Os postes carregados de cabos e nós, uma dura metáfora da vida e da cidade, que teima em crescer, crescer, acumular, mas nem varre mais para debaixo do tapete, nem varrerá, suas sujeiras e imperfeições. Cabeada no ar, cheia de nós, de enrosco, nada mais responde à civilidade, mas serve a civilização, ávida por comunicações, por velocidade, pouco importando como chegará a cada casa, a cada prédio, a cada quebrada.
Enfeamos permanentemente a cidade, a ganância, a falta de cidadania das empresas e a falta de poder público presente, vamos nos amarrando aos cabos e nós, quem sabe um dia nos sufoque a todos, nos embrutecendo com a ilusão de que estamos progredindo pelos fios e fibras óticas que cortam os bairros e avenidas, assim expostos ao livre, como esgotos ao céu aberto, pesando sobre nossas cabeças, que balançamos felizes.
Todos os dias, indo e voltando, olhamos para cabos e nós e continuamos fingindo que estamos vendo, pois o nem mau cheiro, ou a péssima vista, já não nos incomoda mais, aceitamos passivamente o tal progresso, mas para quem mesmo? Vamos nos enrolar nestes cabos e dar mais nós, pois sempre precisaremos de mais, e a vida segue, a cidade segue, os cabos vão se amontoando e os nós mais difíceis de serem desfeitos, pois nos calamos quando eles apareceram.
A certeza, a constatação é que eles vão continuar surgindo, não se sabe até quando.
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