Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Dificilmente poderemos falar sobre Saudade, esta palavra tão singular, sem citar “Pedaço de mim”, a mais perfeita definição do termo, feita por Chico Buarque. Cru, cruel, duro, arrasador, que na língua portuguesa se traduz tão bem, o que não lembro de registro tão exato deste sentimento tão forte, doce/amargo e que no tornar maiores/menores diante de sua intensidade, é algo sem igual, concreto e abstrato.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Hoje é sexta, dia da música no blog, a Saudade tantas vezes escrita e descrita aqui neste espaço, em muitos momentos, pelas dores vividas ou apenas para lembrar de gentes, fatos, instantes de vida. Ontem, dia 30 de janeiro é dedicado à Saudade, nada mais justo que hoje rememoremos uma das mais apropriadas palavras, de nosso sentimental idioma, para identificar algo, não precisa ser acompanhada de mais nada, ela é, apenas é e sentir.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Chico Buarque tornou tão concreto o sentimento, pois fazendo dele parte do nosso corpo, impossível não doer ao ouvir/ler os versos, emociona, nos faz chorar e nos empurrar para dentro de nós.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Parece que no português não se pode amar sem ter saudade, ou ter saudade de amar ou de amor, aquilo que transforma morte em vida ou vida em morte, as passagens da vida ao outro plano que realimentará ainda mais a Saudade de todos nós.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Algumas versões mágicas de Chico e amigos, com Zizi Possi o sentimento materno, com Pablo Milanes, o sentimento da ilha embargada, uma metáfora inexata, de uma América Latina tão distante e tão próxima.
Chico Buarque e Pablo Milanes – Pedaço de Mim
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=6ZaL8QUApiA[/youtube]
Pedaço de mim – Chico Buarque e Zizi Possi
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=JIFWpMzwUnc[/youtube]
Adorei o post resultante: da “saudade”, da belíssima “Pedaços de mim” e da sensibilidade do blogueiro.
Ótimo texto com destaque para: “Chico Buarque tornou tão concreto o sentimento, pois fazendo dele parte do nosso corpo, impossível não doer ao ouvir/ler os versos, emociona, nos faz chorar e nos empurrar para dentro de nós.”