O revolucionário russo, Leon Trotsky, se fosse brasileiro com certeza, ao invés de criar a teoria da Revolução Permanente, teria criado a tese do Golpe Permanente, pois, parece que está no ethos da elite brasileira o gosto pelo golpismo, não importa qual seja o governo, obviamente que, os identificados com o povão são as suas vítimas prediletas: Getúlio, Juscelino, Jango, Lula, Dilma, são exemplos clássicos.
Entretanto, a sede de golpe, ou de golpe dentro do golpe, é tema recorrente, que alimenta o desejo e a tara dessa elite, nem um pouco afeita à Democracia. Ainda em maio de 2016, apenas uma semana após a posse do golpista de plantão, apontei aqui (O Golpe Dentro do Golpe?), esse apetite de derrubar e de golpear a quem sentar no “trono de ferro”. Os atores e tramas afiariam suas facas.
As vertentes em luta, são, por um lado, os tradicionais políticos conspiradores ligados ao PSDB, que não digeriram as derrotas eleitorais seguidas e, até suas lutas internas fratricidas (FHC x Serra x Alckmin x Aécio, todos contra todos) impulsionam a disputa. Dificilmente aceitariam um governo Temer, um eterno político decorativo, secundário, sem nada a oferecer de saída ao país, além de ser ligado umbilicalmente aos escândalos de corrupção, o que lhe enfraquece enormemente, tornando-se presa fácil na luta.
O outro lado, é o ligado aos golpismo anti-política, expresso no judiciário, no ministério público e na polícia federal, os concurseiros da meritocracia, que querem se afirmar como os dignos representantes de uma nova casta, a dos puros, sem pecados, que lutam contra a corrupção. Com grande apelo midiático, desde a famigerada e destrutiva Lava Jato, que serviu para derrubar, efetivamente o governo petista.
Nesse ambiente, volto ao texto de maio, que, “A questão fundamental, e grande mérito, do Governo Golpista de Temer, é que ele trouxe de forma explícita a agenda do “Novo Estado”, do Estado Gotham City, não precisamos ficar elucubrando o que seria um governo de Direita, alinhado aos interesses dos EUA, agora temos na prática o que realmente querem, sem meio termo. (ver Os Dez Dias Que Abalaram O Brasil). Isso não significa que Temer-Serra-Cunha serão capazes de implementar qualquer uma dessas políticas, pois a costura política é bem complexa, difícil e sem respaldo de um governo que não teve voto, não expressa o desejo das urnas. Além disso, o ódio criado na sociedade não será pacificado, não existe governo de “salvação nacional” com um ministério tão medíocre”.
Com o golpe confirmado, a luta entre eles, se destampa, ainda surda, mas será explícita em breve, neste aspecto, a Lava Jato, voltará ao centro, pois ela serve aos interesses mesquinhos, sempre pronta a ser defendida na mídia, mas pronta a ser impedida de seguir, ainda que usada seletivamente, antes contra o PT, agora ameaçando o PMDB. Assim, repito, que o “ponto de tensão evidente, é como cuidar do poder dado à “república de Curitiba”, o tribunal de exceção gostou da brincadeira, pior, se acha numa ação divina, salvação moral e messiânica do Brasil”.
A desmoralizada revista Veja, traz na sua capa desse fim de semana, a matéria fala sobre a demissão do ministro da AGU, Fábio Medina Osório, que caiu atirando, denunciando que o Governo Temer quer parar a Lava Jato, impedir sua continuidade e proteger os corruptos. Bem, conhecemos esse roteiro, quem influencia a revista e a quais interesses estão por trás.
Portanto, não será nenhuma surpresa que haja, em breve, um desembarque geral do governo Temer, as constantes vaias, as manifestações que se avolumam, a economia que não reage, mas, principalmente, a ambição dos golpistas dos golpistas, de que é possível derrubar rapidamente o fraco Temer. Mais uma vez a lava jato será o instrumento de mobilização dos incautos, o apelo midiático se garante acriticamente, como sempre.
Os próximos lances serão tensos. Parece-nos claro que, ao aprofundar o golpe, não será pela democracia, ao contrário, poderá, inclusive, recrudescer a repressão. As liberdades já estão em riscos hoje, a tendência, em movimentos assim, é de que as tirem todas, como se a “pausa democrática”, precise de um ponto de reinicialização, zerando tudo, aí, a violência, as perseguições serão amplas e aberta.
Impossível uma transição pacífica, quando se golpeia as instituições.
Temporada de caça (ou cassa) à vista!