A vitória de Dilma, a primeira Presidenta eleita no Brasil representava, entre outras coisas, um duro golpe no machismo, essa chaga humana, peça fundamental de poder, em todas as sociedades divididas em classes, em todas as épocas históricas. A submissão da mulher ao homem, é o primeiro conceito ensinado em casa, na escola, na religião e na sociedade.
O simbolismo de uma mulher ser a principal liderança numa empresa, num sindicato, no caso de Dilma, de um grande país, tem um valor histórico inigualável. A aceitação dessa liderança jamais seria pacífica, primeiro por ser mulher, depois pela ideologia que ela carregava, sua longa história de luta e vida, a oposição “consciente/inconsciente” estava diretamente ligada ao machismo, tanto à Direita, como também à Esquerda (infelizmente).
Como escrevi antes (O Machismo de “Esquerda”): “O machismo é uma miséria humana, une direita e esquerda. Desconfio que ambos querem tutelar Dilma, por essa razão inconfessável. Pouco me importa com o machismo da direita, mas me dá nojo, essa esquerda que trata a Dilma como inepta. Aquele povo que dá “conselho”, que tenta “ensinar” como governar, a mim, é onde mais se revela o machismo oculto”.
Do lado de cá, parecia muito óbvio a impaciência para com Dilma, ainda nos meses iniciais, quantos companheiros e quantas companheiras, inclusive, tratavam a presidenta como inepta ou inapta ao cargo. Às vezes parecia apenas uma saudade de Lula, mas quando olhado de perto, era a praga do machismo que se impunha, muito acima da consciência política ou de classe.
Obviamente que do lado de lá, a desqualificação de Dilma foi feita por sem número de jornalistas e políticos, alguns desses algozes, eram mulheres, talvez até a mais odiosas em relação a ela, um capricho do machismo patronal, a quem tantas devotam uma obediência servil, parecia ter mais prazer em atacar outra mulher.
A questão inicial era masculinizar Dilma, fazê-la parecer um “macho-de-saias”, ou de calças, distanciando-a de qualquer feminilidade. Complementar a essa desconstrução de imagem, a questão da “beleza” ou ausência dela, as roupas usadas, as cores, tudo para desvalorizá-la, ainda que Dilma tenha mais de 60 anos, seja avó, não teria o apelo sexual, de que tanto precisam para diminuir o valor da mulher.
A queda de Dilma traz à luz um novo conservadorismo machista, que ameaça nossa terrível mediocridade política. A Senhora Marcela Temer, casada com o Golpista, que se faz de Presidente, tem mais de 40 anos de diferença de idade em relação a Sr Temer. Tanto o marido, quanto a mídia, parecem usar a sua jovialidade como se fosse um troféu, um frescor, em oposição à “mulher-homem” que ocupava o maior posto. A indefectível Veja fez-lhe o perfil: “Bela, recatada e do lar”, como uma apologia à mulher, a que realmente tem valor.
Aquilo que parecia apenas um escárnio, da publicação estúpida, tornou-se lema de toda a mídia, a Sra. Temer, seus vestidos, seus penteados, são vistos como uma mensagem daquilo que o “marido quer passar ao país” (Folha de S. Paulo, 08/09/2016). A imagem dela será a de antítese de Dilma, sua beleza em oposição a pretensa feiura, seu recato contra a mulher pública, sua vida doméstica contra a emancipação e liberdade.
Voltamos não apenas 31 anos de retrocesso institucional, agora voltaremos mais de 100 anos no quesito comportamento e do lugar da mulher na sociedade. É a vitória da idade média, do machismo atávico, que deseja a submissão completa da mulher, que não vai permitir novas ousadias, como uma na Presidência.
Infelizmente, desse lado, não é incomum o tratamento machista em relação a Sra. Marcela Temer, as piadas e “memes” francamente calhordas sendo repassados acriticamente. Temos que repensar nossa conduta, não podemos “naturalizar o mal”, a praga machista, para fazer o uso dele no enfrentamento político, isso depõe contra nós, contra a nossa luta emancipatória, em especial à emancipação feminina, lembrando das lições de Engels, sobre o grau de emancipação da sociedade é medido com a liberdade das mulheres.
Momento pavoroso, vamos lutar, não nos dobrar pela mediocridade geral.
O machismo venceu . É isso. O poder aqui é macho , branco, hetero, grisalho e rico. Retrocedemos muito. Espero que consigamos catar os cacos e continuar na luta por justiça social. Texto tocante.
Sr. Arnóbio Rocha, com uma linha machista tendenciosa tão enraizada, como proceder diante desta situação? Que linha seguir para não agirmos com este machismo pesado e não contaminarmos nossos herdeiros?