Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise Dois Ponto Zero – Conceito de Crise

Crise Dois Ponto Zero – Conceito de Crise


A dialética da Crise para o kapital e para o Proletariado.

“a crise constitui sempre o ponto de partida de grandes investimentos novos e forma assim, do ponto de vista de toda a sociedade, com maior ou menos amplitude, nova base material para o novo ciclo de rotações” (Marx – O Capital – Vol III)

O objetivo desta série sobre a Crise 2.0 foi, desde o início, suprir uma lacuna, grave, na esquerda, pelo menos na blogosfera, que é a falta de acompanhamento semanal ou diário do que acontece de mais importante na luta de classes, em particular sob a ótica mais perversa, a lógica destrutiva do Capital. A Primeira questão a definir é sobre o Conceito de Crise, nos filiamos completamente no que Marx acima define, mas isto diz pouco, precisamos pormenorizar a definição e a localização no tempo e espaço, do momento atual da Crise, que denominamos Crise 2.0.

Superprodução ou Escassez?

A crise de superprodução, ao contrário do que se supõe, não está relacionada à escassez de produção, ou de crise agrícola, esta fase foi superada há mais de 150 anos. As crises são fundamentalmente concentradas no coração do capital, e refletem as relações econômicas dadas em determinado momento do ciclo amplo de produção, sempre no pico, jamais no vale da curva senoidal.Como bem assinala José Martins e Coggiola no livros “Dinâmica da Globalização( Mercado Global e Ciclos Econômicos de 1970 a 2005)”:“No ponto mais alto da fase expansiva, e imediatamente depois da crise, quando a economia capitalista entra na fase de crescimento lento, parte do capital adicional começa a ser expulso da produção porque a taxa média de lucro não compensa seu investimento, o desemprego aumenta na mesma proporção em que a inversão cai. É o momento em que os capitalistas iniciam nova e mais pesada ofensiva sobre as condições de vida e de trabalho dos assalariados”.

Crise Terminal, mas o Capital não acaba.

Outro mito, que devemos combater, é do misticismo de que as crises, ou esta em particular, é “Terminal”, de que o capitalismo vai acabar que ele se destruirá inexoravelmente. Esta crença, quase religiosa, me faz lembrar os milenaristas ou outras seitas que marcam data para o fim do mundo, mas que quando não acontece fica ser ter o que dizer. Pensar que o capitalismo acaba por si desarma os trabalhadores e nos leva à barbárie.

Marx já trata no Manifesto Comunista da questão social da crise, em suas palavras: “Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos fabricados como também uma grande parte das próprias forças produtivas já criadas. Uma epidemia, que em qualquer época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade – a epidemia da superprodução. A sociedade vê-se subitamente reconduzida a um estado de barbárie momentânea”. Depois, complementa “O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. E de que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios para evitá-las”.

A Volta à Marx

Afastadas estas duas tendências: crise de escassez e Crise terminal, podemos analisar com mais rigor científico o fulcro da crise,  a tendência da diminuição da taxa de lucro e de como o capital trava uma luta de morte para recompô-la, não economizando meios e saídas para retomar as taxas de lucros vigentes. Os ciclos econômicos acabam permeados por perturbações e lutas intrínsecas entre capitalistas e destes contra os trabalhadores para que o “Gral” (o lucro) seja garantido. Nas palavras de Marx, na “Teoria da mais-valia”: “existe destruição de capital nas crises, pela depreciação de massas de valor, que as impede de voltar a se renovar mais tarde, na mesma escala, seu processo de reprodução como capital. É a queda ruinosa dos preços das mercadorias. Não se destrói valores de uso. O que perdem alguns, ganham outros. Mas, consideradas como massa de valor que atuam como capitais, veem-se impossibilitadas de se renovar nas mesmas mãos como capital. Os antigos capitalistas se arruínam”

A crise acaba sendo um remédio grave, mas é regulador da tentativa de recomposição das taxas de lucros, os capitalistas literalmente queimam capital excedente, de superprodução de valor, muitas vezes aqui expressos em capital “especulativo”, reposiciona as empresas, bancos, nações inteiras neste “salvamento” do objeto mágico que lhe dar vida: O lucro.

Analisar atual crise sem ter em mente os grandes ensinamentos do maior expert em capitalismo não nos ajuda muito no enfrentamento cada vez mais violento das condições que impõe o estado burguês, totalmente submisso ao grande capital. Os governos na crise expõem nitidamente quem realmente MANDA no Estado, exemplos mais do que óbvios estamos todo artigo lembrando.

  A Crise atual é de 2005/2006, Começando nos EUA.

 

Quando se deu efetivamente o início da crise? Ou melhor, dizendo, qual o seu ponto de ebulição? Parece preciosismo, mas não é, muitas vezes, já disse isto aqui, os economistas tratam dos efeitos da crise, nunca, a causa. Mais ainda, analisam-na quando ela já se deu, ou no momento que se tornou visível demais. Esta questão é fundamental para que um projeto alternativo de sociedade possa captar melhor os sinais de Superprodução e agir efetivamente no combate ao capital, pois os atuais embates, já se são numa conjuntura extremamente desfavorável, a classe expulsa do mercado de trabalho, com alto desemprego e politicamente desarmada, sendo vítima da ação mais que predatória do grande capital. Aceita acordos aviltantes de redução de salários, benefícios, previdência e aposentadoria.

Com os preços deflacionados, alto desemprego, a retomada se dará em novo patamar, confirma assim que a o momento da Crise de Superprodução se deu em 2005, quando preços e empregos estavam em alta, em pleno uso das forças produtivas. Porém os sintomas reais da queda aconteceu apenas em 2008, passando por um período longo de recomposição. A taxa de lucro começa a ser recomposta apenas em 2011, com a perspectiva de crescimento em 2012.

Este é o mundo real, da economia real, em que as pessoas reais vivem, para além dele, e com reflexos caóticos neste, os mercados continuam na escalada dos ganhos ilusórios, que apenas na Crise ele se expõe cristalinamente. As ações do FED durante a “queda” foi um claro demonstrativo a quem pertence o Estado Americano, algo como 5 Trilhões foi gasto para cobrir os ganhos irreais, pagos pelos trabalhadores e povo americano e de todo o mundo. Agora o imenso estoque de moeda em poder do FED é usado para financiar plenamente o novo crescimento, ou uma “justa” taxa de lucro dos grandes capitalistas.

Por dados empíricos cheguei à conclusão que o ápice do antigo ciclo de produção/circulação e realização do capital se deu entre 2005/2006, o ponto de ebulição, ou de Superprodução de Capital. Os números do Departamento de Comércio dos EUA, quando preços e empregos estavam em alta, em pleno uso das forças produtivas. Porém, os sintomas reais da queda aconteceram apenas em 2008, passando por um período longo de recomposição. A taxa de lucro começa a ser recomposta apenas em 2011, com a perspectiva de crescimento em 2012.

Este é o mundo real, da economia real, em que as pessoas reais vivem, para além dele, e com reflexos caóticos neste, os mercados continuam na escalada dos ganhos ilusórios, que apenas na Crise ele se expõe cristalinamente. As ações do FED durante a “queda” foi um claro demonstrativo a quem pertence o Estado Americano, algo como Cinco Trilhões foi gasto para cobrir os ganhos irreais, pagos pelos trabalhadores e povo americano e de todo o mundo. Agora o imenso estoque de moeda em poder do FED é usado para financiar plenamente o novo crescimento, ou uma “justa” taxa de lucro dos grandes capitalistas.

Os dados da Standard & Pools sobre o preço de imóveis nos EUA, publicados pelo Radar Econômico do Estadão, dizem que “As moradias nas 20 regiões metropolitanas analisadas pela S&P estão 33% mais baratas do que no pico histórico, de julho de 2006, sendo o momento atual o pior da série com ajuste sazonal. Na pesquisa sem esse tipo de ajuste, o indicador também aparece em nível comparável ao dos seus momentos mais críticos. O índice da S&P mostra que, desde 2009, o setor teve breves momentos de recuperação, mas sempre seguidos por perdas que levaram de volta a um patamar em torno de 140 pontos.

Fonte: Standard&Pools

Essa pontuação serve para comparar os preços em diferentes momentos. No pico histórico, por exemplo, o índice sem ajuste sazonal marcava 206 pontos. Se hoje está em 140, significa que houve uma queda de 33% nos preços nesse ínterim. Os piores momentos da crise, pela série não ajustada, ocorreram em abril de 2009 (139 pontos), em abril do ano passado (138) e em novembro último (140, dado mais recente). Nesse meio tempo, houve alguns lampejos de recuperação, chegando a atingir 149 pontos em julho de 2010, mas tais momentos foram sempre frustrados por perdas posteriores”.

O ápice do ciclo se deu entre meados de 2005 e fevereiro de 2006, em linha com outros índices de preços de que falamos anteriormente.  A conclusão de Sergio Crespo, o jornalista responsável pelo Radar Econômico do Estadão vai no mesmo sentido O gráfico mostra que houve uma alta praticamente contínua de 2000 a 2006, seguida de uma queda iniciada naquele ano e acentuada em meados de 2007, um ano antes da quebra do banco Lehman Brothers. Desde 2009, o setor vem se debatendo, sem sucesso”.

  

 

Crise de 2008, ou momento da queda.

 

 

É importante olhar estes dados e ligá-los aos fenômenos dos sub-primes ou da ciranda das hipotecas, quase toda baseada nestes inflados preços de imóveis. O “mercado” percebe como ninguém o movimento do capital, sabe que o capital não se reproduz por si, mas fundamentalmente no Valor, ele especula em cima da taxa de lucro, dos ganhos futuros. Quando as hipotecas começam a se tornaram impagáveis, precisamente em 2005/2006, foi o ano de maior emissão de sub-prime, os bancos de especulação pura, simplesmente foram para o “vinagre”.

Precisamente em 2005 foi o ano de menor desemprego em décadas nos EUA, com 4,7%, os salários estavam num patamar elevado, os empréstimos com juros baixos e fáceis, tudo conspirava a favor. Se olharmos no gráfico, entenderemos que em julho de 2005 tudo trava, os preços começam se estabilizar, não há mais crescimento. É coerente com o restante da economia dos EUA. A queda se inicia em abril de 2006 e desaba de vez em março de 2008, nos meses que começa a longa sequência de falência dos bancos dos EUA que culmina com a quebra do Lehman Brothers em Setembro de 2008. Uma pequena cronologia desta sequência de quebras dos bancos e ajuda do FED, comparemos com os gráficos dos imóveis.

Março

 

“Em março, o Federal Reserve disponibiliza mais US$ 200 bilhões para bancos em dificuldade”. No dia 17, o quinto maior banco americano, Bear Stearns, é comprado pelo JP Morgan Chase por US$ 240 milhões (um ano antes, o banco valia US$ 18 bilhões).

13 de julho

O banco de hipotecas americano IndyMac entra em colapso e se torna o segundo maior banco a falir na história dos Estados Unidos.

14 de julho

Autoridades financeiras dos Estados Unidos prestam assistência às duas gigantes do setor de hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac. Juntas, as duas companhias são responsáveis por quase metade das hipotecas dos Estados Unidos e detêm ou garantem cerca de US$ 5,3 trilhões em financiamentos e são cruciais para o mercado imobiliário americano.

Setembro: o desastre

7 de setembro

O governo dos Estados Unidos anuncia que está assumindo o controle das empresas de hipoteca Freddie Mac e Fannie Mae, numa operação que foi considerada uma das maiores do gênero na história americana. O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, afirma que os níveis das dívidas das duas companhias significavam um “risco sistêmico” para a estabilidade econômica e que, se o governo não agisse, a situação poderia piorar.

10 de setembro

O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra perdas de US$ 3,9 bilhões nos três meses anteriores a agosto. O anúncio ocorre em meio a mais alertas econômicos feitos pela Comissão Européia, afirmando que Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha poderão entrar em recessão até o final de 2008.

15 de setembro

Depois de dias em busca por um comprador, o Lehman Brothers entra com pedido de concordata, se transformando no primeiro grande banco a entrar em colapso desde o início da crise financeira. O ex-presidente do Fed Alan Greenspan afirma que outras grandes companhias também poderão cair. No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos, concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízos maiores.

16 de setembro

O Federal Reserve anuncia um pacote de socorro de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência da seguradora AIG, a maior do país. Em retorno, o governo assumirá o controle de quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios. Lehman Brothers fecha acordo para vender partes suas as operações de brokers e dealers para o britânico Barclays.

17 de setembro

Imprensa noticia que o Washington Mutual (WaMu), financiador de hipotecas e maior instituição de poupança dos Estados Unidos, se colocou em leilão como forma de ampliar os esforços para se salvar, em meios aos graves problemas financeiros que atravessa.

23 de setembro

O japonês Nomura Holdings chega a um acordo para comprar por US$ 225 milhões a filial do Lehman Brothers na Ásia Pacífico.

25 de setembro

Outro gigante do setor de hipotecas dos Estados Unidos, o Washington Mutual, é fechado por agências reguladoras e vendido para seu adversário, o Citigroup.

28 de setembro

A crise se alastra mais pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis, para garantir sua sobrevivência. Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros na operação. Nos Estados Unidos, legisladores anunciaram que chegaram a um acordo bipartidário para aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pela crise.

29 de setembro

A Câmara dos Representantes (deputados) dos Estados Unidos rejeita o pacote de US$ 700 bi proposto pelo governo americano para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise. Os legisladores retomam as negociações para realizar uma nova votação na casa.

O Wachovia, o quarto maior banco americano, é comprado pelo Citigroup, em um acordo de resgate que conta com o apoio das autoridades americanas. Segundo este acordo o Citigroup vai absorver até US$ 42 bilhões dos prejuízos do Wachovia.

Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley. O governo assume o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança e agências são vendidas para o Santander, da Espanha.”

 

A reação do ESTADO (FED)

 Entre Março, que se inicia com a quebra do Bear Stearns, até outubro de 2008 o governo dos EUA desembolsou a fundo perdido 2 trilhões de dólares para salvar os bancos, financiadoras e seguradoras contaminadas pelos subprimes, este ativos tóxicos “venceram” antecipadamente em 2008 e consumiram 1,4 trilhões, porém seu total podre chegou aos inacreditáveis 12,3 trilhões de dólares, cerca de 89% do PIB dos Estados Unidos.

O FED, disse recentemente, que resgatou,durante os últimos 3 anos 5 trilhões de dólares de títulos de podres de bancos e empresas, praticamente estatizou ou tutelou o sistema bancário dos EUA e algumas simbólicas empresas privadas como a GM. Destas emissões gigantescas sobrou um estoque, de cerca de 1,7 Trilhões em títulos americanos, não mais “tóxicos”, além de uma emissão pura de bônus de 900 bilhões, totalizando US$ 2,9 trilhões.

Corretamente, Sergio Rauber complementou um artigo que escrevi e levantou uma questão central: “A manobra macroeconômica depende muito do sucesso na tarefa de enxugar a nova liquidez e, se o alvo são os BRIC’s, ainda não está claro quais serão as manobras dos emergentes frente ao “desafio” proposto. O bloco pode surpreender”.

 

A saída ou financiamento do novo ciclo da economia dos EUA passa, como aponta Sergio, pelo enxugamento da nova liquidez, apenas num dia, a Petrobrás captou 7(sete) bilhões de Dólares, o que bem observa o jornalista Celso Ming, que é o efeito da farta oferta de dólar, óbvio, que ele não vai ligar ao que nos interessa, mas demonstra nos dar a fonte:..“o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) faz de tudo para garantir farta liquidez. Seu presidente, Ben Bernanke, acaba de avisar não só que os juros básicos seguirão perto de zero ao menos até o fim de 2014, mas que pode colocar em marcha nova operação de recompra de títulos do Tesouro americano (afrouxamento quantitativo) – o que implicaria novas emissões de moeda”.

 

 Diz, Celso Ming, sobre o Brasil, parte dos BRICS e o grande fluxo de Capital: “Essa atuação dos grandes bancos centrais, que restabeleceu no mercado financeiro internacional o apetite por aplicações de risco, é a principal explicação para o grande afluxo de moeda estrangeira ao mercado de câmbio do Brasil. Mas não é a única. Contribui para isso o aumento da percepção de que, comparada com as demais, a economia brasileira vem tendo bom desempenho. Não é nada, exibiu em 2011 crescimento das exportações de nada menos que 26,8%, num ambiente paralisado pela crise; avanço do PIB de cerca de 2,7% (os números finais não estão disponíveis); e situação de pleno emprego como nunca se viu por aqui. Portanto, a baixa do dólar no câmbio interno não é provocada por especuladores que trazem moeda estrangeira para tirar proveito dos juros bem mais baixos – como muita gente ainda pensa”.

  

A Crise 2.0 aportou na Europa.

 

 “Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha.”Marx-Engels

O coração do Capital foi abalado nos EUA e espalhou seu mal e seus problemas para a economia mundial, particularmente pós-queda do “Muro de Wall Street” (15 de Setembro de 2008). A forma que se estabeleceu na Europa foi o imenso endividamento público das economias, particularmente as dos países mais pobres, a exemplo do que ocorre nas principais economias do bloco, porém, sem a mesma capacidade de se refinanciar. Segundo matéria do caderno de Economia do Estadão, de 24/04/2011, “A dívida de um punhado de países ricos aumentou em US$ 16 trilhões (mais que o PIB americano) desde 2007, e atinge hoje US$ 42 trilhões, ou 61% do PIB global, representando uma das principais ameaças à recuperação da economia mundial”. Segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta do governo americano saltou de 62% do PIB em 2007 para projetados 99,5% em 2011 (e deve chegar a 112% em 2016). “Hoje, a dívida está entre US$ 14 trilhões e US$ 15 trilhões.”

A Crise foi exportada para o outro centro do Capital, a Europa, mais especificamente a Zona do Euro, ainda mais particularmente, para a Alemanha, que parecia se livrar dos efeitos da crise, era uma falsa ideia. A Crise é precisamente lá, enquanto os países secundários caem desesperadamente, mais a Alemanha cresce, a meu ver, ela mais fica encurralada. Pois, seus mercados cativos, todos caíram. Em menos de 10 anos, o superávit comercial alemão ultrapassou 1 trilhão de Euros, porém com a queda dos EUA, dois anos depois(2007) os mesmos sintomas da superprodução abalou a Zona do Euro. Com um agravante ainda maior, do que nos EUA, não há centralidade política ou fiscal, apenas um amplo acordo de moeda única e “livre comércio” que deve ser lido como: da Alemanha para os demais.

Fonte: OCDE

Os países mais pobres, de baixo PIB, como Irlanda, Portugal e Grécia, que juntos não chegam a 4% da economia do Euro, mesmo causando certo estrago não abalaria a Europa como um todo. Mas a questão não se restringiu a eles, o efeito em cadeia levou ao solo Espanha e ameaça também derrubar de vez a Itália, economia com alto porte, que representam mais de 25% do PIB da UE. A Alemanha e seu sócio menor, a França, dirigem os rumos da Crise, com um desequilíbrio violento na lógica de funcionamento da Zona do Euro, os países se tornaram completamente dependentes da Alemanha, sua poderosa indústria e de seus bancos, em parte também da França. Os banqueiros dos dois países são credores majoritários das dívidas de Espanha e Itália, assim como eram de Irlanda, Portugal e Grécia. Aqueles empréstimos dados a estes países no fundo servem apenas para garantir os créditos de Alemanha e França.

Martin Wolf, principal editor e principal editor do Financial Time escreveu o provocante artigo: “Opções inaceitáveis na zona do Euro” em que, logo na primeira frase diz:  “A zona do euro, como foi concebida, fracassou” e mais relevante sintetizar num parágrafo a concepção central do Euro: “Supostamente, a zona do euro deveria ser uma versão atualizada do padrão-ouro clássico. Países com déficit externo recebem financiamento privado do exterior. Se esses financiamentos secam, a atividade econômica diminui. O desemprego, então, provoca queda dos salários e preços, provocando uma “desvalorização interna”. No longo prazo, isso deveria proporcionar saldos financiáveis nos pagamentos ao exterior e nas contas fiscais, embora somente depois de muitos anos de sofrimento. Na zona do euro, porém, grande parte desse financiamento flui por meio de bancos. Quando a crise vem, os setores bancários famintos por liquidez começam a entrar em colapso. Governos sujeitos a restrições de crédito pouco, quase nada, podem fazer para impedir que isso aconteça. Esse, então, é um padrão-ouro mantido por esteróides injetados no setor financeiro.

 Economias falidas

O reflexo deste imenso endividamento é a degola das economias mais periféricas, como Grécia, Portugal, Irlanda e mais presente Espanha. Estes países que receberam grande inversão de capitais para se adequar à zona do Euro, hoje estão totalmente insolventes, tecnicamente falidos, vivendo da esperança de aporte da Alemanha e do FMI. As imensas subvenções europeias ao sistema financeiro fez saltar o déficit publico de 3,3% em 2007 para 6% em 2009 e 2010, com cortes orçamentários para 2011 reduzir para 4,4%, sobrando assim pouco alento em salvar estes países que irremediavelmente sofrem todas as consequências do desastre econômico, apenas Espanha tem mais de 25% da população economicamente ativa desempregada. Portugal numa crise de governabilidade.

Esta realidade catastrófica foi exposta no momento de aparente calmaria, depois do colapso profundo de 2008 e 2009, 2010 ficou numa zona de baixa turbulência até o começo da queda em sequência de Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha.

Crise e Novo Ciclo do Capital

A reação à crise se deu em 2008/2009 com o Estado via FED e BCE salvando a economia do caos, o novo ciclo se abre ali, agora estamos percebendo, de forma ainda dessincronizado (Europa em queda) este novo momento. É consistente, qual a duração deste novo ciclo? Algumas conclusões:

1)    O patamar de partida, pelo menos dos EUA são os preços de 2005, o que concluímos que a queima de forças produtivas foi de cerca de 1/3 da economia. Voltamos ao jogo com 9,1% de desemprego (número máximo) nos EUA com salários achatados em mais de 25%. É daqui que se parte.

2)    A Europa, exceto Alemanha e em função dela, passa por um profundo ajuste, uma queda real, que deve ser similar ao que aconteceu nos EUA, alguns países até maior a queima de forças produtivas, pois viviam um padrão econômico irreal, sustentado por uma moeda forte;

3)    Os BRICS são a novidade deste novo ciclo, mas algumas preocupações graves se apresentam, o mesmo Capital que anima a economia do Brasil, por exemplo, é o mesmo que suga as taxas de lucros locais, as empresas estrangeiras mandando divisas para matrizes, uma espécie de “swap” a estes dólares que entram;

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