Arnobio Rocha Política A Perda da Inocência (Revolução) II

466: A Perda da Inocência (Revolução) II


A revolução Sandinista que  influenciou a esquerda latina.

A revolução Sandinista que influenciou a esquerda latina.

O ano é 1985, mais ou menos em maio daquele ano, estava cursando Telecomunicações na Escola Técnica Federal do Ceará( ETFCE, depois CEFET, hoje, IFES-CE), tinha 15 anos, breve 16, participei do meu segundo congresso da Umes,  mas agora com alguma convicção política. Vivia flutuando entre os pró-soviéticos ( Prestistas ) e os Trotskistas ( Alicerce – depois Convergência), sem me definir ainda. Naquele ano, vi que precisamos ler mais, saber o que realmente deveria abraçar, com quem me “organizar”.

O segundo semestre foi mais do animado, a primeira eleição direta para prefeito das capitais, em Fortaleza, os coronéis estavam em baixa, parecia que o PMDB ou PFL ganharia com facilidade, aí surge uma figura linda e carismática de Maria Luíza Fontenelle,  ex-deputada do MDB( entrismo do PC do B), que rompera com o PC do B, junto com PRC, entraram no PT e se candidata. Parecia que era apenas uma candidatura para marcar posição, crescer o PT, como fora a de Américo Barreira ao Governo do Estado em 1982. Mas ali era um momento novo.

A não ida ao Congresso e votar em Tancredo Neves foi fundamental ao PT, pois se mostrou coerente com as Diretas já!, em Fortaleza, cresceu rapidamente na classe média, no meio estudantil, lembro que o PC do B, que era a maior corrente estudantil, apoiou o candidato do PMDB. Porém, na base do movimento a candidatura que empolgou e virou uma febre foi a do PT. Na ETFCE, montamos um comitê no laboratório de Física, Professor Nelson e Eu, levamos Maria Luíza a um debate na Escola que foi uma festa. Dos 3% de toda campanha, mesmo dia 11/11 era este o número à vitória final dia 15/11 foi algo inesquecível.

Após as eleições fui a um congresso em Goiânia, lá acabei por me juntar de vez aos ex-Prestistas, do CGB, conforme contei no primeiro post: A Perda da Inocência (Partido) I. Aqui não se trata de uma mera adesão, mas assumir ideologicamente o campo da antiga URSS, isto em 1985, já quase na posse de Gorbachev. Esta definição vai marcar minha militância para sempre. Logo a seguir vieram a Glasnot e Perestroika, um assombro para todo o mundo, em particular aos que estava no campo pro-soviético, imaginem a ginástica para explicar cada coisa.

Os anos seguintes que mais crescemos na militância política e ideológica, com estudos, muitos debates, nosso pequeno e dedicado grupo, maioria de estudantes universitários e secundaristas, com poucos sindicalistas, tinha muita disposição de luta. Mas, se caracterizava mais, pelo perfil intelectual, reflexo de nossas origens. O incentivo à leitura, a elaboração política, era uma herança do velho partidão. No movimento éramos conhecidos como “ratos de livros”, que, longe de ser algo pejorativo, muito nos orgulhava. Também para defender o que pregávamos tinha que ter muita convicção ideológica, claro.

Os anos de 1989 a 1991 foram pesados, quase todo nosso arcabouço ideológico ruiu, a URSS sumiu, o muro, o retrocesso generalizado. Os fatos marcantes de 1989, porém, não foi o conjunto de quedas, pois no Brasil vivíamos uma ascensão política inacreditável, a maior expressão disto era a consolidação da CUT e do PT, mais ainda, Lula ser candidato fortíssimo à presidência. Este contraponto, nos aliviava do pânico do leste. Aliás, para nós, o que lá acontecia era um aprofundamento da revolução.

A Queda

O mundo e muro caindo, menos nossa “ficha”

A ida de Lula ao segundo turno deu um certo gás, para nem olharmos que o Muro de Berlim caíra de vez, ou pensar que, o que se via no Leste era uma volta ao capitalismo, abertamente, ou se tudo aquilo não era apenas capitalismo de estado. Mesmo as divisões que aconteceram no seio do nosso grupo, ainda não tinha feito cair a ficha completamente. A derrota de Lula, para um outsider, nascido na extrema-direita, sem base social alguma, começou a pesar sobre todos nós. A ressaca prometia ser longa, mas era final de ano, teria uns três meses até a posse de Collor.

Efetivamente, o dia que posso dizer que houve a Perda da Inocência ( Revolução), foi num domingo de carnaval, 25 de fevereiro de 1990, estava em Olinda, na verdade num apartamento que alugamos em Paulista, nos preparando para irmos a Olinda quando saí uma notícia que Violeta Chamorro, vencera os Sandinista, aquilo bateu forte demais, ali sim, sentiu, agora a coisa ruiu mesmo. Foi um choque, talvez até mais forte do que a derrota de Lula, ele foi ao segundo turno, para nós era muito.

O Leste cair, não era de todo ruim, os erros duramente punidos, mas os Sandinistas, a FSLN era muito cara para todos nós, eles não tinham vínculos com o Leste Europeu, era tipicamente uma revolução latino-americana, uma construção de base, apaixonante, democrática, mantivera eleições, muitos avanços. Sua derrota, foi simbólica, pelo menos para mim. Acabado o “carnaval”, sabia que teria que me reinventar, em todos os campos: Politicamente, ideologicamente e mais ainda intelectualmente. Ali, fechou-se um ciclo, abriu-se outro.

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