Arnobio Rocha Tecnologia Cyborgs – Gênese

Cyborgs – Gênese


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“Os deuses imortais, todavia, exigiram o suor para se conquistar o mérito.
Longo, árduo e principalmente escarpado é o caminho
para se chegar até lá, mas, quando se atinge o cume,
ele se torna fácil, por mais penoso que tenha sido”.
(Os Trabalhos e os Dias – Hesíodo)

Ontem comecei uma pequena reflexão sobre o mundo virtual no artigo Cyborgs I, que caminha a passos largos para se torna o mundo real, a ideia pareceu incompleta, até porque surgiu de um pensamento que migrou para outro, agora retomo, o que pode ser o antes ou o depois, com livre escolha, e iniciar aqui ou primeiro ler o outro, mas ambos formam uma reflexão única.

A construção ética e moral da sociedade, em particular a ocidental, levou séculos, os valores gregos e romanos, seus códigos, suas relações com as divindades, a representação da natureza, os arquétipos, os mitos e ritos.  A herança cultural, literária, as artes plásticas, o teatro, o discurso e principalmente a Política – Poder e Democracia – paulatinamente se desenvolvendo, sem pressa, lentamente cozinhados.

Os impérios se sucedendo, as religiões pagãs, os cultos, os mistérios, depois o sincretismo cristão, que funde os deuses e mitos, desde os mitos egípcios, cretenses, gregos e romanos, forjando assim uma fé dominante, que encontra no império romano sua fonte de Poder. As longas sombras da idade média, os livros e a cultura da época “pagã” guardada e reproduzida nos mosteiros, nos palácios.

A Revolução Renascentista, os novos questionamentos morais, éticos e religiosos, que vão se expressar nos novos livros, a retomado do fio da meada,  as línguas que voltam à vida, as traduções, o mercado que floresce, quebra as fronteiras das cidades, o surgimento de países, nações. Rompimento da lógica local, o mundo redescoberto, as religiões reformadas e contrarreformadas. A América, as novas aventuras, os novos argonautas, agora portugueses e espanhóis.

O homem volta ao centro do mundo, suas múltiplas relações, as artes, as cidades, a política, o poder, tudo volta a ser disputado. A Revolução industrial, o que se liberta de forças criativas, os potenciais da ciência e da técnica à serviço do novo sistema, o Capital resplandece, nasce e traz consigo a dualidade de Poder/destruição. O desenvolvimento jamais visto. As guerras mais letais, a maior abundância, ao mesmo tempo a maior fome e miséria.

As tentativas de revolta, da revolução, os limites de que o sistema é mundial, a fração local não vence o todo. A incrível construção Real/Virtual de poder, o aniquilamento do humano, transformado em peça e engrenagem. A ausência do sentimento e, a última fronteira, sua completa fusão com as máquinas. As relações tornadas micro, os pequenos organismos isolados, uma contradição flagrante com o conceito do Humano: Mulheres e Homens despersonificados.

Os novos deuses e arquétipos são cibernéticos, ao abrir os olhos é ligar um device: Celular, Smartphone, Tablet ou um PC (hoje em franca extinção). O Meio Ambiente Digital é a maior preocupação, como sustentar esta vida baseada em bits e bytes. Nossas relações sociais estão baseadas nas Redes Sociais. Entramos no carro e a busca pelo caminho é feita pelo GPS, quem ainda sabe ler mapas?

Prometeu 06, a partir de textos de Ésquilo e Heiner Müller

Prometeu 06, a partir de textos de Ésquilo e Heiner Müller

O bom dia é no Facebook ou no Twitter, ou em qualquer nova rede criada, de ontem para hoje. Até uns dois anos atrás, pensava que estávamos apenas mudando os meios de nos comunicarmos, hoje estou convencido que nós mudamos de ambiente, não apenas o meio, mas vivemos um mundo e uma realidade paralela. Qual a forma que mais você “encontra” seus amigos, parentes? Quantas vezes há o encontro real ou o contato humano?

As mudanças nos levarão, inexoravelmente, para que as máquinas pensem por nós, escrevam por nós, leiam por nós, aprendam por nós, decidam por nós. Qual conjunto de valores éticos, morais e políticos estarão carregados nestes softwares que alimentam as máquinas? Estão/estarão conectadas aos nossos cérebros? Que tipo de ideologia professam/professarão? Os exércitos de Clones/Trolls em época de eleições serão mais sofisticados, manipulando o que sobrou de vida real?

Quem precisa ler um clássico, aliás, o que seria um clássico? O Google tem todos os trabalhos e análises possíveis de uma Divina Comédia, Hamlet, Ilíada, Lusíadas, Crime e Castigo. Qual impacto que causará no cérebro-máquina o diálogo entre Aquiles e Príamo sobre o destino do corpo de Heitor? Ou as altercações de Hamlet e Polônio sobre teatro? As imagens de Gustave Doré para Divina Comédia o que produz no Cyborg? Que sentido ganhará a poesia de John Milton, os pecados no Paraíso Perdido?

Tudo se tornou tão fácil, mais ao mesmo tempo tão difícil, os valores, os mistérios, a vida… Tudo ou nada está no espaço virtual, nos programas, nos sites, nas engrenagens. Reconhecer o Homem-Máquina, ciborgue, o Frankenstein, é uma constatação óbvia, mas saber o que ele é e será,  continuará sendo um mistério, uma luta.

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