Paixão, insônia, doença
Liberdade vigiada
No beco escuro explode a violência
No meio da madrugada
Com amor, ódio, urgência
Ou como se não fosse nada
Mas nada perturba o meu sono pesado”
Nem saímos de uma tragédia, emendamos em outra pior. O país está em queda livre, por mais que repitam cinicamente “as instituições estão funcionando”, a realidade os desmente, dia após dia. A Democracia sofreu um duro golpe, em 2014, com a recusa do candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB) em reconhecer o resultado de uma eleição legítima.
O discurso pós-resultado foi de guerra e de não aceitação das urnas. Imediatamente convocou toda sorte de celerados para impedir a governabilidade. Foram às ruas convocados pela grande mídia, sem nenhuma chance de ouvir o outro lado. O clima de acirramento e a fragilidade das alianças, combinado ao vice golpista, em menos de dois anos colocaram abaixo não uma presidenta eleita, mas a própria Democracia.
A sequência vergonhosa de votações nas duas casas legislativas, a omissão terrível da Suprema corte foi fatal para o sucesso do golpe. Obviamente que sanha golpista não pararia ali, os pacotes de maldades votados à toque de caixa, apontam para o maior retrocesso nos direitos em 70 anos de CLT.
A quase impossibilidade aposentadoria é um escracho contra os trabalhadores que é comemorado de forma canalha pela mídia. Como se não bastasse a aprovação de cortes em saúde e educação por 20 anos, sem que haja uma reação.
Mas a tradução dessa barbárie só se consubstancia efetivamente na vida, quando nas relações privadas o ódio se torna a principal força motora do cotidiano. As relações humanas e sociais se esgarçaram de forma irremediável em espaço mínimo de tempo.
A tragédia de Campinas reflete exatamente o mal destampado nos últimos anos, esse foi pacientemente cultivado e alimentado nos portais de mídia, liberando todos e quaisquer comentários, de ordem machista, homofóbico, racista, ódio, preconceito e uma sucessão de mentiras tolas que viraram “verdades”, especialmente contra o governo petistas e/ou seus principais militantes.
Agora explodiu o barril de pólvora da guerra entre facções criminosas, que comandam o crime de dentro das cadeias, verdadeiros depósito humano, medieval e cruel, que fornece mão de obra ampla ao crime. No complexo Anísio Jobim, em Manaus, feito para 580 presos, abriga quase 1600. As notícias dão conta de que o número de mortos varia entre 56 a 150 presos, em Manaus.
Tudo isso apontam uma tendência de aumento da guerra civil não-declarada que ceifou a vida 270 mil pessoas entre 2005 e 2015 por morte violenta.
A espetacularização do massacre de Campinas com a divulgação da carta do sociopata acaba sendo bem mais complexo porque traz ao cotidiano esses crimes bárbaros cujo móvel é o fascismo criado em redes sociais. A soma de machismo e misoginia temperado com liberalismo tosco e radicalismo religioso, pode ser explosivo em breve. Esses ataques comuns nos EUA parecem que serão imitados por essas bandas, a imitação da tragédia, como farsa.
O que nos parece é que 2017, infelizmente, aponta para uma perspectiva de uma grande ruptura política e social (já descrito aqui:Explosão da miséria no Brasil), alimentada pela crise generalizada da Economia, que expulsou milhões de pessoas do trabalho, além dos drásticos cortes nas políticas sociais impostas pelo golpista, mas seguida cegamente por todos os governos, inclusive os de esquerda.
A barbárie é logo ali, ou melhor, é aqui.