A incrível melancolia que tenho quando me lembro de alguma coisa que jamais vai voltar a acontecer, bate aquele aperto no peito, uma dor inexplicável, uma sensação de impotência porque sei que aquilo é passado, não voltará, mesmo que houvesse uma pequena possibilidade. É assim com uma amizade desfeita, ou não resolvida, uma história da vida, um episódio, este sentimento aflora, pesa e vem mais forte. É algo recorrente, que não nos escapa, não adianta fingir que não olharemos para trás, ou que deixemos de seguir em frente.
Estas coisas aconteciam com livros memoráveis em que começa a sentir uma dor, uma saudade, um gosto amargo por estar acabando a leitura, mesmo que releia alguma vez mais, a dor inicial quando ele acabou na primeira leitura é marcante para sempre. De pronto lembro-me da parte I de Henrique IV, o verão da vida do príncipe e sua turma (imaginária) criada por Shakespeare, capitaneada por Falstaff, no final fui ficando angustiado, pois sabia que a fantasia iria acabar não importando a parte II. Foi também assim no “Tempo e o Vento” que, ao terminar fiquei de mal por umas duas semanas, sonhava com uma continuação, um recomeço, mas sabia que morria ali para todo o sempre.
Ontem, por descuido, não tinha visto o canal “Pink Floyd” no Youtube sugerindo que visse um vídeo de um reencontro dos caras que estão vivos, em março de 2011, fiquei pensando como não vi antes. Mas, enfim, resolvo assistir, lágrimas e lágrimas. É certo que jamais o grupo se reunirá, até porque Rick Wright faleceu em 2008, mas os três sobreviventes se encontraram, as cenas do pequeno filme são comoventes, os velhos dinossauros se abraçam, é como se pedissem desculpas por nada e por tudo. Os gestos carinhosos de Waters foram aceitos e até retribuídos por Gilmour, mas não vi a mesma empatia em Nick Mason.
As cenas me deixaram, como explicar, num bode danado, sei que o Pink Floyd como era se esgotara no “The Final Cut”, mas a separação é dolorida, pelo menos para quem os admira. As brigas, as lutas pelo nome, obra, pouco ou nada acrescentou à biografia de nenhum deles, mas a orfandade dos fãs sim, é toda responsabilidade. Os líderes, Gilmour e Waters, trilharam caminhos com o legado do Pink Floyd, mas nunca seria a mesma coisa, faltava algo mais, o cristal quebrado, talvez aquele do The Dark Side.
A turma de David Gilmour ainda produziu um ótimo material no começo dos anos de 1990, o Division Bell, mas no fundo viveram da sombra do passado mal resolvido. Gilmour ousou com discos solos, ótimas canções e belos shows, mesmo que sempre tivesse que retomar as canções do Pink Floyd, como uma maldição eterna. Waters foi mais direto, pegou o legado do The Wall e rodou mundo, mas nunca me pareceu um cara feliz, leve e criativo dos velhos tempos, não que não seja brilhante, mas não foi o mesmo.
O Live8, em 2005, com os mágicos 24 minutos, foi um consolo para os mais jovens que jamais acreditaram no que aqueles 4 loucos foram capazes de produzir. Mas todo o encontro é tenso, não foi fácil, fluiu no “piloto automático”, mas as mágoas do distante ano de 1983 não tinham cessado, assim é como vejo. Ninguém ali estava confortável, o show foi lindo, emocional, mas só do lado dos fãs e do mundo presenciado aquele momento espetacular. Toda a potência do Pink Floyd ali despejada, mas sem o tesão de antes. Abaixo confiram e pensem se tenho alguma razão.
Tocaram os clássicos dos clássicos e saíram de cena para sempre, naquela época tanta torcida por uma turnê, que nunca aconteceu, nem um show ou canja, nada. Três anos depois a morte de Rick foi a certeza de que não iriam mais acontecer o improvável. Porém seis anos depois, meio canja, os sobreviventes, nos presenteia com este último encontro, um show de Roger Waters, em que eles são convidados, participam nos fazem sorrir por alguns breves minutos, felizes. Waters é o anfitrião que os recebe com respeito e carinho. O filme são os bastidores da apresentação do o2 arena.
Bem, vocês podem imaginar a sensação que tomou conta de mim desde que vi as cenas. O passado não voltará, mas a felicidade dele será inesquecível, foi repetir como mantra.
Last Pink Floyd Reunion – Live 8 2005
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=ikDEHygZzlI[/youtube]
Nick Mason, David Gilmour and Roger Waters Behind The Scene 02 – 2011
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=z0T7FRKTj00[/youtube]
Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason and The Bleeding
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=uZqS7LAyup4[/youtube]
Roger Waters + David Gilmour: Comfortably Numb, Live, O2 Arena
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=hUYzQaCCt2o[/youtube]
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