Arnobio Rocha Crise 2.0 Por que é Estado Gotham City e não Estado de Exceção?

1406: Por que é Estado Gotham City e não Estado de Exceção?


A França indo ainda mais para Direita, Estado Gotahm City, na veia.

Alguns debates muitas vezes nos levam ao impasse, claro que não há interlocutores aqui, pois a maioria da intelligentsia não quer trocar ideias com um “desconhecido”, sem “peso” acadêmico ou intelectual. Mas vamos lá.

A questão é sobre o caráter do ‘novo” Estado que se impõe após a imensa Crise, que denomino Crise 2.0. Pelas minhas observações, esse novo Estado, vem sendo gestado desde meado dos anos de 1980 e ganhou impulso com a queda da antiga URSS.

A falta de polaridade parecia ter tornada o mundo uma via de mão única, como se o Capitalismo fosse o “fim da história”. Por mais de 15 anos, 1989 a 2004, essa lógica se manteve, Porém, uma velha conhecida do Kapital, resolveu dá as caras de forma absolutamente forte, a Crise de Superprodução, com bem mais força do que uma simples crise cíclica da década de 1990.

Em 2005, TODOS os principais índices de riqueza eram positivos, o menor desemprego dos EUA, a recente fusão da UE, os salários em alta, as ações e o mercado imobiliário na estratosfera. A imensa nuvem de trilhões tinha incluído o centro do Capitalismo com seu poder de destruição, até mesmo os BRICS (África do Sul, China, Índia, Brasil e Rússia) foram incorporados à ciranda financeira mundial.

Tudo perfeito? Ao contrário, a força motriz do Kapital, a Taxa de Lucro, foi comprimida de forma imperdoável, então a crise, ‘a pletora do Kapital”, explodiu, mas seus efeitos amplos só se sentiu plenamente em 2008, com a quebra dos principais bancos dos EUA e da Europa e das seguradoras.

Essas crises paradigmática (1871, 1929, 1974 e 2008), pois são mais amplas do que as crises cíclicas, sinalizam que a forma de acumulação de Kapital precisa mudar radicalmente para que a Taxa de Lucro volte a crescer, não trabalho com tese de crise permanente, muito menos de o Kapital morrerá por si mesmo. Afasto-me dessas visões quase religiosas, nem um pouco marxista sobre o Kapital.

Qual o principal instrumento do Kapital para impor uma nova ordem? o Estado, que é a relação ampla do Kapital com a sociedade, seu padrão legal e aceito de regras impostas pela força e pelo convencimento superestrutural, ideológico, costumes, leis, educação e também de poder de recolhimento de impostos, intervenção econômica, que terá fim último para a fração burguesa dominante, desde os anos de 1970, o Capital Financeiro.

Ainda nos anos de 1980, as primeiras incursões de um novo modelo, como resposta à Crise de 1974, do Petróleo, já tomara corpo, o Neoliberalismo. Por mais de três décadas o mundo viveu ainda na disputa entre o Estado de Bem-Estar Social, fruto da Crise de 1929, com os elementos de Neoliberalismo.

Como também a disputa com o Estado Soviético, que nem era socialista, muito menos capitalista puro. Aliás, parte da ideia de Estado Gotham City, está liga à Perestroika e Glasnot, o que gerou uma China autoritária ou um regime de Putin, o eterno.

A queda do Muro de Berlin e a queda do muro de Wall Street, liberou todas as forças possíveis para esse novo Estado, que denomino como sendo Estado Gotham City. Ele se diferencia fundamentalmente de um Estado de Exceção clássico, como o fenômeno do nazi-fascismo porque ele não é uma simples exceção do regime vigente, ao contrário, ele se imporá como ordem comum e permanente.

O que verificamos, desde pelo menos 2012 com nossos estudos sobre a Crise 2.0, que está no nosso livro  Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded., é que esse novo Estado ele vem corroendo as bases da sociedade burguesa, especialmente as coisas que mais a distinguia: A  Democracia e da Política. O que nasce são regimes autoritários, com simulacros de Democracia e quase ausência de Política.

Um dado importante nessa análise é que as “Primaveras Digitais” vieram a ser peça fundamental para essa nova ordem sem Democracia e Política. Elas chancelaram todas as visões do Kapital que na necessidade de recompor sua Taxa de Lucro, rompeu com o que sobrou do Estado de Bem-Estar Social, cortando Direitos Sociais, Aposentadorias, Saúde e Educação, em nome de uma Austeridade para quem?

Para fazer a transfusão de recursos dos tesouros públicos para os bancos privados, de forma direta ou através de privatizações, entrega das funções do Estado para entes privados, de forma ampla, atingindo judiciário, segurança, mais ainda na burocracia, especialmente as famigeradas Agências, que minaram as funções do Estado e entregam e agem em nome do Kapital, sem meias palavras.

Portanto, a ordem legal, é a de restrições, o Direito é do inimigo, aplicado diretamente contra quem se opuser aos novos senhores do Estado, quer seja Obama ou Trump, pode ser Putin ou um burocrata chinês, passando até na ralé do Golpe local, o golpista-menor, Temer. O mundo assistiu ao Brexit, agora a Direita vs Extrema-Direita, na França, ou a pressão pela saída da Itália da UE.

São movimentos combinados de uma ampla ruptura, não um Estado de Exceção, apontam para uma nova ordem, cruel, restritiva e de profunda violência, com uma possibilidade permanente de guerras regionais, civis e de embates violentos nas grandes cidades, pela miséria e fome.

A Política do Medo, Segurança nos países ricos, Corrupção nos países pobres, será o elemento principal de convencimento para que se abra mão das mínimas garantias legais e democráticas.

Aqueles super-ricos, 1% da população, se armaram de todos os instrumentos legais, de dominação, de convencimento ideológico, com uso massivo da Internet, o que tolamente achávamos que ampliaria a participação, os algoritmos se tornaram a arma letal para saber quem somos, o que fazemos, o que pensamos, assim, o controle é mais forte, violento e amplificado. Eles sabem o que fizemos no verão passado.

A realidade é sombria, mas o debate continua travado, as nossas milhões de demandas impedem de ouvir e falar, tudo controlado, ninguém quer ousar nada. Aceitamos nossa escravidão e criticamos quem se expõe.

As contradições se espalham, mas nos fechamos para elas.

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One thought on “1406: Por que é Estado Gotham City e não Estado de Exceção?”

  1. Deus do céu, assim eu vou ali me matar e não volto mais… Pra piorar, a direita e o fascismo puseram as mangas de fora e não têm mais vergonha de se manifestar. Então, até a luta de classes virtual fica mais complexa, todo esse “ódio à democracia” do Rancière acaba sendo nossa realidade cotidiana (até comprei o livro dele hoje e deixei lá no clubinho, esclarece coisas que não entendemos bem). Muitos criticam o Zizek. Eu acho ele inestimável e insprescindível nos debates de hoje. Estamos muito moles. Ou estávamos, porque agora é tarde. A narrativa da direita venceu. Nem tivemos tempo de nos conscientizar como os venezuelanos de Chávez. Agora o que temos é apatia. E nosso Estado é Gotham City mais Terceiro Mundo do que nunca. Até o FMI tá de volta. Amém.
    PS: Desculpe a barafunda, é assim que anda minha cabeça hoje em dia, tudo junto e misturado numa apatia desconstruída.

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