Hoje é o dia da afirmação, de explicitar minha opção de continuar votando no PT, o voto no 13. A longa jornada política da minha vida se iniciou no começo dos anos de 1980, muito próximo à fundação do Partido dos Trabalhadores. Ainda estudante do primário (9º ano, antiga 8ª série) acompanhei o congresso de refundação da entidade estudantil secundarista de Fortaleza, no meio daquelas bandeiras, daquele colorido, se destacavam as do PT, PC do B e MR8. Era um impacto para um garoto vindo de uma pequena cidade do interior do Ceará.
Em menos de dois anos estava engajado no movimento estudantil e debatia com algumas tendências de esquerda, sem me definir por nenhuma delas, a efervescência política era enorme, o fim da ditadura e a eleição de Maria Luíza, a primeira prefeitura de uma capital do PT. Ainda não votava, pois tinha apenas 16 anos, mas participei intensamente de toda a campanha, mesmo sem ser filiado ou militante organizado, nas alamedas e salas de aulas da Escola Técnica Federal do Ceará fizemos de tudo naquela eleição, inclusive o debate entre os candidatos em que Maria saiu consagrada por alunos e professores.
Nos anos seguintes me engajei no Coletivo Gregório Bezerra (CGB) uma ruptura do antigo “partidão”, que inicialmente feita por Luis Carlos Prestes, mas logo depois ele mesmo não quis ir em frente, preferindo aderir ao PDT de Brizola. Estes pequenos coletivos estaduais se tornaram referências no movimento estudantil e sindical pela formação política e ideológica, quase uma escola, além de um sectarismo enorme que nos fazia negar o PT, nos construímos fora dele, com debates frequentes na UBES, na UNE e na CUT. Mesmo em 1989, por pouco não deixamos de votar em Lula, aliás, foi pelo apoio ao PT no segundo turno que a nossa organização se acabou, numa traumática ruptura.
Um pequeno ainda se manteve unido e nos aventuramos na formação do PSTU com a Convergência Socialista, um grupo trotskista que estava no PT desde sua fundação e que acabou expulso em 1992. Daqueles, pós-muro, de intensos debates e lutas internas, fiz a opção por me dedicar aos estudos de Marx, com mais afinco, com a leitura paciente e discutida do Capital. Algumas conclusões me pareciam óbvias, o processo de reconstrução mundial de uma nova utopia seria longa, ao contrário do que os trotskistas afirmavam na época, a ruptura da URSS não liberou forças à esquerda por uma nova direção.
Desde 1998, passei a me aproximar politicamente do PT, sem nunca ter me filiado formalmente, em particular durante os governos Lula e Dilma, mesmo tendo a convicção de que o partido tem em sua cúpula uma visão de conciliação de classes, mesmo que o outro lado os repudiem, sua grande base política continua sendo de esquerda, que mantém o sonho de uma sociedade socialista. A real política dominou o PT, os acordos, as enormes concessões políticas, os erros históricos de não enfrentar o Kapital, a acomodação ao Estado Burguês e a adaptação burocrática aos governos, são dados da realidade.
Contraditoriamente, com todos os esforços de se mostrar confiável e que melhor pode dirigir o Estado do Kapital, o PT, continua sendo um entrave à política dominante do Kapital, não apenas no Brasil, mas no mundo. As minhas razões políticas de votar no PT estão explicitadas no meu livro Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded, ali, com mais propriedade, traço as contradições internas e o impasse criado pelo PT ao grande Kapital, mesmo que seja involuntário, não fosse o desejo de sua direção, o PT é um entrave ao Estado Gotham City, o que não é pouco, basta ver o que se passa na Europa, em especial, Itália, Espanha, Portugal e Grécia.
A reeleição de Dilma é uma prioridade política mundial, a manutenção dos BRICS, do Mercosul, o afastamento das relações com FMI e principalmente dos EUA, a mudança de prioridade de acordos e políticas para que o mundo não seja mera extensão dos EUA. Tudo isto não é pouca coisa, depois da Crise 2.0, o Kapital tem como norte o Estado Gotham City, um aprofundamento do neoliberalismo, com a necessidade de impor o fim da Democracia e da Política, não tem como ignorar a realidade nefasta que se apresenta, é preciso resistir, inclusive ao lado dos vacilantes, fustigando-os a irem mais à esquerda.
É fato que não se rompeu com velhas e antigas oligarquias que continuam dominando o Congresso através do PMDB, os acordos de governabilidade tão custosos, que entram em choque com a política de combate à corrupção e má-gestão do Estado. A política de juros, mesmo que tenha baixado diante do que era, transfere a riqueza para os banqueiros e especuladores. As grandes obras públicas dominadas pelas empreiteiras com constantes atrasos e sobrepreço, são dados da realidade e que não se combateu definitivamente.
Entretanto, é inegável que uma série de políticas sociais massivas foram aplicadas no Brasil, a despeito do que nós mesmos julgávamos impossíveis dentro do Estado atual. Houve política de aumento de renda, de aumento do salário mínimo de forma constante, incorporação das pessoas ao mercado de trabalho, com carteiras assinadas e direitos sociais. Avanços na Educação, no ensino técnico, na criação de IFES (Institutos Federais) descentralizados, indo ao interior, resgate das Universidades Federais que estavam sucateadas.
A criação do Ciência sem fronteiras para maior qualificação dos estudantes brasileiros. Prouni que trouxe milhões de pessoas à universidades, ainda que pagas, mas é importante para formação e oportunidades dos mais pobres. A política de cotas, o ENEM, Pronatec para formação técnica dos jovens. O aumento de repasses de verbas para Educação e Saúde, o fortalecimento do SUS, o Mais Médicos.
No meio destas contradições, avanços e retrocessos, com certeza o PT continua sendo ainda a opção política mais ajustada à realidade do Brasil, os grupos à esquerda não se constituíram como alternativa política, vivendo do sectarismo e do moralismo burguês à la UDN. Por este comportamento inconsequente, nem meus votos para deputados daria ao PSOL, por exemplo, pois se juntaram à oposição de direita para votar contra o governo, virando mero apêndice do PSDB e DEM no Congresso.
O caminho é votar no PT, debater politicamente e chamar para que avance mais, que rompa com os velhos compromissos e acordos, para que possa resistir ao grande Kapital.
Domingo é 13 de cima a baixo.
Muito boa sua análise histórica.
Aqui em casa também, é 13 de cima embaixo.