Vende-se tudo, mas tudo mesmo, quase sempre com desconto, não importa se o corpo, a alma ou a consciência, o importante é vender ou vender-se. O poder da sociedade de consumo se cristalizou em corações e mentes, o espírito “animal” do mercado move-se por si, o que ficamos olhando, em casa ação ou gesto, onde é que está a etiqueta, se podemos conferir o preço via RFID ou apenas com os olhos. A venda é a vista ou a prazo, em várias parcelas ou diretamente nos cartões de débito, crédito, pay pal, cubo card ou escambo de trabalho, hipocritamente chamado de capital “solidário”.
Nesta longa experiência de meu trabalho, muito próximo ao “marketing”, percebi que não é apenas preciso Vender o que se tem ou que não se tem, mas é fundamentalmente projetar o potencial do que se pode vender. O importante é vender não o produto, mas a ideia de que haverá milhares de compradores potenciais, aqui vistos como os futuros consumidores. As estatísticas populacionais, uma aparente renda se transforma rapidamente em “produto”, não tendo qualquer significado se ali vão comprar farinha, tapioca, sabonete, música ou celulares. O “produto” é aquele homem ( consumidor) residente ou transeunte no instante do marketing.
Extrapolando qualquer conceito ético ou moral, todos nós viramos apenas um produto à venda, que tem seu duplo, quando ele compra. A virada do mercado foi lentamente trilhada por séculos, mas encontrou na microeletrônica, informática e internet seu veículo último de explosão. Tudo se tornou público e exposto, qualquer característica especial ou não, pode ser revertida em Venda/Produto, seu corpo, seus olhos, alguma ideia perdida transformada em post, ou quem sabe um App de sucesso. Nada se perde em valor, vende-se um rim por um Ipad ou o dono do Ipad compra um rim para não morrer? Tudo vira negócio, business.
Os espertalhões, gurus, xamãs brotam e ornam em todos os quadrantes, a ideologia virou comércio, “se deus não existe, vamos todos pecar”. Infla-se o público, não os que assistiram (consumiram) ao espetáculo, mas a massa que poderia assistir, vendendo assim o “potencial” mesmo que seja milhares de vezes menores o número real de “consumidores”, mas a lição do marketing liberal é “consumida” por aqueles que dizem contra ela luta, a mesma lógica é repetida à exaustão, mas com propósito “nobre”. A audiência do blog inflada em contrapartida ao portal “burguês” afinal precisamos também nos Vender.
Mas a criatividade não tem limites, ontem fomos informados de uma nova república, o tal “salto quântico” (que diabos seria isto?) de um destes messias de ocasião, que comercializa o tal “capital humano”, dando ressignificação(sic) ao feito, ao capital já cristalizado. Assim se expressa a figura, nós nos instalaremos numa praça e vamos ouvir as pessoas( pausa para rir por cinco minutos) para reelaborar e apresentar um novo significado para o que foi dito”. Afinal este ano é especial(os outros não foram ou serão) tem Copa e Eleições, opa, teremos “produtos” para vender, nem que seja apenas a mistificação do vazio absoluto ou seria o do salto quântico?
Vendemos até a ideia de que as ruas tem dono, de que os movimentos tem dono, que os rolêzinhos têm dono, afinal alguém precisa faturar, em alguma ponta do “negócio”, pois “ter dono” pode significar dinheiro até para quem se apresentar como “dono”. Relembrando o que escrevi tantas vezes, os hippies dos anos de chumbo, viraram yuppies do neoliberalismo. O Kapital no vence pelo que mais tem mais elementar, o fetiche da mercadoria, agora cada um de nós é um “produto”, procurem a etiqueta.
Hoje o “novo” ressurgem mais cínicos, ou seríamos nós mais cínicos no que vemos?
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