Fukushima – O Desastre Continuado.

O desastre visto de cima
O desastre visto de cima

Três anos depois do desastre nuclear de Fukushima, o Japão e mundo deveriam se assombrar pela ferida exposta que continua a sangrar. Mas, infelizmente, não aparece no horizonte qualquer preocupação com o que acontece na Usina Fukushima Daiichi que teima em jorrar lixo nuclear no mar e na terra, sem que haja uma solução clara e definitiva para fechá-la definitivamente. Pelo que lemos e acompanhamos nada foi feito para que pare o desastre, não apenas em Fukushima, mas em todo o mundo.

Apenas para relembrar, em 11 de março de 2011 um terremoto de 8,8 graus de magnitude, seguido de um tsunami, devastou várias cidades da costa leste do Japão, deixando um cenário de destruição na região e um desastre nuclear sem precedentes na história do Japão, só comparado ao desastre em Chernobyl, em 1986. As consequências são sentidas até os dias de hoje, passados três anos da tragédia.

Naquela data, no Twitter, debati com uns deslumbrados brasileiros que falavam da eficiência japonesa em oposição à capacidade do Brasil diante de tragédias, pois os jornais e portais de internet diziam que apenas “39 mortos”, comparando aos mais de mil de mortos da região serrana do Rio de Janeiro. No mesmo dia, eu disse que não adiantava a pressa de afirmar qualquer coisa, pois, conhecendo a lógica japonesa, como conheço, sabia que eles iriam segurar as verdadeiras informações por dias, para não causar pânico e também para não dar na vista sobre as mazelas e falhas, melhor preservar a mística de eficiência, que é verdadeira, mas não infalível.

O saldo do desastre: 18,5 mil mortos, 16 mil desaparecidos e 315 mil desabrigados, a maior parte deles continua vivendo em abrigos, não receberam indenização, que foi avaliada em US$ 80 bilhões de dólares, sem pagamento, tentam acordo para pagar 12 bilhões e o ESTADO pagar mais 30 bilhões. No correio Brasiliense uma reportagem dar conta que “cerca de 15 mil pessoas, cujas casas e fazendas foram afetadas pela radiação, apresentaram uma ação judicial em 2012 contra o governo japonês e os dirigentes da operadora da central Tokyo Electric Power (TEPCO). Em setembro, os juízes decidiram não emitir qualquer acusação por negligência, estimando que ninguém poderia prever o terremoto e nem um tsunami tão violento, como o que provocou a morte de 18.000 pessoas. Os juízes também não detectaram falhas na resposta à catástrofe”. Ou seja, ninguém foi punido.

Durante estes três anos, Fukushima é uma chaga e mácula ao Japão, a combinação de corrupção privada e do Estado ampliam mais o problema. Hoje uma longa reportagem do New York Times (Pobres e sem qualificação são contratados para limpar Fukushima via UOL, tradução de Cláudia Gonçalves) sobre a contratação de mão de obra precária para atuar em Fukushima, o que expõe estes trabalhadores ao alto risco de radiação além de elevar o risco geral de mais desastres, como os vários incidentes de vazamentos de milhões de litros de água contaminada despejadas no mar ou na terra, fruto da baixa, ou nenhuma, especialização destes trabalhadores.

O anúncio de emprego para Fukushima, segundo o NY Times seria: “Você está sem emprego? Não tem onde morar? Não tem nada para comer?”, pergunta o anúncio online. “Venha para Fukushima”. “Esse texto sombrio que tem como público-alvo os japoneses mais pobres e foi publicado por uma empresa que está buscando funcionários para trabalhar na usina nuclear de Fukushima Daiichi, devastada por um terremoto seguido por um tsunami, é um dos mais claros indícios da busca cada vez mais problemática por pessoas dispostas a realizar a perigosa tarefa de desativar o local”.

Diz mais ainda que “A empresa Tokyo Electric Power Co., que opera a usina e é conhecida como Tepco, não tem dado muita atenção ao problema e deixou o complexo processo de limpeza a cargo de uma mão de obra que, em geral, é mal gerida, mal treinada, se sente desmoralizada e, em alguns casos, não tem nenhuma qualificação e já cometeu alguns erros perigosos”. (…) Em Fukushima, a medida se traduziu em empregos mais escassos e com salários mais baixos, o que afugentou os trabalhadores qualificados. Por isso, segundo informaram operários e outras pessoas, só ficaram em Fukushima funcionários que geralmente são contratados por empresas de recrutamento aventureiras que têm pouco conhecimento técnico e sobre as normas de segurança –isso sem falar na preocupação quase inexistente em relação à contratação de pessoas desesperadas. A polícia e ativistas sindicais dizem que algumas das empresas de recrutamento mais agressivas mantêm laços com a máfia local”.

A mão de obra é recrutada por empresa terceirizada e quarteirizada, sem preocupação com a qualidade, sem treinamento prévio, a reportagem relata vários incidentes com estes trabalhadores, que são expostos à radiação e aos mais terríveis riscos, como num vazamento recente. Segundo a matéria a “A Tepco também se recusou a divulgar um relato detalhado sobre um vazamento recente ocorrido na usina –o pior vazamento em seis meses–, que foi registrado quando os trabalhadores que enchem os tanques de armazenamento de água contaminada desviaram essa água remotamente para o tanque errado. Mas mesmo as poucas informações disponíveis indicam que houve uma confusão por parte dos trabalhadores. Eles ignoraram os alarmes que alertaram para o transbordamento do tanque devido ao fato de muitos desses tanques estarem próximos de sua capacidade máxima de armazenamento e, por isso, os alarmes disparam o tempo todo. Ninguém notou que o nível de água do tanque que deveria estar recebendo a água não estava aumentando”.

Estes terceiros servem como escudo para Tepco, pois “No cerne dos problemas da usina está o sistema de contratação do setor nuclear, que utiliza várias empresas intermediárias. Segundo os críticos vêm alertando há muito tempo, esse sistema permite que as operadoras de grande porte responsáveis pela administração das usinas nucleares se distanciem dos problemas surgem nessas plantas. De acordo com esse sistema de contratação, prestadoras de serviços são contratadas e dividem o trabalho com várias outras subcontratadas. Na parte inferior dessa cadeia, submetidos às tarefas mais insalubres, estão os chamados “ciganos nucleares” – operários itinerantes atraídos pelos bons salários que, em geral, são pagos por esse setor. O acidente só serviu para ampliar os problemas desse sistema de contratação. De acordo com os registros da empresa, os trabalhadores temporários da Fukushima Daiichi estão expostos, em média, a radiações mais de duas vezes superiores àquelas a que são submetidos os funcionários fixos da Tepco. Segundo afirmam muitas pessoas, esse sistema de subcontratação, no qual as tarefas são divididas entre várias empresas, também faz com que haja relativamente pouca supervisão por parte da Tepco.

 É uma tragédia, pois Fukushima que continua a funcionar dia a dia, como se não soubessemos de nada, como se as consequências fossem apenas para “pobres miseráveis”, como são tratados. Entretanto atinge o mundo inteiro, as águas contaminadas no mar que atravessam o oceano, a produção da região, essencialmente agrícola. A eficiência nipônica pode ser preservada, o lixo(nuclear) varrido para debaixo do tapete. A Tepco construindo mais usinas nucleares, “O atual primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe decidiu reativar 48 dos 50 reatores nucleares que haviam sido fechados desde a tragédia, em 2011, contrariando o compromisso feito pela gestão anterior de tornar o Japão um país livre da energia nuclear até 2040″.

Até quando?

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

2 thoughts on “Fukushima – O Desastre Continuado.

  1. Cai por terra aquela falsa imagem do Japão como país eficiente e de administradores honestos. Já são DOIS ANOS do desastre, e a usina continua vomitando veneno radioativo no mar. Não há como avaliar a amplitude do desastre. Daqui a alguns anos teremos uma visão total das consequências das atitude relapsa em relação à usina.

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