Vi o belíssimo documentário sobre Chico Buarque, Chico – Artista Brasileiro, dirigido por Miguel Farias Jr., extremamente bem feito, ideal para os fãs e para novas gerações que não o conhecem com profundidade. Chico é um dos mais importantes nomes da música brasileira da segunda metade do século passado até hoje. Músico, compositor, cantor e escritor, além de uma figura presente na luta contra a ditadura e redemocratização do Brasil.
Mas o que mais me chamou atenção, além das ótimas informações sobre sua obra e vida, que boa parte já conhecia, foi a reflexão sobre o processo de criação, a dor que é o parto intelectual. O ato de fazer letras, compor, mais ainda escrever um livro. Mesmo uma cara tão especial, passou por períodos longos de falta de criatividade, ele sorrindo disse que chegou a fazer terapia, mas logo fugia, quando aparecia uma nova ideia.
Ali, naquele instante, senti como é dolorosamente humano esse processo de inspiração, ou falta, que pode ser comum a ele, ou a mim, como também a tantos outros que se aventuram pelas letras, para juntar as palavras, formar as frases, dar um sentido a elas, mas principalmente tornar inteligível, dialogar com quem nos ouve, ler. Essa é mágica de um texto, e como dói fundo na hora de elaborar, algo que parece tão simples, mas que nunca é.
Obviamente que não nos comparamos a ele, mas percebemos o quanto é complexa a mente humana na hora de escrever, criar uma coisa abstrata, uma letra ou um pequeno artigo. Muitas vezes, para mim, elaborar um script de software sempre me pareceu tão fácil, ou encontrar um erro numa rotina de um software, analisar dezena de tabelas lógicas, com centenas de variáveis. Os bits e os bytes, nunca me assustaram, porém, escrever um simples post, dá pavor.
Outra informação interessante do documentário, que Chico disse, é que escrever um livro é algo muito mais lógico para ele, do que uma música, pois ele tinha muito mais conhecimento e formação literária do que formação musical. Ainda que, para mim, ache que sua criação musical seja mais rica do que sua produção literária. Mas, sim, nos parece que ele domina a técnica ao escrever, algo como se as letras fossem inspiração, enquanto os livros viessem da transpiração natural de sua formação.
São os mistérios da alma, que dificilmente vamos desvendar, talvez nem queiramos, pois dá certo charme.
Chico – Artista Brasileiro
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