Há determinados momentos na vida que estamos no limite, mas qual limite? Limite de tudo, o principal deles de tolerância, que nem toda racionalidade conquistada, nem boa dosagem de resistência consegue segurar. Quando chegamos ao ponto último suportável, as coisas começam a se complicar, o dia a dia passa a ser um doloroso sofrer, sem aparente razão plausível, pois não se torna externo, aquilo que internamente está mal resolvido, sem uma saída possível, ou uma ruptura clara com o que nos aflige.
Vez por outro me encontro assim, meio que enjaulado, com vontade de explodir, mas apenas com dose cavalares de concentração consigo sublimar, apaziguar a alma, reter a combustão. A percepção mais forte deste sentimento é quando já não consigo tolerar alguma coisa, por exemplo, ler qualquer jornal ou ver/ouvir qualquer noticiário, em rádio ou TV. Simplesmente não consigo abstrair e deixar rolar, não consigo mesmo, é um nível de cretinice que não tem como aceitar, isto torna angustiante por nada poder fazer, a não ser ignorar, boicotar individualmente a todos eles.
A questão não se trata de não apenas discordar do conteúdo manipulado, ou modo canalha de como é noticiado, é perceber que não há qualquer voz que destrói, que pelo menos tente debater outro lado, é uma mídia de pensamento único e covarde. Aqui percebemos como a hipocrisia das rádios, dos jornais e das TVs e escondendo sua relação umbilical com a Ditadura, agora vista como um fato histórico, bem longe da mídia, feito por militares. Noticiado hoje sem uma autocrítica, esquecendo o que se fez e as razões de terem feito, um apagar da memória, para, inclusive, justificar o que fazem hoje.
O aniversário dos 50 anos do golpe civil-militar é noticiado como se tivesse acontecido em outro país, como se estas mesmas empresas jornalísticas não existissem na época , como se elas não tivessem sido tão decisivas para o sucesso do golpe e para sua duração, pela sua força e contundência, que suprimiu a democracia. O comportamento é de quem não fez nada pelo golpe, de quem não fosse beneficiário dele, o pior, ainda hoje se sentir livre para tramar, conspirar, mentir e manipular o país nos mesmos interesses antidemocráticos, para derrubar governos, forçar crises institucionais de forma aberta, como fez nos últimos 11 anos.
Este misto de revolta e de impotência me toma e luto para que não me paralise, mas não é fácil. Como também não gosto de escrever apenas para colocar bordões, melhor apenas desabafar sozinho, como fiz recentemente no texto A Democracia é um Estorvo para o Kapital?. O debate é sempre limitado, mesmo entre nós que queremos mais democracia, o que fazer?