaptação se sentiu nas terríveis nomeações ao STF, STJ, PGR, PF, o que facilitou enormemente no estado de coisas atuais. O GOLPE foi um passeio no parque, nenhuma resistência social, política ou jurídica, o medo dos paneleiros e dos patos da Paulista/Leblon, facilitou o serviço da Globo e seus acólitos, que deu todo o combustível à famigerada lavajets.
A cereja do bolo é a prisão de Lula, mais uma vez sem resistência de massas A Direção Política se fragilizou enormemente, aliás, em certa medida, ela implodiu.
Essas reflexões não apontam dedo para ninguém, não há uma necessidade caça às bruxas, mas de uma profunda autocrítica, se acharem que vale fazer, sem que nos paralise e fiquemos reféns de um ato de contrição, do “eu pecador”, longe disso.
Deve-se afastar de qualquer teoria da conspiração de que há “lucro” na prisão de Lula, que torná-lo mártir trará benefício para alguém, ou alguns, ao contrário, seu cárcere, é nossa prisão, de alguma medida, expõe nossa fragilidade e mazelas. Vivemos espasmos de espontaneísmo, voluntarismo e pouca clareza do momento trágico que estamos passando e passaremos mais, por quanto mais tempo Lula estiver preso.
Contraditoriamente, percebe-se que há, nesse ambiente caótico, um arvorecer de resistência, pequeno, mas muito consistente, surgindo e abrindo espaços generosos para novas lideranças, especialmente Boulos (PSOL), Manuela D´Ávila (PC do B), dos senadores petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffman, que estão na linha de frente do combate ao Golpe.
É importante destacar que a volta de uma militância que vende camisas, broches, que faz o trabalho miúdo, de ver os antigos figurões, deputados/vereadores, ali no meio do povão, não mais descendo de carro com motorista para falar em comícios/atos e sumirem depois. Agora têm que discutir, ouvir, retornar de onde saíram, parece pouco, mas é um momento diferente, de reconstrução.
Como grande contradição desse momento é que se pode dizer que: Nunca se fez tanta política em tão pouco tempo como nesse mês, a necessidade de fazer alguma coisa de concreto despertou essa militância, em todos os campos, na política, nos sindicatos, nos movimentos sociais e no meio jurídico. Todos misturados, não apenas na defesa de Lula, mas da Política e da Democracia.
À Luta!
Arnóbio, és brilhante camarada!!!