O desemprego, em particular na juventude, é a questão mais dramática da atual Crise 2.0, é o combustível das manifestações de resistência que seja na “Primavera Árabe”, na Plaza Del Sol na Espanha ou no #Occupy Wall Street. Os números são espantosos a tabela abaixo já dar a dimensão na Europa e é melhor do que qualquer análise.
Reparem que os números comparativos do 1º Trimestre de 2008 e os do 1º trimestre de 2011 o desemprego cresceu explosivamente na Espanha, Grécia, Irlanda, Portugal e Itália (para ficarmos nos PIIGS). Mesmo Holanda que aparentemente é estável há uma manipulação de números, pois o trabalho “parcial” é contado como emprego, se usada a metodologia comum o desemprego entre os jovens chegaria aos 18%.
A situação crítica retroalimenta a Crise 2.0, segundo a OIT esta já considerada uma geração perdida, pois no futuro os jovens atuais serão mais pobres que seus pais, podendo levar seus filhos a condições de vida e educação inferior aos seus avós, uma contradição terrível para uma sociedade em mutação e acesso a alta tecnologia e informações. Este é o ponto central da revolta dos jovens, apoiados, inclusive, por seus pais. A Luta é a única saída para sair deste labirinto.
Numa reportagem de 1º de julho de 2009, do Estadão, sobre o relatório de desemprego da OIT eles dizem:
Para a OIT, a maior incidência de desemprego entre os jovens se deve às transformações econômicas e sociais pelas quais o País passou nas décadas de 80 e 90, como o baixo ritmo de crescimento econômico e a desestruturação do mercado de trabalho.
O relatório ainda observou que a tendência à demissão é mais comum entre os jovens pelo hábito da faixa etária de deixar seus postos de trabalho com mais frequência do que os adultos, uma vez que costumam ter menos responsabilidades a cumprir com família e agregados. Ele ainda mostra que, embora o crescimento econômico seja uma condição necessária para a redução do desemprego juvenil, não é condição suficiente. São necessárias também políticas específicas voltadas para melhorar o padrão de inserção dos jovens no mundo do trabalho.
Atentem que o ano de 2009 os números vinham carregados com dados da crise de 2008(Crise 1.0), mas no final da reportagem a OIT aponta que em 2011 será o ano da retomada do crescimento e do emprego. Vivemos 2011 e a Crise 2.0 jogou por terra estas expectativas.
“Occupy Wall Street”
A questão é também extremamente dramática nos EUA, a taxa oficial de desemprego é 9,1 %, cerca de 14 milhões de desempregados para uma população economicamente ativa de 155 milhões. Porém para população jovem o desemprego é 24,6 % se o corte for entre os adolescentes de 16 a 19 anos (dados do Departamento do Trabalho EUA) e de 30% se pegarmos dos 18 aos 29 anos ( Pesquisa Gallup).
Esta reportagem do portal G1 mostra números alarmantes entre Jovens, e mostra a exclusão social dos negros:
“Os dados mais recentes sobre o desemprego nos Estados Unidos, divulgados pelo Departamento do Trabalho, revelam um cenário com quase nenhum avanço nos últimos meses, no qual os jovens são os mais afetados.
Se entre a população geral, a taxa de desemprego é de 9,1% (patamar inalterado desde julho), entre os adolescentes (16 a 19 anos) o índice sobe para 24,6%.
Essa taxa é cerca de três vezes maior que a registrada entre homens (8,8%) ou mulheres (8,1%) com idade acima de 20 anos.
Segundo o Departamento do Trabalho, 14 milhões de americanos estão desempregados. Desses, 6,2 milhões estão há mais de seis meses procurando emprego.
Enquanto a taxa é de 8% entre americanos brancos, sobe para 11,3% entre a população hispânica e para 16% entre os negros.”
Cinicamente o Governo Obama, segundo esta matéria, ver com bons olhos o movimento de rebeldia contra Wall Street, mas como bem alerta Paul Krugman, de todos os planos de salvamento dos Bancos e banqueiros que consumiu 5 trilhões de dólares (2 trilhões totalmente perdidos) apenas 2 bilhões foram gastos para salvar municípios e estados falidos e apenas 200 milhões em programas de requalificação dos trabalhadores desempregados.
Os números são fundamentais para entendermos o que se passa no mundo, qual a real base social da rebelião no centro do capitalismo, a combinação de desemprego e empobrecimento leva à revolta. Os jovens olham para frente e vislumbram um futuro sem perspectivas, agora percebe que precisam lutar no presente, para construir outro mundo possível, menos miserável do que o atual.
Sinto muito dizer, mas não é o Twitter ou Facebook que faz a rebelião.
Realmente assustador. O Brasil precisa empregar anualmente 1 milhão de jovens (lembro desse dado de uma eleição anos atrás, não sei mais se é assim). A Europa nem isso, e está longe de conseguir. Nem os mileuristas conseguem emprego. O futuro é mesmo sombrio.
“Sinto muito dizer, mas não é o Twitter ou Facebook que faz a rebelião.” adorei.
Engraçado esse comentário final pois eu não vi ninguém dizendo que o facebook e o twitter fizeram a “revolução”. Como analista de mídia o que eu percebi sim é a má vontade da imprensa tradicional em fazer a cobertura do evento – só começaram a noticiar após casos de violência policial. O facebook, o twitter e a internet como um todo entraram nessa história um pouco como que para dar credibilidade ao processo. Tanto é que você, Arnobio, teve acesso a muitas informações que em outro período levariam muito mais tempo para se chegar aqui no Brasil pois dependeríamos dos jornais com dinheiro suficiente pra mandar um correspondente internacional para lá.
Também existe um outro aspecto: na era da informação, as pessoas tendem a emitir suas opiniões mesmo que a imprensa tradicional queira pautar um debate. Hoje você vê que o ocuppy wallstreet vem recebendo solidariedade de pessoas do mundo todo, o que sem as redes sociais e talz seria um pouco mais complicado.
Hoje nós vivemos num tempo interessante onde mais pessoas podem ter suas falas compartilhadas sem precisarem passar pelo crivo dos “gatekeepers”, sem passarem por outros crivos que poderiam impedir os debate público.
O desemprego é sim, sem dúvida, o calo que aperta, que incomoda, que levou as pessoas a ocuparem wall street por entenderem que simbolicamente o problema está morando ali. E falar em wall street não é falar só nos EUA- você sabe, arnobio, que numa economia globalizada, quando um país é muito afetado, pode desencadear consequências em outros países. Nada impede que a crise chegue por aqui algum dia! Se nós não usarmos as redes sociais pra prestar a solidariedade, que já é um começo, para que servem as redes sociais? Para pregar o pensamento único? Pra fazer proselitismo?
As redes servem pras pessoas se aproximarem independentemente de quem é o dono da grana(como acontece em relação aos conglomerados de comunicação, que vem cada dia perdendo mais espaçoe e credibilidade perante a população). As pessoas no geral fazem um uso recreativo das redes sociais, mas não vai demorar muito para que descubram novos usos – acho que num futuro nãomuito distante as redes poderão ser usadas em favor de uma democracia mais direta, para a resolução de problemas mais locais…
Para refletir: historicamente a maneira como ser humano lida com a informação influencia no tipo de fazer político da sociedade. Nos tempos da Inquisição a igreja tinha uma forte influência social, controlava rigidamente os livros que poderiam ser lidos e isso limitava muito as mudanças sociais. Se hoje não podemos endeusar as tecnologias, também não podemos subestimar as conquistas tecnológicas e suas influências sociais.
Abraços
Amanda
Amanda,
Talvez você não tenha acompanhado as polêmicas, tanto no processo eleitoral, depois e mais ainda na “Primavera Árabe” que um conjunto de cyberativistas dizia que graças ao FB e TT tínhamos vencido as eleições no Brasil e que acontecia a revolta no Egito.
As redes sociais aproximam, são importantes na rapidez da comunicação, mas elas não determinam a realidade Objetiva: Economia, Emprego. A disposição de lutar vem das condições objetivas, as subjetivas apenas potencializam, não determinam.
Os russos, povo mais atrasado da Europa do início do Século, fez a revolução rodando jornais e panfletos em mimeográficos clandestinos, mas todas as condições para revolta estavam dadas, e mais ainda o a melhor e mais ágil ferramenta subjetiva, o POSDR(Bolcheviques), estava pronto para liderar às massas revoltas, contra a fome, a guerra e a crise.
Esta breves noções históricas e filosóficas quando não compreendidas são substituídas por visões espontaneístas que não levam a lugar algum, ou levam à confusão e conflitos conjunturais, como as tais Marchas aqui no Brasil, já se perguntou por que elas mesmo amplamente convocadas em TODAS as mídias e redes sociais elas fracassaram??
Arnobio
Elas podem ter fracassado (do ponto de vista de não terem alcançado seus objetivos imediatos), mas as marchas aconteceram. Os historiadores terão uma infinidade maior de fontes para pesquisarem o período, pois cada pessoa tem a liberdade de expressar seu ponto de vista.
Como já venho falando em outros locais, o que prejudica é a expectativa de que a moçada faça tudo certo numa primeira oportunidade e tenha êxito logo de cara – acho que a galera está engatinhando no uso das redes e esse uso não pode ser subestimado. As pessoas estão expressando suas insatisfações, o que antes não tinha nenhuma abertura na mídia tradicional. O seu blog é um exemplo disso – você escreve aqui porque pra você a mídia tradicional não tem sido suficiente pra mostrar o que você está vivendo e sentindo. A comunicação é uma necessidade humana, é um poder, e as pessoas estão usando esse poder, o que pra mim já é uma vitória em si (é dentro dessa concepção de vitória que eu trabalho, a de que a pessoa está conseguindo compartilhar algo que antes não seria possível se ela só dependesse de um jornal, por exemplo). Esse é o meu ponto.
Poderia falar mais sobre minha própria experiência nas redes, de pessoas que eu só conheço virtualmente e que virtualmente consigo apoiar… E ser apoiada: já tive post que foi parar no Global Voices e foi mencionado em chinês. Quando isso aconteceria num passado não muito distante? Pra você, dados como esse podem não ter nenhum peso político/econômico imediato, mas pra mim, ter um texto feminista traduzido para o chinês tem um valor incalculável – é uma vitória da luta feminista o fato de não ser uma voz silenciada pela estrutura econômica das grandes empresas de comunicação.
Lutas locais passam a ter um eco global, sem que a língua seja uma barreira (vide o exemplo do global voices), sem que o poder econômico (de um jornal, por exemplo) seja uma barreira. Talvez os efeitos mais duraduros e efetivos disso tudo sejam mais sentidos daqui uns anos, e não agora.
Abraços