“Ah! Muito bem! Já vejo rastros dele, e nítidos!
Sigamos a evidência de um delator mudo.
Como velozes cães de caça atrás de um cervo
recém-ferido, assim eu sigo a trilha dele
pelas gotas do sangue que ainda o macula”. (Trilogia de Orestes – Ésquilo)
Em 2013, lancei meu livro Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded, lá já apresentava a ruína da economia italiana, portanto bem antes da tal lava jato. Ali, também, fazia uma correlação entre a operação Mãos Limpas e a decadência italiana, no capítulo dedicado ao lado B da UE, refletia sobre a Itália, nestes termos:
“A crise econômica que atingiu a Itália só não é maior do que a crise política. Aspectos peculiares de seu desenvolvimento econômico, em particular a crise de representação política, retroalimentam incessantemente a conjuntura do país pelo menos desde 1992, quando houve a Operação Mãos Limpas”. (pg 93, Crise Dois Ponto Zero, 2013).
A Itália disputava com a França, nos anos 80 e 90, o 2° PIB da futura UE, não é mera coincidência que, hoje, esteja longe dela e muito mais longe da Alemanha. Após a mãos limpas a evolução do déficit fiscal (1995-2015) foi de queda ano a ano, assim como a taxa de crescimento que raramente ultrapassa um por cento ao ano, a média é 0,70. São 25 anos em que a economia da Itália vem patinando, um atoleiro sem fim.
O meu sinal de alerta ficou ligado quanto à lava jato e sobre o tamanho do mal que causaria ao país, quando o juiz/procuradores/PFs se compararam a mãos limpas Ali, tive convicção de que, um desastre econômico e retrocesso institucional, recairia sobre o Brasil.
Na Itália não há o que comemorar, crise política permanente, corrupção e economia que não evoluiu em mais de duas décadas, como isso poderia ser paradigma positivo ao Brasil?
A herança legada pela operação mãos limpas, sem dúvida, foram as décadas do bunga bunga Berlusconi. O neofascista, dono da Globo local, tratou de desmoralizar as instituições e levou o país ao abismo, com o fim da Política e Democracia.
Sei que não há nenhum espaço para debater com alguma racionalidade, o ódio venceu, mas deixo registrado o que avalio na conjuntura, e o buraco que o Brasil entrou.
O legado que deixaremos ao Brasil será o mesmo caos italiano? Basta ver a queda do PIB do ano passado, contaminado pelo engesso da Petrobras e de grandes empresas, tomadas como reféns pela república de Curitiba. Com as mãos livres, após o impeachment, os golpistas, vão avançar ferozmente para destruir qualquer instituição.
Aqui não se trata de pessimismo, apenas constatação, diante do cenário que se descortina. Não acredito em reversão do golpe. Faço análise sem fé religiosa, apenas com os elementos da realidade.
Também não acredito em milagres, só no trabalho consciente humano. Portanto, se os corações e mentes foram conquistados pelo golpe, só após os efeitos desse gigante “boa noite Cinderela”, é que, talvez, reagiremos.
Obviamente não vamos parar de lutar, pois precisamos matar um leão por dia para sobreviver. Mas as condições de embate serão bem piores, as prováveis perseguições e ameaças estarão na ordem do dia. Sei que também que, essa é uma visão minoritária, sem nenhuma capacidade de convencimento ou a menor influência no seio da esquerda militante, mas reafirmo neste espaço.
Seguiremos o mesmo caminho?
PS: Abaixo os gráficos de evolução do PIB, taxa de crescimento e do Déficit Fiscal da Itália, após a Mãos Limpas:
Boa noite, meu caro Arnóbio, concordo contigo.
A “operação” italiana foi a pá de cal no consenso entre a Democracia Cristã e o PCI, foi o fim da Politica em nome da “luta contra a corrupção”. Penso que, lá como cá, o que estava em causa era a posse do Estado por um grupo especifico.